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O empresariado brasileiro está mesmo fechado com Bolsonaro?

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
20 de outubro de 2022

Na contramão de pesquisas, cresce o número de empresários que votarão em Lula – para impedir a reeleição de Bolsonaro e o desmonte da democracia.

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Lula e Bolsonaro em cenário televiso, com "Eleições 2022" ao fundo
"A elite não tem a menor dúvida de que Lula foi responsável pelo gigantesco sistema de corrupção em seu governo. Ele é o mal menor para impedir a reeleição de Bolsonaro."Foto: Alexandre Schneider/Getty Images

O grupo que se viu na segunda-feira (17/10) na casa de Teresa e Candido Bracher, o ex-presidente do Itaú Unibanco, pode tranquilamente ser definido como a elite econômica e financeira de São Paulo: cerca de 600 empresários, banqueiros, diretores executivos, mas também economistas conceituados, ex-ministros e formadores de opinião se reuniram lá para escutar três pessoas.

Estas eram Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central da fase final do governo Fernando Henrique Cardoso; a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula Marina Silva; e Simone Tebet, terceira colocada no primeiro turno e, portanto, excluída da eleição presidencial.

Diante da elite paulista, os três explicaram por que votarão em Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno, em 30 de outubro. Por um lado, isso é espantoso, pois no passado os três foram ferozmente atacados ou pelo Partido dos Trabalhadores de Lula ou pelo ex-presidente em pessoa.

A guerra de mentiras no segundo turno

Quando Fraga assumiu seu posto à frente do Banco Central, durante as fortes turbulências em seguida a 1999, o PT predisse que o antigo investidor de George Soros seria uma raposa tomando conta do galinheiro. Durante a campanha presidencial de 2014, o partido insinuou que Marina pretendia dar fim ao programa social Bolsa Família e tirar o pão da boca dos pobres. Tebet foi várias vezes classificada pela esquerda brasileira como integrante do lobby do agronegócio e da oligarquia política conservadora.

Agora, contudo, todos os três deixam claro que votarão em Lula no segundo turno, pois senão a democracia do Brasil estará em perigo. Fraga explicou que, enquanto economista liberal, na verdade pretendia se abster, mas que agora tal não é mais possível: é demais o que está em jogo.

Marina explicou ser preciso impedir a reeleição de Bolsonaro para se conter o empobrecimento dos brasileiros e o desmonte da democracia. E Tebet contou como, após a vitória bolsonarista em 2018, ela presenciou diariamente em Brasília o presidente tentando enfraquecer cada vez mais o Estado de direito e a democracia.

"Mais fácil conter a corrupção do que reconstruir a democracia"

Tais declarações não foram surpreendentes, uma vez que nas últimas semanas todas as três personalidades já haviam declarado seu apoio a Lula. O inesperado foi, antes, elas as terem feito perante um público que, em sua maioria, jamais votou em Lula ou no PT.

É a elite do país – liberal, conservadora, mas, ao mesmo tempo, sofisticada e intelectualmente aberta – que tem que visivelmente se forçar a votar em Lula. Para ela, o petista não é um portador político de esperanças. A elite não tem a menor dúvida de que Lula foi responsável pelo gigantesco sistema de corrupção em seu governo. Ele é o mal menor para impedir a reeleição de Bolsonaro.

Isso é novo: ainda alguns meses atrás, a maior parte dos representantes dessa elite dissera que iria se abster nas eleições, ou até mesmo votar em Bolsonaro, por temer que Lula tentasse mais uma vez imiscuir um aparato de corrupção no Estado.

Fernando Reinach, conhecido bioquímico, administrador de fundos e investidor em startups também esteve no evento. A seu ver, não há dúvida de que a principal meta de Bolsonaro é dissolver a democracia e virar um ditador. Portanto, "é mais fácil controlar a corrupção do que reconstruir uma democracia", diz.

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.