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O destino dos animais em meio à guerra na Ucrânia

3 de abril de 2022

Luna, uma cachorrinha de seis meses, agora vive feliz na Alemanha, após fugir de Kharkiv com seus donos. Porém, a maioria dos animais não tem essa sorte e depende dos esforço de voluntários para se manterem seguros.

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Uma jovem mulher segura um cachorrinho. Ao lado dela estão dois meninos e um homem, que também segura um cachorrinho
Luna com sua família em Colônia, ao lado de Jan e sua cadelinha WandaFoto: Oliver Pieper/DW

Talvez Luna nunca se esqueça das duas semanas em fuga: a agitada partida de sua casa na metrópole ucraniana de Kharkiv, a viagem de trem em vagões lotados nos braços de Adana, de 21 anos, com quatro gatinhos recém-nascidos enrolados em um cobertor no assento ao lado e a chegada em Colônia, na Alemanha, após paradas em Hannover e na Polônia.

Agora, Luna corre por um apartamento no norte de Colônia, pula em uma cadeira com um salto gigante, volta para o chão como uma bola quicando e dali, pula para o sofá. Luna é um Jack Russell Terrier de apenas seis meses de idade. Para Adana, que fugiu da Ucrânia com sua mãe e dois de seus irmãos mais novos, ela tem sido mais do que uma cachorrinha: é um raio de esperança, uma tábua de salvação, uma base sólida em tempos sombrios.

"Quando estamos muito tristes, brincamos com ela. Luna nos dá sentimentos positivos e nos ajuda a processar emoções ruins", explica Adana.

Convivência internacional

Luna foi um presente de Ano Novo para Adana e seus três irmãos – o mais velho, de 18 anos, teve que ficar na Ucrânia. A família considerou brevemente deixar a Jack Russell Terrier com ele em Kharkiv, mas mudou de ideia.

Ao chegarem completamente exaustos na estação central de trens de Colônia, foi Luna quem indiretamente ajudou os donos a encontrarem onde ficar. Jan, que trabalha como voluntário no auxílio aos refugiados, viu a cachorrinha e soube na hora que precisava ajudar a família.

"Imaginei como seria ser um refugiado e ter que fugir. Claro que também levaria meus dois cachorros comigo. Li que é difícil, principalmente para famílias com animais de estimação, encontrar acomodação", conta Jan.

Agora, Luna, vive e brinca com os animais de estimação de Jan: Wanda, que veio de Londres, e Lilou, de Paris. Todos são da mesma raça. Jan é fotógrafo e rapidamente esvaziou seu estúdio para dar espaço à família refugiada.

A primeira visita oficial de Luna na Alemanha foi ao veterinário. "Nós a vacinamos contra raiva porque sabíamos que ela ainda não havia sido vacinada", diz Jan. "Dois dias depois, meu veterinário me ligou e disse que Luna também precisava ser microchipada e ficar em quarentena por três semanas."

Luna está registrada com seu microchip desde a semana passada. O procedimento foi possibilitado graças à organização humanitária Blau-Gelbes Kreuz, que já trouxe mais de 400 refugiados ucranianos para Colônia.

Uma pessoa segura um cachorrinho e outra faz carinho nele.
Abrigo de animais em Berehove, na Ucrânia, perto da fronteira com a HungriaFoto: Luisa Schlepper

Separação dos donos

Mas Luna teve sorte. Se uma família com animais de estimação vai para um alojamento coletivo em vez de um privado, como Ariana e sua família, a maioria dos pets precisa ser separada de seus donos e ir para abrigos específicos de animais. Uma das razões é que, ao contrário da Alemanha, a Ucrânia não é considerada livre de raiva.

Isso desencadeia outros dois problemas: ameaça sobrecarregar os abrigos de animais alemães, onde eles são vacinados e permanecem em quarentena, e configura um novo trauma para as famílias de refugiados que, em meio a tantos problemas, são afastados de seus animais de estimação.

"Todos os ucranianos que puderam fugir para cá com seus animais devem ter a oportunidade de serem acomodados juntos com eles. A separação seria um fardo adicional para humanos e animais, que deve ser evitado a todo custo", afirma Thomas Schröder, presidente da Associação Alemã de Bem-Estar Animal. Ele contatou a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, que prometeu cuidar do tema.

Provavelmente, nunca na história houve tantos amigos de quatro patas em uma fuga em massa – e a Alemanha não estava pronta e nem esperava por isso.

Pessoas carregam sacos de ração
Terveer levou 18 toneladas de ração para a UcrâniaFoto: Luisa Schlepper

O destino de animais em abrigos ucranianos

Babette Terveer, presidente da organização de bem-estar animal Notpfote Animal Rescue, é ativista dos direitos dos animais e se prepara para sua segunda viagem à Ucrânia para salvar cães.

"É inacreditável que nós transferimos a responsabilidade dos animais em fuga para países como Hungria e Polônia, que já têm problemas com o bem-estar animal. Por causa da raiva, a Alemanha não permite que animais de abrigos da Ucrânia entrem no país diretamente, exigindo uma quarentena de 30 dias em países da União Europeia como a Hungria. E lá temos que vacinar os animais novamente, mesmo que suas vacinas do abrigo de Kiev sejam válidas e documentadas", conta.

Há duas semanas, Terveer se dirigiu à Ucrânia com um caminhão, quatro vans e 18 toneladas de ração animal. Ela descarregou a ração a cerca de 15 quilômetros da fronteira húngara-ucraniana e resgatou 35 cães de abrigos de animais em Kiev. Depois, levou-os para um abrigo na Hungria, para que cumpram quarentena. Além disso, na volta, transportou seis refugiados com seus animais de estimação, entre eles uma mulher que é inseparável de sua velha pastor alemão de dez anos.

"Muitos dos animais são simplesmente colocados em sacolas de compras na correria da fuga. E há também os voluntários, que se arriscam e dirigem para Kiev a cada poucos dias para retirar de 10 a 15 cães por viagem", relata a ativista.

Uma mulher loira sorri e abraça sua cedela. O animal usa fucinheira
Ludmilla e sua pastora alemã Elsa estão agora em StuttgartFoto: Luisa Schlepper

Três ursos transportados para a Alemanha

Mas o que acontece com os amigos de quatro patas que não são animais de estimação, pesam mais de 100 quilos e ficaram presos no meio da guerra? Alguns têm a sorte de contar com pessoas como Magdalena Scherk-Trettin. Ela é a coordenadora do projeto de vida selvagem da organização de proteção animal Vier Pfoten.

"Estávamos em contato próximo com nossos parceiros na Ucrânia mesmo antes do início da guerra e, portanto, estávamos preparados para o pior. Após o início da guerra, fomos contatados por uma organização que administra um santuário na região de Kiev com sete ursos. Estávamos com muito medo de que algo acontecesse com os animais. Então, os levamos para nosso santuário perto de Lviv [cidade ucraniana próxima à fronteira com a Polônia]".

Um urso apoia duas patas em uma árvore. Outro urso está ao lado.
Popeye e Asuka brincam em um parque de ursos na TuríngiaFoto: Vier Pfoten

O santuário do Urso Domazhyr cuida de cerca de 30 ursos resgatados de cativeiros na Ucrânia. Três dos sete recém-chegados seguiram para a Alemanha. Os filhotes de urso Asuka e Popeye agora brincam em um parque de ursos na Turíngia, enquanto Malvina se recupera do esforço da viagem em um centro de proteção animal no estado de Schleswig-Holstein.

"Popeye e Asuka ainda estão em quarentena, mas serão liberados em breve. Eles se adaptaram ao novo ambiente rapidamente e são muito ativos. Malvina está indo bem também, mas está um pouco preguiçosa, dormindo durante a primavera", conta Scherk-Trettin.