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O Brasil na imprensa alemã (30/10)

30 de outubro de 2019

Sínodo da Amazônia, os 12 meses da eleição de Bolsonaro e o desempenho do presidente em Davos foram destaque na mídia da Alemanha.

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Papa Francisco em meio a multidão
Amazônia é foco no sínodo do VaticanoFoto: Imago Images/Independent/Catholic Press/M. Migliorato

Die Zeit – Revolução a partir da floresta tropical, 24/10/2019

O papa quer uma Igreja amazônica, contra toda oposição. No sínodo episcopal em Roma, falamos com participantes da Região Amazônica. Alguns arriscam a vida pela causa justa. Não se deve imaginar que seja como nas manifestações pelo clima na Europa Ocidental, aonde a gente vai, manifesta a própria opinião e ainda angaria aplausos dos jornais. Lá, de onde eles vêm, proteção climática – ou o que a Igreja denomina "preservação da Criação" – é um perigo de vida.

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Mas não se deve imaginar que seja como nas manifestações pelo clima na Europa Ocidental, aonde a gente vai, manifesta a própria opinião e ainda angaria aplausos dos jornais. Lá, de onde eles vêm, proteção climática – ou o que a Igreja denomina "preservação da Criação" – é um perigo de vida.

No caso da brasileira, foi também fuzilado um amigo que estava de visita. E por isso, também o encontro de três semanas sobre a Amazônia, no Vaticano, que dura ainda até o próximo domingo, é uma questão de vida ou morte.

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Dom Erwin [Kräutler, bispo emérito do Xingu] como o chamam, gosta mesmo de fazer piadas. Assim como muitos de seus irmãos de cargo da Amazônia, o religioso de 77 anos, com a singela cruz episcopal de madeira, chama a atenção por sua serenidade, afabilidade, abertura. Talvez seja preciso ser assim, para aguentar a ameaça dos que só veem na floresta tropical um reservatório de riquezas naturais. Indagado sobre o que foi o pior em sua época no Brasil, Kräutler diz, com simplicidade: "Os assassinatos das pessoas a que eu tinha me afeiçoado."

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Irmã Irene [Lopes dos Santos, contato da Conferência Episcopal com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi)] teme que, após o sínodo, a situação vá piorar para a Igreja no Brasil – sobretudo se as resoluções vaticanas forem contra os interesses dos regimes locais. Além disso, quanto mais ecológico e crítico ao capitalismo for o sínodo, tanto mais perigoso é para os sinodais da Amazônia. Apesar disso, ela é uma dos que apoiam Kräutler. Pois há poucos corajosos como ele.

Der Spiegel – O mestre-demolidor, 26/10/2019

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Faz um ano que Jair Bolsonaro venceu a eleição presidencial no Brasil. Desde janeiro ele desempenha as funções do cargo, e é raro um chefe de Estado que tenha danificado a imagem de uma nação de forma tão veloz e duradoura quanto ele.

O Brasil, que por muito tempo foi um país emergente em ascensão, é hoje um obscuro Estado pária, em que fanáticos conservadores travam uma campanha de guerra contra um inimigo que só existe na própria imaginação. O que está em questão não são praias limpas ou florestas intactas: para Bolsonaro, o que conta são os interesses dos latifundiários, dos industriais e dos que lhe são devotados.

Em menos de um ano, Bolsonaro executou uma gigantesca reconfiguração da administração; ministérios foram "saneados" com minúcia digna de um golpe de Estado, repartições foram cooptadas e destruídas. Quem pareceu ser desleal ao presidente ou ousou criticá-lo publicamente foi colocado para fora ou numa posição mais insignificante na hierarquia. Num país cuja elite política foi esfacelada nos últimos anos, Bolsonaro conseguiu se encenar como o que colocava a casa em ordem.

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Essa "bolsocracia", cujos contornos se tornam gradualmente visíveis, é um Estado em que pregadores evangélicos determinam o que é bom ou mau. Minorias que não se curvem, vivem no medo. Cientistas, artistas e jornalistas súbito esbarram novamente nas fronteiras da censura estatal. A regressão é tão grande, que alguns brasileiros se sentem como catapultados de volta aos tempos da Guerra Fria.

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Olho no olho com Bolsonaro, 28/10/2019

(Sobre o documentário Das Forum, de Michael Vetter, estreia em 5 de novembro nos cinemas alemães)

Jair Bolsonaro está confuso. Recém-eleito e – disso só sabem os mais próximos – não tão bem de saúde nesse momento, ele viajou em janeiro de 2019 para o Fórum Econômico Mundial, em Davos. O que lá vê e ouve não lhe agrada. Primeiro, ele faz um rígido discurso sobre seu plano para o Brasil, e quase não há aplausos.

As preocupações com a floresta tropical dominam os pensamentos dos ouvintes. Se fosse possível vaiar aplaudindo, os políticos, empresários e representantes da cultura reunidos em Davos teriam acabado de inventar essa forma de manifestar desagrado.

Então Bolsonaro tem que seguir adiante, para um encontro numa roda menor, embora não pequena. Porém a sala em questão ainda não está livre, é preciso aguardar de pé diante da porta, num espaço apertado. Bolsonaro espera ali por seu ministro da Economia e um tradutor.

O ex-vice-presidente americano Al Gore aproveita a oportunidade: "Sou muito amigo do Alfredo Sirkis!" Segue-se a tradução, um olhar de Bolsonaro: "Oh, ele foi meu adversário numa confrontação militar." Ao que Gore revida: "Então me dirigi à pessoa errada." "Ah, tudo bem..." "Desculpe, mas eu gostaria de conversar com o senhor sobre a Amazônia, é um assunto realmente muito importante para mim." "É, a Amazônia abriga um tesouro de recursos... Com os Estados Unidos, podemos explorar juntos esses recursos." E Gore, ligeiramente consternado: "Não estou certo se entendi bem o senhor..."

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Bolsonaro ainda travará mais alguns espantosos diálogos com outros convidados de Davos. Também Jennifer Morgan, a copresidente da Greenpeace International, está presente. Antes, ela anunciara que ia aproveitar Davos para repreender os presentes, pois sua paciência chegara ao fim. No entanto, ela se dirige bem dócil ao presidente do Brasil: "Escutei falar de sua intenção de proteger a Amazônia, e fico muito feliz por isso."

O que o ministro da economia brasileiro [Paulo Guedes] diz a seu presidente, depois de todo esse apertar de mãos, o diretor Vetter preferiu cortar da versão final de seu filme, a pedido de [o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus] Schwab. Seria ofensivo demais. Essa impressão geral já basta: para a comitiva de Bolsonaro, Davos não é grande coisa.

AV/ots

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