O Brasil na imprensa alemã (13/11)
13 de novembro de 2019Berliner Zeitung – Lula da Silva: adversário do homem forte (11/11)
Foi um retorno combativo, da prisão para o cenário político no Brasil. Diante de milhares de apoiadores em São Bernardo do Campo, no sul de São Paulo, Lula da Silva apareceu somente um dia após sua soltura, que veio de surpresa: "Eu estou de volta", bradou o ex-presidente de 74 anos no último sábado, visivelmente mais magro e com nova namorada.
Seu discurso de 45 minutos em cima de um caminhão em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos foi transmitido ao vivo pela internet e TVs fechadas. Agora está claro que o ex-presidente vai embaralhar a política brasileira e buscar o confronto com seu arqui-inimigo, o chefe de Estado radical de direita, Jair Bolsonaro. Mais ainda não se sabe quanto tempo Lula pode ficar livre.
No sábado, ele prometeu conseguir a anulação de suas sentenças e processos. Especialmente porque há evidências de que foi um processo politicamente motivado, para afastá-lo da candidatura presidencial no ano passado. Antes de desaparecer na prisão, Lula da Silva estava à frente em todas as pesquisas.
As palavras de Lula estavam cheias de raiva, mas também de espírito de luta. "Se nós trabalharmos direitinho, em 2022 a chamada esquerda que o Bolsonaro tanto tem medo vai derrotar a extrema direita que nós tanto queremos derrotar." Lula também anunciou planos de viajar por todo o Brasil nas próximas semanas. Foi um discurso de campanha sem que houvesse uma campanha eleitoral.
Frankfurter Allgemeine – Libertar o país da loucura (13/11)
Pouco antes de Luiz Inácio Lula da Silva deixar a prisão na noite de sexta-feira, ele postou um vídeo em seu perfil no Twitter. A postagem mostra o ex-presidente de 74 anos concentrado correndo numa esteira, treinando com halteres e levantando pesos. No fundo escuta-se Eye of the tiger, a música do filme Rocky 3. Ele tem a energia de um homem de 30 anos, avisou Lula aos brasileiros um pouco mais tarde. Sua mensagem foi inconfundível. Trata-se de uma declaração de luta contra o presidente Jair Bolsonaro, que dominou incontestavelmente o cenário político desde a sua eleição há um ano. Lula anunciou que vai "ajudar a libertar o Brasil da loucura".
Lula da Silva não esconde suas ambições: ele tem em vista a eleição presidencial daqui a três anos. Um de seus aliados mais próximos disse que Lula não pensava em mais nada na prisão. Ainda mais claro foi José Dirceu, ex-chefe de gabinete de Lula, que foi condenado em vários casos de corrupção e agora também se beneficiou da sentença do Supremo Tribunal Federal. A luta não é mais sobre a liberdade de Lula, disse Dirceu em vídeo. "Agora é para nós voltarmos e retomarmos o governo do Brasil. E para isso nós precisamos deixar claro que nós somos petistas, de esquerda e socialistas. Nós somos o contrário do que esse governo está fazendo."
Embora a campanha para a eleição daqui a três anos já tenha começado, a oposição brasileira parece estar desorientada desde a eleição de Bolsonaro. Isso deve mudar com o retorno de seu antigo líder. Lula da Silva assumirá o comando do Partido dos Trabalhadores, também porque aparentemente a legenda não tem alternativas. Lula repetiu o que havia dito no dia de sua prisão: "Eles não prenderam um homem, tentaram matar uma ideia, e uma ideia não se mata, uma ideia não desaparece."
No entanto, o maior desconhecido no novo jogo político é ele próprio. Embora tenha sido libertado, ele continua condenado em segunda instância. Segundo a lei, como pessoa condenada, ele não pode exercer nenhum cargo político por oito anos. Então, como candidato, ele se encontra atualmente fora de questão. Lula da Silva aposta numa decisão pendente do Supremo Tribunal Federal. A corte deve decidir se o então juiz Sergio Moro agiu imparcialmente no julgamento de Lula. Se o tribunal chegar a uma conclusão diferente, o processo será anulado e devolvido à primeira instância.
Além disso, Lula da Silva foi condenado em outro processo em primeira instância; em outros sete casos, ele foi denunciado ou é réu. Ao mesmo tempo, a oposição à decisão do STF também é provocada no Congresso. Uma detenção após a condenação em segunda instância deve ser possível, defendem vários deputados e senadores. Por meio de uma emenda constitucional, eles procuram forçar uma reavaliação pelo Supremo Tribunal. No entanto, as chances de sucesso são limitadas, pois grande parte dos políticos de Brasília se encontra no banco dos réus e concorda com a decisão do Supremo Tribunal Federal.
É claro que não é impossível que Lula da Silva volte à prisão nos próximos meses. No entanto, também é possível que ele fique livre por mais tempo – ou até para sempre. O país está diante de tempos difíceis.
Tagesspiegel – Polêmica ajuda nuclear da Alemanha (13/11)
Localizado numa enseada dos sonhos, no meio dos trópicos, o complexo [nuclear de Angra dos Reis] existe apenas devido a uma parceria nuclear da época do chanceler federal alemão Helmut Schmidt (SPD). Em 27 de junho de 1975, a ditadura militar brasileira e o governo do então chanceler Schmidt assinaram um acordo de cooperação no campo do "uso pacífico da energia nuclear" – em vigor hoje. Agora, o Partido Verde alemão quer acabar com ele.
A bancada parlamentar pede em moção, iniciada pelos presidentes da comissão parlamentar do Meio Ambiente Sylvia Kotting-Uhl e Jürgen Trittin, que seja realizada uma possível rescisão do acordo nuclear em 17 de novembro deste ano, evitando assim uma renovação automática de cinco anos. Na quarta-feira, a moção será debatida na Comissão de Meio Ambiente do Bundestag (Parlamento) e votada na quinta-feira em plenário.
A moção é justificada com preocupações de segurança e uma contradição com a política alemã de abandono da energia nuclear. O complexo de Angra está localizado numa baía sujeita a deslizamento de terra na costa atlântica entre o Rio de Janeiro e São Paulo, diz a moção. "Também há proteção insuficiente contra acidentes aéreos e proteção contra catástrofes fundamentalmente insuficiente, pois a única rota de fuga, a estrada costeira BR-101, é repetidamente afetada por deslizamentos de terra em massa na estação chuvosa."
O governo alemão defende o ponto de vista de que o acordo nuclear oferece a possibilidade de "ajudar a melhorar a segurança das instalações nucleares no Brasil". Inicialmente, também eram esperados negócios bilionários para empresas alemãs, mas isso não resultou, de qualquer forma, em muita coisa – o Brasil aposta hoje principalmente em energia hidrelétrica.
CA/ots
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