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O Brasil na imprensa alemã (09/11)

9 de novembro de 2022

Jornais da Alemanha consideram vitória de Lula boa notícia tanto para a proteção climática como para a democracia. Críticas à falha de Bolsonaro em reconhecer derrota, e ao mito de que ele foi bom para a economia.

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Lula da Silva levanta a mão
"Lula seguiu as regras democráticas durante toda sua vida", frisa diário conservador "Frankfurter Allgemeine Zeitung"Foto: Andre Penner/AP Photo/picture alliance

Die Zeit – Floresta e eleição (03/11)

A vitória de Lula é boa para a Amazônia e, portanto, para o mundo. Mas ele também pode curar seu país?

O fato de Lula da Silva, esse velho obstinado da esquerda latino-americana, ter vencido as eleições brasileiras fez grande parte do mundo suspirar aliviada. Esta eleição também preocupava muito o mundo. Pois a vitória de Lula era, sem dúvida, a última chance para a Amazônia, cuja preservação é tão crucial para o clima e a biodiversidade.

O presidente atual, Jair Bolsonaro, havia explicitamente deixado a maior floresta tropical do planeta à mercê da destruição por madeireiros, mineradoras e fazendeiros saqueadores; enquanto Lula assumiu um compromisso sério com a proteção da floresta já na noite da eleição, que pode até chegar ao reflorestamento parcial. Ele também quer exigir fundos internacionais maciços e apoio técnico para isso. É por este motivo que no último minuto se fez convidar para a conferência do clima no Egito.

Pelo menos tão ameaçada como a floresta tropical está a democracia. Mas o mundo democrático pode ter esperanças de obter de Lula um comportamento muito diferente: que ele encontre uma receita para desfazer o dano imposto à democracia brasileira nos últimos quatro anos.

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Os exemplos mostram a velocidade com que um regime de ultradireita pode atualmente erodir uma democracia e suas instituições. Eles também mostram o quão sobre-humanas são as expectativas que pesam sobre Lula: que, com sua mistura de carisma e mentalidade representativa, apelos à reconciliação nacional e negociação paciente na velha tradição sindical, encontre um antídoto para o veneno da era Bolsonaro.

Se ele fracassar, Jair Bolsonaro ou seus imitadores voltarão em breve. Eles vão se vingar. Claro que também na floresta tropical.

Die Tageszeitung – Os vagos dois minutos de Bolsonaro (03/11)

Após 45 horas de silêncio, o presidente do Brasil derrotado nas urnas, Bolsonaro, diz que a transição de governo está prestes a começar. No entanto, ele não admite sua derrota diretamente.

O Brasil debate sobre um discurso de dois minutos. Passadas 45 horas desde sua derrota eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro compareceu diante da imprensa na tarde de terça-feira. Não parabenizou Luiz Inácio "Lula" da Silva pela vitória eleitoral, nem admitiu diretamente a derrota. No entanto, Bolsonaro se comprometeu com a Constituição e anunciou, por meio do chefe da Casa Civil, que a transferência do cargo seria iniciada.

Em seu perfil no Twitter, a Suprema Corte confirmou que, com o anúncio, o governo reconhecera os resultados das eleições. Segundo informações da imprensa, Bolsonaro teria dito em reunião com ministros da Corte: "Acabou". Em 1º de janeiro, Lula, que foi eleito no domingo e governou o país de 2003 a 2011, toma posse na capital, Brasília.

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O fato de Bolsonaro não estar buscando um grande rompimento também se deve à pressão externa. Vários aliados já reconheceram a eleição, e muitos no exterior também já contam com uma mudança de poder. O presidente dos EUA, Joe Biden, foi um dos primeiros a parabenizarem Lula no domingo.

Bolsonaro também poderia tentar abrir espaço para negociação – porque várias investigações estão em andamento contra o político de ultradireita, o que pode ser perigoso para ele, sem sua imunidade presidencial.

Wirtschaftswoche – Clima ao invés de motosserra (04/11)

O novo presidente do Brasil, Lula, quer reposicionar seu país como pioneiro em proteção climática global. Em Berlim já existem planos concretos de cooperação. Mas o maior obstáculo aguarda Lula em seu próprio país.

Os protetores climáticos do governo alemão voltam a ter esperança. E essa esperança tem sua fonte a vários milhares de quilômetros de distância. Após as eleições presidenciais, o Brasil deve voltar a ser a força motriz, uma potência líder entre os países emergentes no que diz respeito à proteção climática – bem a tempo da cúpula mundial do clima, que começa neste fim de semana na estância balnear egípcia de Sharm el-Sheikh.

"Queremos apertar a mão do Brasil muito rapidamente", diz o secretário de Estado Jochen Flasbarth, do Ministério do Desenvolvimento da Alemanha. O veterano alemão em cúpulas do clima, que já negociou no encontro várias vezes em nome da Alemanha, já tem um projeto muito específico em mente: o Fundo Amazônia para a preservação da floresta tropical, que Noruega e Alemanha congelaram há três anos. Agora, milhões devem fluir novamente, mesmo que Flasbarth ainda não queira se comprometer com quantias exatas.

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A vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva agrada aos amigos da proteção climática em Berlim e em outros lugares. Lula também tem Marina Silva, sua ex-ministra do Meio Ambiente, de volta a seu lado. E mesmo que o ícone do movimento ambientalista enfrente dificuldades, porque os conservadores ainda têm muito poder no sistema político: no exterior, muitos contam com um recomeço depois da derrota nas urnas do atual presidente Jair Bolsonaro.

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Esperança para o Brasil ( 07/11)

É bom que Lula tenha ganhado a eleição. Mas ele enfrenta tarefas difíceis.

Tem sido uma boa semana desde que o Brasil elegeu um novo presidente. Muitos dizem que os brasileiros tiveram que escolher entre a peste e a cólera. De um lado, o atual presidente populista de direita Jair Bolsonaro; do outro, o esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, ex-líder sindical e presidente do Brasil de 2003 até o fim de 2010.

Lula venceu a eleição, embora por pouco, com 50,9% dos votos. Que os brasileiros o tenham escolhido, é uma boa notícia para o Brasil e para o mundo. Porque a suposição de que Lula e Bolsonaro são ambos igualmente ruins não é correta.

Há uma diferença fundamental de qualidade entre os candidatos que nunca deve ser esquecida, apesar de todos os pontos pessoais fortes e fracos: Lula seguiu as regras democráticas durante toda a sua vida. Ele se resignou às derrotas eleitorais: antes de se tornar chefe de Estado pela primeira vez em 2003, perdeu três eleições presidenciais consecutivas. Ele resistiu à tentação de buscar um terceiro mandato ilegítimo em 2011 (a Constituição do Brasil só permite dois mandatos consecutivos) – mesmo tendo quase 90% de aprovação popular na época.

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Mesmo assim, persiste entre os empresários brasileiros o mito de que Bolsonaro fez bem à economia do país. É verdade que ele conseguiu fazer algumas privatizações e pelo menos iniciou uma reforma previdenciária. Mas na verdade Bolsonaro causou danos duradouros ao seu país. Na pandemia, recusou a compra antecipada de vacinas, apesar de seu governo ter recebido tal oferta. Resultado: em quase nenhum outro país do mundo morreram tantos pelo coronavírus como no Brasil.

Bolsonaro assustou investidores internacionais com sua retórica agressiva e não se importou com o livre comércio. E gastou muito dinheiro em caros presentes eleitorais para salvar sua presidência nos últimos metros da corrida. Uma abordagem inteiramente baseada no modelo da esquerda, que Bolsonaro tanto gosta de criticar.

md/av (ots)