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O Brasil na imprensa alemã em junho de 2013

20 de junho de 2023

Em suas análises, jornais alemães tentaram entender o que motivou os protestos que ocorreram nas grandes cidades brasileiras em junho de 2013.

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Protestos de junho de 2013
Protesto na Avenida Paulista, em São Paulo, em 22 de junho de 2013Foto: Nelson Antoine/AP/picture alliance

Süddeutsche Zeitung – O gigante acordou, 19/06/2013

O desenvolvimento do Brasil era uma história de sucesso há até cinco dias. Mas agora uma onda de indignação, como se fosse vinda do nada, cresce nas grandes cidades brasileiras.

Tudo começou em 13 de junho em São Paulo porque o preço da passagem de ônibus havia sido aumentado em 20 centavos. Isso soa pouco, mas é muito para muitos passageiros, o Brasil está cada vez mais caro.

Claro que isso foi só o estopim. Na segunda-feira houve protestos em várias cidades, de Fortaleza a Porto Alegre. Uma rebelião desse tipo a nação não via desde os tempos da ditadura, entre 1964 e 1985, ou do impeachment do chefe de Estado cleptomaníaco Fernando Collor de Melo, em 1992. "Os 20 centavos são apenas a gota que fez tudo transbordar. Tudo se acumulou ao longo de anos", diz um manifestante.

O nome dele é Leandro Ramos, ele tem 20 e poucos anos e é fotógrafo. "Precisamos de mais justiça social e mais justiça", diz Ramos. "A democracia exige mais de nós, cidadãos. A Turquia é um exemplo para nós."

A revolta em Istambul foi um motivo, assim como os 20 centavos e os estádios caros da Copa do Mundo também foram. Depois dos egípcios, dos nova-iorquinos, dos espanhóis, dos gregos e dos chilenos, de repente também os brasileiros foram em massa às ruas, e isso que eles preferem festejar. A maioria desses rebeldes não vem das favelas, mas da classe média.

Die Zeit, Cidadãos irados no Rio, 20/06/2023

O que aconteceu, qual o objetivo dos protestos, quem são os líderes? É o que se perguntam não apenas os observadores, mas também os próprios manifestantes.

Quem ouve as palavras de ordem ou os debates entre os participantes das marchas, quem lê os cartazes feitos à mão ou acompanha os debates em fóruns na internet fica com uma impressão confusa.

A ira popular se volta contra uma miscelânea de reclamações. Por que se investe tanto dinheiro em futebol e Jogos Olímpicos, se hospitais e escolas estão desmoronando? Por que os preços das passagens de ônibus sobem em São Paulo e no Rio se essas grandes cidades há muito estão se sufocando com o trânsito? Por que os brasileiros pagam impostos tão altos se quase não há serviços públicos que funcionam? Basta de políticos podres e autoridades corruptas que colocam o dinheiro dos impostos nos próprios bolsos!

Os protestos não são uma revolta dos pobres e dos trabalhadores. Parece que um novo cidadão irado brasileiro nasceu.

Die Tageszeitung, "Eu não preciso de Copa do Mundo", 20/06/2013

Os manifestantes cumpriram a sua promessa. "Se nada mudar, o Brasil vai parar", anunciavam, desde o início dos protestos, há cerca de duas semanas. Na tarde de segunda-feira, centenas de milhares tomaram as ruas de diversas cidades. Eles protestavam contra o desperdício de dinheiro público, uma política de Estado falha e políticos corruptos. Esses foram os maiores protestos em 20 anos no país que é sede da Copa das Confederações, um torneio de teste para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

Na noite de segunda para terça-feira, a ira se transformou em violência. Cenas fantásticas foram vistas no centro do Rio de Janeiro: centenas de manifestantes tomaram a Assembleia Legislativa, os poucos policiais que estavam no prédio nada podiam fazer.

Nas majestosas escadarias da entrada do prédio, pessoas encapuzadas empurravam barreiras de proteção, enquanto outras agitavam alegremente a bandeira nacional. Tiros foram disparados, e carros e barricadas estavam em chamas nas ruas próximas.

Trata-se de muito mais do que um aumento de preços, diz uma manifestante. "Simplesmente não dá mais para pagar o custo de vida." Os cartazes são claros: "O Brasil finalmente acordou", "Não é por 20 centavos, é por direitos". Ou "Eu não preciso de Copa, quero educação e saúde."

Frankfurter Allgemeine Zeitung, Ira brasileira, 20/06/2023

E agora, Brasil? Ao longo de duas décadas não houve protestos dignos de nota no maior país da América do Sul, ao menos não protestos que tenham atraído pessoas para as ruas de forma tão massiva em quase todas as grandes cidades. Mas agora se mostra o tamanho da ira acumulada ao longo dos anos. É também inegável que as manifestações de massa de cidadãos que protestaram contra seus governos inicialmente em países árabes, depois europeus, sejam um modelo para os manifestantes em São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília. Sem a "onda de indignação" do outro lado do Atlântico, o protesto contra um pequeno aumento das tarifas de ônibus no Brasil dificilmente teria ganhado uma dimensão que, hoje, ameaça provocar uma crise no Estado.

as/bl (ots)