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O Brasil na imprensa alemã (11/01)

11 de janeiro de 2023

Atos golpistas em Brasília dominam as manchetes na Alemanha. Veículos do país destacam ataque à democracia brasileira, importância cultural dos edifícios vandalizados e prejuízo político de Bolsonaro.

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Destruição no STF, imagem externa mostra pichações com os dizeres "Perdeu, mané" no edifício do Supremo e na estátua da Justiça diante do prédio.
Atos golpistas em Brasília em 8 de janeiro de 2023 foram destaque em jornais da AlemanhaFoto: Gustavo Basso/DW

Süddeutsche Zeitung – Tantos cacos (10/01)

A faxina e as restaurações em Brasília deverão terminar em breve, mas a reconstrução do ataque à democracia brasileira vai levar muito tempo. Surgem perguntas cada vez mais urgentes para as quais as autoridades brasileiras encabeçadas pelo presidente Lula ainda não têm resposta.

Por exemplo, a questão sobre os orquestradores: "Vamos descobrir quem financiou", prometeu Lula na TV. Praticamente não há dúvidas de que houve financiadores. Os vândalos de domingo (08/01) já estavam acampados há cerca de dois meses numa praça diante do QG do Exército em Brasília; lá, queriam convencer os militares a derrubar Lula. Mais de mil pessoas reunidas num acampamento durante semanas: sem financiadores, isso não teria sido possível, acredita o Executivo brasileiro.

O acampamento que foi desmantelado na segunda-feira depois que muitos dos extremistas haviam voltado para lá sem ser incomodados também é importante para a segunda pergunta para a qual o governo brasileiro insiste em obter uma resposta.

O trajeto do acampamento até a Praça dos Três Poderes é de 9 quilômetros, e os bolsonaristas já estavam de prontidão por ali há tempos. Além disso, aparentemente, o ataque já havia sido planejado há dias, com alerta emitido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), segundo a imprensa local.

Assim, na verdade, a polícia teve – ao contrário de seus colegas americanos durante a invasão ao Capitólio em Washington, há dois anos – tempo suficiente para se preparar. Mesmo assim, apenas poucos agentes faziam plantão diante das instituições, e alguns deles foram filmados conversando com os radicais, tirando fotos e deixando os bolsonaristas passarem.

Contando ou não com o envolvimento de seu círculo mais próximo, os ataques prejudicaram Bolsonaro – em todos os níveis. Sua taxa de aprovação despencou e, no final, a poderosa Confederação Brasileira de Futebol (CBF) achou por bem se distanciar dele – já que os bolsonaristas costumam usar as camisas amarelas da seleção, e os vândalos do último domingo não fizeram diferente. O uniforme é um "símbolo da alegria do nosso povo", divulgou a CBF. "Estimulamos que a camisa seja usada para unir e não para separar os brasileiros."

Der Spiegel – Atacaram justamente os prédios de Niemeyer (09/01)

É impossível ganhar uma partida de xadrez contra um pombo. Não importa se é o melhor – o pássaro vai derrubar as figuras, defecar na tábua e desfilar como se tivesse vencido. Ultimamente, tem sido assim em grandes democracias. A pergunta fascinante não é quem ganhou uma eleição, mas sim se o perdedor "reconhece" a derrota.

Em 6 de janeiro de 2021, em Washington, e em 8 de janeiro de 2023, em Brasília, viu-se onde isso pode dar.

Imagem mostra porta de vidro destruída, com sobra de um arco de cacos. Ao fundo, um policial e a Praça dos Três Poderes.
"Faxina e reconstruções em Brasília deverão terminar em breve, mas a restauração após o ataque à democracia brasileira vai levar muito tempo", escreve o diário Süddeutsche ZeitungFoto: Gustavo Basso/DW

As imagens de Washington e Brasília são assustadoramente semelhantes, do histórico até os detalhes. E, mesmo assim, dois aspectos estéticos que faltaram à invasão do Capitólio americano chamam atenção na variante tropical da manifestação autoritária. Em primeiro lugar, os baderneiros fantasiados com as cores da seleção, ou seja, a apropriação do futebol para fins de rebeldia. Em segundo lugar, o significado cultural dos edifícios atacados.

Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal em Brasília são ápices de um modernismo esperançoso, todos desenhados por Oscar Niemeyer. O trio forma o centro de poder do país, mas se apresenta com uma linguagem aberta e alegre, alheia a tudo o que é inacessível ou imperialista.

De certa maneira, o brasileiro [Niemeyer] pavimentou o caminho para edifícios monumentais solitários que valorizam tantas cidades ou enfeitam ditaduras. Em Brasília, porém, surgiu uma ideia fundida em vidro e concreto do que um Estado moderno poderia ser em seu melhor sentido – e como ele poderia ser representado. O que Niemeyer construiu lá simboliza participação, não dominação.

Por isso, os ataques a esses edifícios aerados e convidativos é, mais do que a invasão ao Capitólio americano, um ataque à própria ideia de democracia.

Contraditoriamente, uma Casa que resiste à agressão desenfreada de bandos destruidores mal poderia simbolizar um caráter de liberdade.

Tagesschau.de – Opinião: Uma ação monstruosa e patética (09/01)

Olhando para trás, foi uma ação monstruosa e, de certa maneira, patética. Milhares de baderneiros encenam uma tentativa de golpe num domingo, com os prédios governamentais vazios e um presidente que já assumiu o poder – diferentemente de Washington em 2021.

Hoje, parece que a ação mais prejudicou do que beneficiou o círculo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Alguns políticos mais próximos se distanciaram dele. Só o fato de ter havido uma versão brasileira e atualizada da invasão ao Capitólio, que vândalos puderam penetrar tão profundamente no coração da Praça dos Três Poderes – isso mostra o quanto a situação no Brasil é frágil.

O déjà-vu veio anunciado e, mesmo assim, não foi impedido. Palavras de ordem de uma suposta "fraude eleitoral" ficaram enredadas entre bolsonaristas e, aparentemente, em parcelas das forças de segurança, que assistiram à invasão impassíveis. Lula, o novo e antigo presidente, não pode confiar que está seguro, sua maioria na eleição foi muito estreita.

Um cenário que é culpa dele também. No Brasil, a lembrança dos grandes casos de corrupção do primeiro mandato de Lula ainda está muito viva. O fato de ele ter aumentado o número de ministérios para 37 é de deixar qualquer um intrigado.

Lula não pode cair em modelos antigos, há demais em jogo para a população brasileira.

rk (ots)

Como, em quatro anos, o golpismo foi construído no Brasil