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O Brasil na imprensa alemã (04/05)

4 de maio de 2022

Uso desenfreado de agrotóxicos, ataques contra indígenas e indulto a Daniel Silveira foram destaques na mídia alemã. Revista vê perdão a deputado como mais um passo de Bolsonaro em direção à "autocracia".

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Jair Bolsonaro, Daniel Silveira e Coronel Tadeu
Bolsonaro e o deputado Daniel Silveira, que se livrou de condenação por meio de indulto concedido pelo presidenteFoto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Der Spiegel – Roteiro de um autocrata (30/04)

Quando o presidente Jair Bolsonaro perdoou o deputado Daniel Silveira por meio de um decreto na última quinta-feira, muitos reconheceram que foi mais um passo do Brasil em direção à autocracia.

Silveira, um dos mais ardentes apoiadores de Bolsonaro no Congresso, havia sido condenado a mais de oito anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal no dia anterior. Os juízes o acusaram de repetidamente pedir atos de violência contra membros do Judiciário em vídeos da internet e discursos públicos de ódio.

Mesmo que a Constituição permita indultos, o fato de um presidente usar o instrumento para perdoar um de seus aliados mais próximos não é apenas uma novidade na história recente do Brasil. Acima de tudo, o ato é uma afronta com a qual Bolsonaro aparentemente tenta testar a resiliência das instituições constitucionais durante a campanha eleitoral, que aos poucos ganha tração.

A reeleição de Bolsonaro atualmente parece bastante incerta. Quase todas as pesquisas colocam o ex-presidente Lula à frente por ampla margem. Esta é uma das razões pelas quais Bolsonaro está flertando mais ou menos abertamente com a opção de um golpe de Estado. Como parte da estratégia, ele semeou dúvidas sobre o funcionamento da urna eletrônica e implicitamente ameaçou cenas como as da invasão do Capitólio, em Washington. O perdão de Silveira, um herói da "resistência" aos olhos de seus apoiadores, agora parece mais um capítulo no roteiro de Bolsonaro.

RTL – Garimpeiros estupram e matam menina de 12 anos (01/05)

Júnior Hekurari do povo Yanomami se mostra emocionado. Em um vídeo no Twitter, o presidente do conselho distrital indígena relata a informação que acabou de receber de membros de sua tribo. Em uma pequena vila na selva no Brasil, perto da fronteira com a Venezuela, garimpeiros estupraram uma menina de 12 anos de forma tão brutal que ela acabou morrendo devido aos ferimentos. Mas isso não é tudo, uma criança de 4 anos aparentemente também está desaparecida desde o ataque.

De acordo com Hekurari, os garimpeiros, que ilegalmente montaram um acampamento na região para prospectar ouro, invadiram a aldeia, atacaram a menina de 12 anos, levaram-na para seu acampamento e lá a abusaram e estupraram.

A tia de 28 anos da menina ainda tentou defender a sobrinha. Mas ela obviamente não tinha chance contra os homens. "Os garimpeiros a arrastaram para o rio com seu filho", disse o conselheiro distrital. Aparentemente, mãe e filho foram empurrados de um barco, de acordo com relatos da mídia brasileira. O menino de 4 anos foi arrastado pelas águas. Sua mãe conseguiu nadar até a margem e sobreviveu. O menino continua desaparecido. Há uma boa chance de que ele tenha se afogado no rio Uraricoera.

O presidente do conselho distrital tuitou que foi informado do incidente em 25 de abril. O crime também foi denunciado à Polícia Federal e ao Exército no mesmo dia. A polícia chegou ao local do crime em 27 de abril.

Hekurari está tentando levar o corpo da menina para um instituto médico legal em Boa Vista para uma autópsia. Isso não é fácil. Para chegar à aldeia na selva, primeiro é preciso voar mais de uma hora até um aeroporto da região. De lá são mais 30 minutos de helicóptero ou cinco horas de barco rio acima. Não há outra forma de chegar aos cerca de 200 yanomami da região.

"Estou muito triste com o que está acontecendo com meu povo", diz Hekurari em seu vídeo. A aldeia há muito está ameaçada pela mineração ilegal. Os garimpeiros que entram em território indígena para explorar a terra causam "desordem social". Os homens trazem armas, drogas e álcool para as áreas indígenas.

Berliner Zeitung – Alemanha procura munição para tanques no Brasil (27/04)

A promessa do chanceler federal Olaf Scholz de entregar armas pesadas à Ucrânia pode revelar-se sem valor. O embaixador ucraniano na Alemanha, Andriy Melnyk, disse ao Berliner Zeitung: "Não sabemos se foi um acidente. Mas o governo federal só começou a procurar munição para os prometidos tanques Gepard nesta terça-feira. Ainda não sabemos se é possível conseguir essa munição para os tanques antiaéreos rapidamente. Sem munição, os dispositivos são obviamente inúteis para nós."

A Suíça, de onde vem a munição para os tanques, havia anunciado anteriormente que, por motivos de neutralidade, não forneceria munição para os tanques. Melnyk: "O Ministério da Defesa Federal enviou uma solicitação ao Brasil para questionar se o país estaria disposto a vender a munição para a Alemanha. Ainda não recebemos uma resposta." Aparentemente, munição também está sendo procurada na Romênia. (...)

Waldeckische Landeszeitung – Nenhum outro país aprova tantos agrotóxicos quanto o Brasil (03/05)

O Brasil está usando cada vez mais pesticidas em suas terras agrícolas. Muitos desses produtos foram aprovados para uso sob o governo de Jair Bolsonaro. Isso tem consequências terríveis para a saúde e a natureza.

Grandes plantações de milho, campos de soja cada vez maiores – o agronegócio, ou seja, a agricultura em grande escala, é uma das principais fontes de renda do Brasil. Como esses enormes campos são frequentemente cultivados em monocultura, também há um grande risco de que sejam infestados de pragas. O Brasil, por outro lado, está lançando uma grande ofensiva: o maior país da América Latina pulveriza mais de meio milhão de toneladas de agrotóxicos todos os anos para proteger as colheitas. Os produtos destinam-se a prevenir danos causados ​​por insetos, ácaros ou fungos.

Quase em nenhum outro lugar do mundo os pesticidas são usados ​​com tanta frequência. "O Brasil tem o terceiro maior consumo de agrotóxicos do mundo", diz Jürgen Knirsch. Há muitos anos ele lida com a questão para a organização não governamental Greenpeace. Em nenhum outro lugar do mundo há tantos agrotóxicos aprovados como no Brasil. Desde que o presidente de direita Jair Bolsonaro assumiu o poder, o número voltou a aumentar significativamente. Mais de 500 pesticidas foram aprovados para uso apenas no ano passado. "Isso inclui muitos pesticidas que não podem ser usados ​​na União Europeia", diz Jürgen Knirsch. (...)

Nos últimos 20 anos, o uso de agrotóxicos no Brasil aumentou em seis vezes. Isso se deve principalmente à crescente influência do lobby agrícola no país. As empresas europeias também estão envolvidas nisso. Bayer, Basf e Syngenta gastaram cerca de 2 milhões de euros para apoiar o lobby agrícola do país.

"Os pesticidas são venenos para os seres humanos e para a natureza", diz Jürgen Knirsch. Estudos concluíram que a mortalidade infantil é significativamente maior em regiões do Brasil que recebem água de áreas de cultivo de soja. Além disso, há milhares de casos de intoxicação por agrotóxicos todos os anos, e uma média de uma pessoa morre a cada dois dias no Brasil como resultado. É provável que o número de casos não notificados seja ainda maior. (...)

Ao olhar para os agrotóxicos no Brasil, Jürgen Knirsch também vê responsabilidade da Alemanha. Muitas das toxinas comprovadamente prejudiciais são produzidas na Europa pela Bayer ou Basf, por exemplo. Ele descreve o fato de as empresas europeias ganharem dinheiro com substâncias proibidas na UE como uma forma de jogo duplo. As empresas estariam lucrando colocando em risco pessoas em outro continente.