O Brasil na imprensa alemã (02/06)
2 de junho de 2021FAZ – "Bolsonaro errou o cálculo" (01/06)
Talvez Jair Bolsonaro tenha se lembrado das fotos de julho de 2019. Naquela época, antes da pandemia, o presidente brasileiro celebrou junto com a equipe nacional. A torcida no Maracanã, cujos tíquetes tinham se esgotado, festejou o primeiro título da seleção em anos na Copa América. A equipe e o presidente posaram para uma foto com troféus. A mensagem por trás disso: melhores tempos estão voltando.
Quase dois anos depois, o Brasil está no auge da pandemia de coronavírus. A fome e a pobreza decorrentes da crise econômica que a acompanha são palpáveis e visíveis em todos os lugares. No entanto, Bolsonaro insiste no curso da abertura incondicional da economia e do comércio, não importa quão ruim sejam as condições do coronavírus. Oficialmente há 460 mil mortes por covid-19 até agora.
Ao contrário da Europa, o Brasil pode estar no início de uma nova onda. Além disso, o país é classificado como uma região de variantes do vírus. No dia em que a Conmebol anunciou a decisão de transferir a Copa América, abandonada pela Argentina devido à emergência epidemiológica e pela Colômbia devido à violência policial e aos bloqueios de estradas, o jornal Folha de São Paulo noticiou 61 mil novas infecções.
Bolsonaro contou que os brasileiros loucos por futebol lhe agradeceriam pela segunda Copa América em seu próprio país em dois anos. E a própria oposição tinha acabado de enviar centenas de milhares para as ruas para protestos em massa, mesmo que a maioria usasse máscaras de proteção, ao contrário dos participantes em manifestações pró-Bolsonaro. Além disso, a Conmebol promete um torneio seguro, em grande parte sem espectadores e, graças a uma doação de um fabricante chinesa de vacinas, o evento terá delegações vacinadas. Mas grande parte do Brasil considera um torneio desse tipo inapropriado.
FAZ – "Protestos contra Bolsonaro" (31/05)
No Brasil, dezenas de milhares se manifestaram contra a política de combate ao coronavírus do presidente Jair Bolsonaro. Em várias cidades, as pessoas saíram às ruas no sábado para protestar contra a forma como o presidente lida com a pandemia, bem como pedir uma campanha de vacinação mais eficiente e mais ajuda emergencial para os pobres. Os maiores comícios foram nas metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro, onde dezenas de milhares seguiram os apelos dos organizadores. Foi a primeira grande manifestação de rua contra Bolsonaro durante a pandemia.
Por muito tempo, os críticos de Bolsonaro se limitaram a demonstrações virtuais ou a bater panelas em suas varandas. Mesmo agora, devido ao risco de infecção, nem todos os partidos e organizações da oposição aderiram aos protestos de rua. A maior federação sindical do país, por exemplo, não participou. Mesmo assim, os comícios foram grandes o suficiente para quebrar o monopólio de Bolsonaro das ruas. Desde o início da pandemia, o presidente e seus apoiadores têm convocado repetidamente manifestações contra as restrições defendidas por governadores e tribunais.
As pesquisas também mostram que uma parte cada vez maior da população está se afastando do presidente. Mais da metade dos brasileiros apoiaria hoje a remoção de Bolsonaro do cargo. Já existem mais de uma centena de pedidos de impeachment. Mas a abertura e implementação de tal processo dependem em grande parte das forças do centro político, que formam o bloco mais poderoso do Congresso. Um novo elemento nesta questão é uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que iniciou seu trabalho há algumas semanas e está investigando a forma como o governo está lidando com a pandemia. Após os primeiros interrogatórios de ex-ministros, funcionários e outros tomadores de decisão, o governo foi acusado de não conseguir obter vacinas. Por exemplo, o governo rejeitou várias ofertas da Pfizer que teriam permitido o Brasil ter grandes quantidades de vacina já em dezembro.
Süddeutsche Zeitung – "Calibre danoso da Europa" (01/06)
Um mês depois, Jacarezinho foi um dos piores massacres da já sangrenta história da polícia do Rio de Janeiro. Mas, ao mesmo tempo, também não se trata de um caso isolado. Pelo contrário: em quase nenhum outro país do mundo tantas pessoas morrem em operações policiais como no Brasil. Em 2019, era uma média de 17 por dia. Para efeito de comparação: 14 pessoas foram baleadas por policiais na Alemanha durante o ano inteiro.
Juntamente com a ONG brasileira Instituto Sou da Paz, a organização Terre des Hommes da Alemanha acabou de fazer um estudo no qual investiga a extensão da violência policial, mas, ao mesmo tempo, a questão de onde vêm todas as armas que costumam matar no Brasil. Ao analisar alguns dos dados ainda não publicados, o estudo mostra que pistolas, revólveres e rifles vêm em grande parte da produção nacional. Mas, acima de tudo, se as armas têm muito poder de fogo e, portanto, são potencialmente letais, elas vêm de fabricantes na Europa, incluindo a Suíça e, muitas vezes, da Alemanha.
De fato, a Alemanha foi o maior fornecedor de armas do Brasil nos últimos anos, à frente dos EUA. De acordo com o relatório oficial de exportação de armas do governo alemão, o país sul-americano recebeu armamentos alemães no valor de 83 milhões de euros só em 2019. No ano passado, a Suíça exportou mais de 30 milhões de francos suíços em material de guerra para o Brasil. Empresas alemães e suíças como Sig Sauer, Heckler&Koch e Mowag estão envolvidas no comércio da morte no Brasil, diz a organização Terre des Hommes.
Eles venderam às autoridades brasileiras, que então usaram repetidamente os fuzis, pistolas, revólveres, veículos e equipamentos em missões mortais. Além disso, as autoridades não querem ou são incapazes de controlar as armas o suficiente. Pistolas, rifles e munições são roubados, revendidos no mercado negro ou usados em crimes e massacres.