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PolíticaNova Zelândia

Nova Zelândia tentou por anos deportar autor de atentado

5 de setembro de 2021

Homem do Sri Lanka entrou no radar das autoridades em 2016, já havia sido preso e estava sob vigilância, detalhou a premiê Jacinda Ardern. Ele foi morto por policiais.

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Primeira-ministra Jacinda Ardern em frente à bandeira da Nova Zelândia
Ardern disse que era "frustrante" que o homem tenha sido permitido a continuar livre no paísFoto: Robert Kitchin/Getty Images

A Nova Zelândia vinha tentando há anos deportar o homem que atacou com uma faca diversas pessoas na sexta-feira (03/09) em um supermercado de Auckland, maior cidade do país, que feriu sete pessoas, três das quais em estado grave. Ele foi morto a tiros por policiais no local.

A primeira-ministra Jacinda Ardern fez a revelação neste sábado, e disse que era "frustrante" que o homem, um radical inspirado pelo grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), tenha sido permitido a continuar livre no país.

A retirada do sigilo sobre o caso mostrou que o autor do ataque é Ahamed Aathil Mohamed Samsudeen, do Sri Lanka, que já havia recebido uma notificação de deportação em abril de 2019, depois de ter seu status de refugiado revogado. Enquanto o processo legal para sua deportação se arrastava, Samsudeen pegou uma faca de uma prateleira do supermercado e realizou o ataque.

Nos últimos 50 dias, 30 policiais haviam se revezado para acompanhá-lo 24 horas por dia, mas mantinham uma certa distância e demoraram mais de dois minutos para alcançá-lo depois que ele começou a esfaquear clientes do local.

Ardern, que se referiu a Samsudeen como "o terrorista" e não mencionou seu nome, fez um pronunciamento no qual descreveu os passos que a Nova Zelândia havia adotado para tentar deportá-lo.

Simpatia a ataques terroristas

Samsudeen chegou à Nova Zelândia em 2011, quando tinha 22 anos de idade, com um visto de estudante, e recebeu status de refugiado dois anos depois. Em 2016, ele entrou no radar da polícia e de órgãos de inteligência após manifestar, no Facebook, simpatia a ataques terroristas.

Durante a investigação, ficou evidente que seu status de refugiado havia sido obtido por meio de fraude, e foi iniciado um processo para retirar seu direito de permanecer na Nova Zelândia, afirmou Ardern.

No ano seguinte, ele foi detido no aeroporto de Auckland, após levantar suspeita de que estaria indo para a Síria. Uma busca policial em sua casa encontrou uma grande faca de caça e "material relacionado a propaganda" do "Estado Islâmico", segundo documentos judiciais.

A notificação de deportação foi entregue a ele em abril de 2019. Samsudeen, que se apresentava como membro da minoria muçulmana tâmil, recorreu e disse que enfrentaria "prisão, mau-tratos e tortura" se fosse enviado de volta para o Sri Lanka.

Policial em frente ao supermercado onde ocorreu o ataque
Homem pegou uma faca da prateleira do supermercado e esfaqueou sete pessoasFoto: Fiona Goodall/Getty Images

"Ele ainda estava preso nesse momento e respondendo a denúncias criminais. Por vários motivos, o recurso contra a deportação não pôde prosseguir até a conclusão do julgamento criminal, em maio de 2021", disse Ardern. A Justiça o condenou a um ano de liberdade vigiada e o proibiu de acessar a internet.

"Órgãos públicos estavam preocupados sobre o risco que esse indivíduo representava à comunidade" e as autoridades sabiam que ele poderia ser solto e que o recurso "que impedia a sua deportação poderia tomar algum tempo" para ser julgado, afirmou Ardern.

A agência de imigração do país buscou formas para manter Samsudeen detido enquanto o recurso contra a deportação não era julgado, com base na lei de imigração. "Foi muito decepcionante e frustrante quando a consultoria jurídica respondeu que essa não era uma opção", disse a primeira-ministra.

Naquele momento, Samsudeen já havia passado três anos preso e as autoridades tinham esgotado as opções para mantê-lo detido. Tentativas de denunciá-lo com base na lei antiterrorismo da Nova Zelândia falharam, e Ardern disse que mudanças nessa norma devem ser aprovadas pelo Parlamento do país até o final de setembro.

O chefe da polícia, Andrew Coster, disse que não havia sido registrado nada incomum nas ações do homem nos momentos anteriores ao ataque, e que ele parecia estar somente fazendo compras. Como Samsudeen tinha "um alto nível de paranóia" sobre ser vigiado, Coster disse que os policiais mantinham certa distância dele.

Conselho Muçulmano do Sri Lanka condena atentado

No sábado, autoridades do Sri Lanka afirmaram que iram cooperar com a investigação na Nova Zelândia "da maneira que fosse necessária", segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Kohularangan Ratnasingam.

Fontes da polícia do Sri Lanka disseram que os investigadores já haviam entrevistado o irmão do agressor, que vive na capital do país. "Estamos coletando informações sobre ele, assim como sobre qualquer outra pessoa que possa ter tido contato com ele", disse uma autoridade policial.

Em uma entrevista no sábado, a mãe de Samsudeen disse que seu filho havia sofrido uma "lavagem cerebral" feita por vizinhos que, segundo ela, vinham da Síria e do Iraque. "Sabíamos que algo havia mudado nele", disse à emissora Hiru TV.

O Conselho Muçulmano do Sri Lanka condenou o ataque em Auckland como sendo um "ato bárbaro de terrorismo". O parlamentar muçulmano cingalês Mujibur Rahman disse que sua comunidade estava entristecida com o ataque, e agradeceu Ardern pela forma como ela reagiu ao atentado.

"Sua declaração logo após o incidente desarmou a situação e garantiu que não haveria danos à comunidade do Sri Lanka [na Nova Zelândia]", disse Rahman.

Ardern insistiu que ninguém na comunidade deveria ser apontado como culpado pela violência. "Isso foi realizado por um indivíduo, não por uma fé, não por uma cultura, não por uma etnia", ela disse.

bl (AFP, ots)