Poesia
5 de julho de 2007tardes
quando alguém vinha tocar a campainha, amolador de tesouras ou
vendedor de ovos, quase indistinguíveis pelo som da campainha,
uma sombra já se tornava visível por trás do copo de leite
e perto de mim uma voz: pode deixar que eu vou.
Totentanz (Dança da Morte), livro recém-publicado do poeta renano Norbert Hummelt, pode ser lido como um inventário de momentos cotidianos, assim como os livros anteriores do mesmo autor. Hummelt escreve como se a tarefa do poeta fosse salvar as menores vivências e lembranças fadadas a desaparecer com a morte.
"A Casa Silenciosa" é o título de uma série de poemas nos quais o autor delineia no espaço da memória a ausência de quem morreu, como se o desaparecimento de uma pessoa próxima tornasse ainda mais nítido e digno de ser registrado o tempo de convivência.
"Que artista não deveria preferir figurar um anjo em vez de uma caveira?" Esta epígrafe de Lessing a outro ciclo de poemas do mesmo livro, marca a recusa do autor em abordar a morte frontalmente: "como caveira selvagem, pálido esqueleto (...) / simplesmente horrendo, repugnante. sem essa / dizia lessing! nossos artistas deveriam deixar de apreender / a morte deste modo, afinal há outras imagens disponíveis".
E as imagens apreendidas pelo autor são fragmentos do cotidiano, registrados em tom privado e confessional, ao lado de reflexões sóbrias sobre representações pictóricas e referências literárias. Os poemas de Norbert Hummelt, nascido em 1962 em Neuss, beiram a prosa e muitas vezes fazem o leitor questionar o porquê da versificação.
Totentanz, assim como livros anteriores de Hummelt, como Zeichen im Schnee (Sinais na Neve, 2001), por exemplo, raramente transcende a referência imediata, rejeitando qualquer artifício lúdico de associação formal. "Um latido ao lado, uma ambulância são / sinais de que o mundo existe": uma sentença que sintetiza o sóbrio gesto do inventário poético de Norbert Hummelt.
Norbert Hummelt: Totentanz (Dança da Morte). Munique, Luchterhand Literaturverlag, 2007; 110 p.