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Nem todos acham EUA um oásis da pesquisa

rw12 de janeiro de 2004

Apesar das críticas à qualidade do ensino e às condições nas universidades alemãs, pesquisadores que estiveram no exterior preferiram retornar.

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Muitos cientistas preferem retornar para trabalhar no paísFoto: Bilderbox

Muitos cientistas alemães que já passaram algum tempo nos Estados Unidos preferiram retornar à pátria, contestando a idéia de que "tudo é melhor na América". Apesar da constante lamentação sobre a fuga de cérebros e a evasão de intelectuais, um bom número de pesquisadores opta conscientemente pela qualidade de vida e a tranqüilidade nos laboratórios alemães. O diário alemão Süddeutsche Zeitung conversou com vários deles, que apresentaram uma série de argumentos.

Em primeiro lugar, eles destacaram a importância de chegar com saúde ao local de trabalho. O que nos Estados Unidos não é tão simples assim, considerando o trânsito caótico e a falta de segurança. Um dos retornados alegra-se poder deslocar-se na Alemanha de bicicleta até o emprego, sem sentir-se um suicida em potencial. Outro destaca a falta de segurança para as mulheres nas ruas e nos transportes coletivos americanos tarde da noite.

Os alemães também reclamam da carência de áreas de natureza para suas habituais caminhadas, uma vez que muitos bosques e praias são área particular, com entrada proibida.

Uma sala com computador

Chegando são e salvo ao local de trabalho, continuam os problemas do pesquisador alemão nos Estados Unidos. Geralmente, suas acomodações iniciais limitam-se a uma sala com computador. Apenas os especialmente cobiçados são recebidos com pacotes de mordomias. "Os materiais necessários têm de ser comprados", adverte Dieter Rombach, hoje no Laboratório de Engenharia de Software do Instituto Fraunhofer em Kaiserslautern.

Inclusive o mais simples técnico de laboratório dificilmente faz parte da infra-estrutura à disposição do pesquisador e tem de ser contratado à parte. Sua qualificação, no entanto, raramente corresponde ao alto padrão alemão, pois um estudante lá só começa a trabalhar mesmo num laboratório quando inicia o doutorado, dizem os alemães.

"Nos EUA, até um Prêmio Nobel tem que pagar o próprio selo", desabafa Helmut Schwarz, vice-presidente da Associação Alemã de Pesquisas. Segundo Sebastian Braun, mesmo os laboratórios de universidades menores na Alemanha são melhor equipados que a maior parte dos em outros países. Braun já trabalhou na França, onde professores universitários dividem sua sala de trabalho com mais um ou dois colegas.

Pão, televisão e concorrência

Forschung
Foto: AP/Bayer
Os altos preços de aluguel e gêneros alimentícios assustam os estrangeiros nos EUA. Outros sentem saudade da gastronomia nacional. Após assar o próprio pão em casa, um químico alemão, acostumado com a variedade e pureza dos pães em casa, resolveu analisar por que o produto norte-americano inchou tanto. Sua conclusão: "Muito carbonato na mistura pronta".

Habituados a um controle maior dos programas televisivos, eles criticam também "a grotesca má qualidade da televisão nos EUA, o que é sintomático para o nível de educação de muitos americanos". Não só a falta de atividades culturais, também o deficitário sistema de saúde é um choque para os germânicos.

Na lista das dificuldades apontadas pelos cientistas que preferiram retornar à Alemanha aparecem ainda as barreiras impostas a colegas de países como o Iraque ou Coréia do Norte, que não conseguem visto de entrada nas terras do Tio Sam por questões de segurança nacional. Também a pressão pelo êxito é ponto de crítica. Enquanto nos EUA prevalece a máxima "flexibilidade e liberdade de criatividade", na Alemanha há mais espaço para projetos a longo prazo.

Assim que um tema deixa de ser moda nos Estados Unidos, é preciso buscar uma nova orientação, constata Peter Gumbsch, do Instituto Fraunhofer de Freiburg. Por isso, ele não troca a segurança oferecida na Alemanha para o amadurecimento de projetos industriais. Outros revelaram que, apesar das dificuldades crescentes da pesquisa na Alemanha, preferem o clima de trabalho europeu, de maior estímulo, à acirrada competitividade americana. Regine Kahman, do Instituto Max Planck de Marburg, não vê nos EUA chances de pesquisa de grupos independentes em torno do mesmo objetivo, como na Europa.

Um dos retornados inclusive acha que a pressão pelo êxito nos Estados Unidos é tão grande que lá a falsificação de resultados de pesquisas é mais freqüente. Num balanço de vantagens e desvantagens, Rombach revela sua filosofia: "Nos Estados Unidos, a situação nunca é tão positiva como pregado. Na Alemanha, nunca é tão ruim como dizem."