Literatura infantil
16 de março de 2007Quando se fala em literatura infantil alemã para um brasileiro, os Irmãos Grimm são a primeira lembrança. É claro que os Brüder Grimm, responsáveis por coletar e publicar os contos de fada que já faziam parte da tradição oral alemã, têm um importante papel na tradição do país nesse e nos demais campos da literatura – eles são considerados "pais da filologia alemã".
Enquanto estavam apenas na oralidade, as histórias compiladas pelos Irmãos Grimm não eram dedicadas ao público infantil, tinham um conteúdo violento. Foram os dois que resolveram aproveitar a temática mágica para fundir os universos popular e infantil. O mais interessante é que os Kinder-und-Hausmärchen (Contos para crianças e para a casa), já foram publicados com ilustrações desde as primeiras edições. A tradição de uma literatura voltada para crianças, portanto, teve início junto com a tradição dos livros ilustrados.
Talvez por ser a terra natal desses pais da filologia alemã, e por que não dizer também, pais da literatura infantil, a Alemanha tem uma literatura voltada para crianças de qualidade inquestionável. Séculos depois das compilações publicadas pelos Irmãos Grimm, escritores e ilustradores continuam publicando suas novas histórias e contos, sempre devorados pelas crianças.
A questão da história ilustrada é tão importante, que até um museu ds livros ilustrados foi criado. Na cidade de Troisdorf, perto de Bonn, um pequeno castelo guarda tesouros das ilustrações, como uma coleção feita para livros da Chapeuzinho Vermelho, através dos tempos. O museu, que fica no castelo Burg Wissem, tem ainda centenas de ilustrações originais de Janosch, autor e ilustrador muito conhecido pelas crianças e jovens alemães.
Os novos Grimm
O autor, que continua a fazer sucesso, divide espaço nas estantes com nomes como Erich Kästner, mas também com os contemporâneos Paul Maar, Cornelia Funke e Peter Härtling. E muitos outros, incontáveis. São cerca de 3500 novas edições que chegam ao mercado da literatura infantil em língua alemã por ano. O difícil é saber o que vai ficar para a história como clássico e o que será esquecido em pouco tempo. E como bem diz um dos pesquisadores e curadores do Museu de Livros Ilustrados de Troisdorf, Bernhard Schmitz, uma coisa é o que a crítica premia, outra é o que as crianças gostam de ler...
Se perguntados, os pequenos leitores logo dizem que querem livros empolgantes, com suspense e engraçados. E essas características são, na maioria das vezes, encontradas nas obras de Funke, Maar, entre outros, que conseguiram encontrar a linguagem que os aproxima desse público tão exigente.
As editoras estão sempre à procura dos novos Funke, Maar ou Härtlings. Mas não faltam candidatos, tanto a escritores quanto a ilustradores, cada vez mais numerosos no país. Os livros às vezes chegam às livrarias com cara de livros de arte. De tão profissionais que são as ilustrações, acabam atraindo também o público adulto, que fica fascinado com o cuidado editorial que se tem com essas edições.
Para todas as idades
Mas não são só as obras de arte em que esses livros se transformaram encantam os adultos. O pesquisador Bernhard Schmitz citou o fenômeno que chama de literatura all ages (para todas as idades). Os livros são primeiramente pensados para o público infanto-juvenil, mas fazem tanto sucesso que caem no gosto dos adultos e ganham até edições especiais, para quem tem vergonha de mostrar que está lendo um livro " fora de sua faixa etária".
É o caso de Harry Potter, fenômeno mundial, que está nas estantes das livrarias em duas edições: uma com a ilustração normal, para os pimpolhos, e outra, com um desenho abstrato na capa, para os adultos mais tímidos.
Para todas as idades é também a exposição que o Instituto Goethe de São Paulo preparou em parceria com o museu de Troisdorf e que fica em cartaz até 1º de abril no Museu da Imagem e do Som da capital paulista. A exposição Ilustração Contemporânea de Livros Infantis na Alemanha apresenta 65 ilustrações de 13 artistas alemães – desde os conhecidos internacionalmente, como Klaus Ensikat, Wolf Erbruch e Janosch, – a artistas da nova geração.
Com as técnicas mais diversas usadas pelos ilustradores, da aquarela à criação digital, passando pela colagem, a exposição mostra a qualidade, variedade e as novas tendências da ilustração infantil de um país que leva os novos leitores tão a sério.