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Fenômeno mundial

11 de setembro de 2010

O líder de uma igreja de 50 pessoas anuncia que vai queimar o Alcorão no aniversário dos ataques de 11 de Setembro e acaba virando notícia em todo o mundo. A imprensa do EUA agora se pergunta se não exagerou.

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Jones diante do banner em que incita à queima do AlcorãoFoto: AP

O pastor cristão Terry Jones, líder espiritual de 50 pessoas numa igreja da Flórida, vai ou não vai queimar o Alcorão? Essa era a pergunta que boa parte do planeta se fazia nesta sexta-feira (10/09), depois de anúncios desencontrados na imprensa mundial sobre as pirotécnicas intenções do religioso americano.

Enquanto o suspense perdurava, nas redações dos maiores veículos de comunicação dos Estados Unidos ganhava força uma segunda questão: não teria sido melhor ignorar o pastor Jones e seu polêmico anúncio de queimar o livro sagrado dos muçulmanos?

"Há tantos malucos por aí. Todos deveriam tê-lo ignorado. A mídia respeitada deveria ter ficado de fora e a discussão deveria ter se restringido ao ciberespaço, ao qual ela pertence", disse em entrevista à CNN o estrategista republicano John Feehery.

Nos dias atuais isso é impossível, rebateu a comentarista Donna Brazile. "Hoje em dia, as notícias são produzidas 24 horas por dia. As pessoas mandam uma frase pelo Twitter e alcançam milhões. Não poderíamos ignorar essa provocação do pastor Jones de queimar o Alcorão."

Em 2008, ninguém deu atenção a uma queima do Alcorão

A tensão em torno da construção de uma mesquita perto de Ground Zero é apontada como determinante pelo professor de jornalismo Dan Kennedy, da Boston Northeastern University. Para ele, veículos de imprensa que alimentaram durante semanas a polêmica em torno da mesquita tem "uma certa cumplicidade" com o fato de Jones ter parado nas manchetes de jornais de todo o mundo.

Em artigo sobre o assunto, o jornal The New York Times lembra que evento semelhante ocorreu em 2008, quando um pequeno grupo de fundamentalistas liderados por um pastor desconhecido pôs fogo no Alcorão. E ninguém lhes deu atenção.

"Diferentemente da queima do Alcorão pela Igreja Batista de Westboro, o evento planejado pelo Sr. Jones em Gainesville, Flórida, coincidiu com a controvérsia sobre a planejada construção de um centro comunitário muçulmano em Manhattan, perto do Ground Zero", afirmou o jornal.

Para o articulista do New York Times, Brian Stelter, Jones soube aproveitar a tradicional ausência de assuntos do verão e a demanda gerada por um ciclo ininterrupto de notícias para promover sua causa anti-islâmica.

“Há mais pessoas aqui do que no culto dele”

"Perfeito! Algo para falarmos durante a falta de notícias do verão", ironizou o articulista Jason Linkins, do site Huffington Post. Ele também criticou o tratamento que a mídia americana deu ao caso. "Ontem à tarde, o líder de um microscópico culto de idiotas que anunciou planos de promover um dia 'internacional' de queima do Alcorão em Gainesville, Flórida, deu uma coletiva de imprensa para uma mídia em êxtase, que havia decidido que os seus planos idiotas eram a coisa mais importante que estava acontecendo nos Estados Unidos."

Para o professor Robert Thompson, especialista em televisão e cultura popular da Universidade de Syracuse, nos tempos anteriores à internet e à televisão a cabo, as ideias de um pastor de uma comunidade de 50 fiéis seriam ignoradas até mesmo pela imprensa local. "Ele não representa nada, é uma espécie de lunático", afirmou à agência de notícias DPA.

Argumento semelhante foi apresentado pelo porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, durante uma coletiva de imprensa. "Aqui nesta sala há mais pessoas do que num culto dele. Colocar uma câmera de televisão diante de um banner incitando à queima do Alcorão e dar a ele esse espaço: qual o sentido disso?"

As críticas parecem ter surgido efeito. Antes de Jones suspender – aparentemente em definitivo – seus planos, a rede de televisão Fox News anunciou que não exibiria imagens da planejada queima do Alcorão. Também a agência de notícias Associated Press disse que não distribuiria fotos da ação, baseando-se em normas de conduta que proíbem a cobertura de eventos deliberadamente produzidos para criar efeito.

AS/dw/dpa/afp
Revisão: Nádia Pontes