Ramadã
9 de agosto de 2010O mês do Ramadã é esperado com ansiedade pelos quase quatro milhões de muçulmanos que vivem na Alemanha. No mês sagrado, ao longo de quatro semanas, os fiéis não podem comer ou ingerir líquidos entre o amanhecer e o pôr-do-sol.
Os países islâmicos ajustam-se completamente ao período sagrado: cidades e vilas são decoradas com luzes, uma grande oferta de frutas, legumes e outras especiarias deixam os mercados nas ruas ainda mais animados. Em regiões mais quentes, as horas de trabalho se estendem pela noite, bares e restaurantes abrem somente após o anoitecer.
Mais difícil fora de casa
Em países ocidentais, os muçulmanos cumpre o mês de jejum como minoria. Em geral, a observância do Ramadã é um grande desafio, que nem todos os muçulmanos querem ou podem cumprir.
Azima Moustafa e Haidar Omar vivem há 13 anos na Alemanha. Quando morava na Síria, o casal curdo sempre cumpriu o Ramadã, mas, no novo país, é cada vez mais difícil ficar sem comer e beber no mês sagrado. "Na Síria, eu jejuei todos os anos. Também na Alemanha eu fiz o mesmo até há pouco tempo. Mas no ano passado, eu consegui manter o jejum só por poucos dias", admite Azima Moustafa. À medida que o Ramadã coincide com o verão, cada vez mais longo é o período do dia que os muçulmanos precisam aguardar para fazer uma refeição.
No caso de Moustafa, o calor e o incômodo causado pela asma contribuíram para que ela não conseguisse seguir com o jejum. Haidar Omar já não jejua há muitos anos. "Na Síria, eu cumpria naturalmente, mas desde que passei a viver aqui eu não consigo mais. Eu trabalho na construção civil, isso exige bastante força física e estou sempre com sede. Para cumprir o tempo de jejum, preciso ficar o mês inteiro em casa, mas isso não é tão fácil."
Omar, de 38 anos, sabe que seu empregador não pode ficar sem força de trabalho durante a temporada. E para Azima, de 31 anos, a situação também é complicada: com dois filhos e uma butique própria em Colônia, ela trabalha o dia todo e não tem condições de contratar funcionários.
Mesquita como fonte
Além disso, Azima diz sentir falta de um sentimento de coletividade, que dá força aos fiéis em países muçulmanos. Se estivesse em sua comunidade, na Síria, ela tem certeza que cumpriria o Ramadã. Quem precisa lutar contra esse sentimento de fraqueza e dificuldade de concentração busca apoio e sentimento de grupo nas mesquitas.
Abdelwahab Alioui é um imame da mesquita Al-Qods, na cidade alemã de Krefeld. Alioui sabe que, neste ano, vai encontrar muitos muçulmanos que não vê com frequência. "Durante o Ramadã, a mesquita recebe muito mais pessoas do que o normal. Tanto homens quanto mulheres, idosos e jovens fiéis, assim como pais e seus filhos. Para nós, líderes religiosos, também é uma oportunidade de lembrar aos fiéis suas obrigações religiosas. Isso significa não insultar o próximo, não mentir ou roubar, independente de sua filiação religiosa", diz Abdelwahab Alioui.
Enquanto para Haidar e sua esposa Azima, os limites físico são um obstáculo para o Ramadã, Mohammed Al-Ibrahim se prepara com algumas semanas de antecedência para cumprir o jejum. O médico de 42 anos vive há 20 anos em Colônia, e respeita o Ramadã todos os anos.
Para o kwaitiano, é um desafio manter o jejum na Alemanha – não apenas pelos bares e restaurantes disponíveis: "Eu vejo as pessoas comendo e bebendo, eu passo pelos bares e sinto, claro, aquele cheiro delicioso. Isso estimula o apetite e a fome fica mais perceptível. Resistir ao charme feminino, principalmente no verão, é algo muito, muito difícil." O período de jejum não se refere apenas à comida e bebida: o fumo e o sexo são também tabus até antes do anoitecer.
Cumprir o mandamento
Durante quatro semanas, os muçulmanos exercitam o autocontrole. Por um lado, essa prática tem um aspecto ligado à saúde. A fome e a sede lembram, por outro lado, a situação dos pobres, e também os ricos devem conhecer a sensação de fome. Faz parte dos deveres dos muçulmanos no Ramadã fazer doações aos necessitados.
Segundo uma pesquisa de 2005 feita pelo Centro de Estudos sobre a Turquia de Essen, 73% dos turcos muçulmanos que vivem na Alemanha cumprem com o jejum. Quem não observa esse mandamento sente uma pressão grande dentro da comunidade muçulmana. "Quem não jejua no Ramadã não é bem-visto pelos muçulmanos. Eles o censuram e não respeitam sua decisão. É uma questão entre mim e Deus", diz Azima Moustafa. Ela conta que também já foi insultada.
No Islã, entretanto, existem exceções: é dever religioso jejuar somente a partir da puberdade. Pessoas doentes e idosas, assim como aquelas em viagem, ficam dispensadas do jejum e podem compensar os dias falhos mais tarde. A abstinência dos fiéis deve, principalmente, servir à saúde do corpo, da mente e da alma.
Autora: Ulrike Hummel (np)
Revisão: Carlos Albuquerque