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Mundo chegou mais perto de um conflito, diz relatório

8 de fevereiro de 2018

Documento da Conferência de Segurança de Munique cita troca de farpas entre EUA e Coreia do Norte, rivalidade entre Riad e Teerã e tensões entre Moscou e Otan. Mudanças climáticas seguem como fator de risco.

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Foto: picture alliance/AP Photo/J. D. Ake

Especialistas em segurança raramente são otimistas – e, relatórios de segurança, menos ainda. Essa frase representa bem o tom do documento lançado nesta quinta-feira (08/02) pela Conferência de Segurança de Munique (MSC), intitulado To the brink – and back? (Até a beira – e de volta?, em tradução livre), que prevê uma nova era de incerteza no horizonte.

"No último ano, o mundo chegou mais perto – até demais – da beira de um conflito significativo", escreveu no relatório o presidente da MSC, Wolfgang Ischinger, que foi embaixador da Alemanha nos EUA e Reino Unido.

Ischinger apontou a troca de farpas acirrada entre EUA e Coreia do Norte, a crescente rivalidade entre Arábia Saudita e Irã, e as tensões contínuas entre Rússia e Otan na Europa.

"Sabotagem" americana

O último relatório da MSC deu sequência à previsão feita no ano passado de que os EUA, sob o presidente Donald Trump, poderiam perder seu papel estabelecido como garantidor da segurança internacional, agindo unilateralmente e promovendo uma visão centrada nos EUA à custa de seus aliados tradicionais.

De acordo com o documento, sob Trump, os EUA desistiram de políticas baseadas em valores compartilhados, mostrando pouco interesse em desenvolver instituições regionais ou globais que moldam as relações internacionais, e, em vez disso, favorecem laços bilaterais que atendem a seus próprios interesses.

Essa atitude está estreitamente associada com a falta de interesse da Casa Branca em avançar na diplomacia. O orçamento do Departamento de Estado dos EUA foi reduzido desde que Trump entrou no cargo, enquanto os gastos com defesa aumentaram significativamente.

"O país mais poderoso do mundo começou a sabotar a ordem que ele mesmo criou", sublinha o relatório, citando John Ikenberry, especialista em política externa americana na Universidade de Princeton, nos EUA.

Em dezembro de 2017, líderes europeus acertaram em Bruxelas uma maior cooperação entre suas forças armadas
Em dezembro de 2017, líderes europeus acertaram em Bruxelas uma maior cooperação entre suas forças armadasFoto: Reuters/Y. Herman

Nova era para a Europa

Para os europeus, a mudança política dos EUA significa fazer mais para prover sua própria segurança, incluindo repensar os gastos em defesa, racionalizar os recursos e definir uma associação de defesa.

Se os países-membros da União Europeia e a Noruega respeitassem a chamada "regra dos 2%" e investissem 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa, isso significaria um aumento de quase 50% nos desembolsos, que somariam cerca de 386 bilhões de dólares.

Mas se os exércitos da União Europeia querem se tornar mais eficientes, deverá haver uma conexão melhor entre os países. Os autores do relatório da MSC apontam para o que eles descrevem como "lacuna de interconectividade e digitalização" na Europa.

No entanto, para reduzir essa lacuna, os países do bloco teriam que investir mais fundos. E uma consolidação da dispersa indústria de defesa europeia seria crucial para fortalecer o continente.

Mesmo com tais desafios, o documento conseguiu identificar alguns aspectos positivos no horizonte. Um deles é que os Estados europeus estão cada vez mais próximos uns dos outros em algumas questões. Por exemplo, 25 países decidiram coordenar sua política de defesa e segurança em nível de União Europeia por meio de um acordo conhecido como Cooperação Estruturada Permanente (Pesco, em inglês).

Enquanto isso, França e Alemanha declararam seu desejo de projetar e construir uma nova geração de aviões de combate. Além disso, a ideia de um exército europeu comum encontrou no presidente francês, Emmanuel Macron, um importante defensor.

O relatório cita também a chanceler federal alemã Angela Merkel como um lembrete do novo dilema europeu: "Até certo ponto, acabaram os tempos em que nós poderíamos depender completamente dos outros. Nós, europeus, teremos que tomar nosso destino nas nossas próprias mãos."

Mudança climática, conflito, migração

Embora o relatório detalhe as ameaças tradicionais e não tradicionais à ordem liberal e às relações internacionais, o texto observa que as mudanças climáticas devem continuar sendo um fator importante em termos de riscos para os países. O documento apontou que 2017, que foi um dos anos mais quentes já registrados, foi marcado por tempestades, secas e inundações catastróficas.

Além disso, a retirada dos EUA do Acordo de Paris e a decisão de Washington de remover as mudanças climáticas como ameaça à segurança de sua mais recente Estratégia Nacional de Segurança é um passo na direção errada, segundo o relatório.

O impacto das mudanças climáticas nas relações internacionais vai também além dos desastres naturais. "Embora as mudanças climáticas afetem os sistemas econômicos, de segurança e políticos em todo o mundo, elas irão atuar principalmente como um 'multiplicador de ameaças' nos países com capacidades limitadas para lidar com isso", aponta o relatório.

Os países mais pobres serão particularmente atingidos. As catástrofes climáticas, especialmente as secas, continuarão tendo um efeito decisivo, especialmente em partes da Ásia e África, onde têm potencial para alimentar o conflito e, consequentemente, o deslocamento de populações.

Para a Europa, que testemunhou centenas de milhares de refugiados fazendo a perigosa jornada da África para o continente europeu todos desde 2015, isso significa adotar medidas decisivas sobre como reposicionar sua estratégia de desenvolvimento para o sul do Mar Mediterrâneo.

Compreender a natureza interconectada com as ameaças atuais e como impedi-las de se tornarem uma bola de neve continuará a ser o principal desafio para a comunidade internacional, especialmente nos próximos anos.

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