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Morre o "jornalista do século"

(lk)8 de novembro de 2002

O fundador e editor da revista "Der Spiegel", Rudolf Augstein, foi o jornalista mais influente da Alemanha: derrubou políticos e impulsionou a liberdade da imprensa como ninguém.

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Rudolf Augstein: jornalista mais influente da AlemanhaFoto: AP

"Nosso país está mais pobre sem ele", disse o presidente da Alemanha, Johannes Rau, referindo-se a Rudolf Augstein, que faleceu na quinta-feira (07), dois dias após completar 79 anos. O chanceler federal Gerhard Schröder acentuou que o fundador e editor do semanário Der Spiegel serviu de orientação para muitos de seus colegas de profissão, tendo criado uma tradição própria do jornalismo na Alemanha. O papel desempenhado pelo jornalista na Alemanha do pós-guerra é reconhecido mesmo por quem não compartilhava suas idéias e sua posição política.

A "revista de Augstein"

Der Spiegel
Capa da primeira edição, de 4 de janeiro de 1947

Augstein, nascido em 1923 e interessado em política desde cedo, questionou já num trabalho que escreveu quando era estudante do segundo grau, que a Alemanha fosse capaz de vencer a guerra. Depois de prestar o serviço militar como soldado, retornou após o fim do conflito mundial para o jornalismo, profissão em que tinha dado os primeiros passos antes de ser convocado.

Aos 23 anos, fundou o semanário Der Spiegel, do qual foi redator-chefe durante décadas e editor até a morte. Impôs à publicação desde o início um rumo definido ("somos um órgão liberal de esquerda"), tendo sido um crítico feroz da política da era de Adenauer, que ele caracterizava de "política das chances perdidas". Nas décadas seguintes, apoiou a política de Willy Brandt, de aproximação com o Leste, e foi um defensor da reunificação da Alemanha. Sua única incursão pela política – Augstein elegeu-se deputado federal em 1972 pelo Partido Liberal – durou apenas três meses.

Pivô de crise política

Rudolf Augstein verhaftet
Rudolf Augstein presoFoto: AP

Em outubro de 1962, Augstein e sua publicação foram pivôs de uma grande crise, na então ainda jovem República Federal da Alemanha, que entrou para os anais como o affair Spiegel. Depois da publicação de um artigo crítico sobre uma manobra da OTAN, a sede da revista em Hamburgo foi invadida pela polícia, Augstein e dois chefes de editoria presos por suspeita de traição à pátria.

A ocorrência repercutiu também no exterior, gerou na Alemanha protestos de representantes de todas as facções políticas. Acabou levando à renúncia do então ministro da Defesa, Franz-Josef Strauss, e ao enfraquecimento da coalizão cristã-liberal, que governava então o país.

Augstein só deixou a prisão depois de 103 dias. A democracia saiu fortalecida ao fim desses meses, que representaram a primeira prova de fogo para o Estado que se constituíra 13 anos antes. E a Alemanha ganhou um novo conceito de liberdade de imprensa. Também nas décadas seguintes, a Der Spiegel prosseguiu com seu jornalismo investigativo, apontando para escândalos e maracutaias na política e na sociedade.

Prêmios e homenagens

Autor de mais de mil editoriais – a maioria dos quais polêmicos – ao longo de seus 55 anos de atuação, Augstein escreveu também um drama, algumas poesias e inúmeros livros, nos quais se ocupou, entre outros, de Frederico, o Prussiano, e de Jesus, o Filho do homem.

É portador da Grande Cruz de Mérito da Alemanha, recebeu inúmeros títulos de doutor honoris causa e foi eleito, em 2000, "jornalista do século" pelo International Press Institute. Ao receber, em 1994, o título de cidadão honorário de Hamburgo, cidade onde ocorrera a sua prisão, comentou irônico: "Devo ser o único cidadão honorário desta cidade que já usou algemas de verdade."