1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
ViagemJapão

Monte Fuji vai impor limites e taxa para acesso a trilha

Julian Ryall
21 de janeiro de 2024

Aumento de visitantes na montanha mais alta e icônica do Japão gera problemas como lixo excessivo e acidentes com alpinistas inexperientes e mal equipados.

https://p.dw.com/p/4bTW2
Monte Fuji ao amanhecer
Muitos tentam atingir o cume da montanha ao amanhecer, provocando congestionamento na trilhaFoto: Philip Fong/AFP/Getty Images

A administração local, que supervisiona uma das rotas de caminhada mais populares para o topo do icônico Monte Fuji do Japão, vai impor um pedágio e um limite diário para o número de alpinistas, devido à superlotação das já limitadas instalações no cume da montanha, ao acúmulo de lixo e à preocupação com o crescente número de acidentes com feridos durante a escalada.

O governo da província de Yamanashi anunciou no fim de 2023 que um limite diário de 4 mil alpinistas passará a vigorar na popular trilha Yoshida, no flanco norte da montanha, a partir de 1° de julho, quando começa a temporada de escalada de verão de 70 dias.

Ao anunciar o plano, numa entrevista coletiva em 20 de dezembro, o governador Kotaro Nagasaki antecipou várias regras adicionais, incluindo a proibição de que se comece a fazer a trilha entre 16h e 2h e a introdução de um pedágio para ajudar a cobrir os custos de manutenção das rotas de caminhada e a construção de abrigos a serem usados no caso de uma erupção. 

O preço da entrada da trilha Yoshida provavelmente será definido em fevereiro, segundo o jornal Asahi, que cita o governador como fonte da informação.

Trilhas congestionadas

"Essa é uma medida para aliviar o congestionamento na trilha, já que pesquisas anteriores mostraram que a aglomeração excessiva ocorre perto do cume, quando o número de excursionistas ultrapassa 4 mil", disse Nagasaki. 

Os planos têm o amplo apoio de organizações de guias e outros grupos dedicados à preservação do meio ambiente do vulcão de 3.776 metros, reverenciado no Japão como um símbolo nacional e que recebeu o status de Patrimônio Mundial da Unesco em 2013.

Grupo de escaladores de tira foto diante de montanha
Um total de 221.322 escalaram o Monte Fuji no verão de 2023, mais da metade pela trilha YoshidaFoto: Yosuke Miura/Yomiuri Shimbun/AP/picture alliance

Tatsuo Nanai, secretário geral do Fuji-san Club, organização sem fins lucrativos criada para proteger a montanha e educar os turistas, considera "bom e ruim" limitar o acesso: "Introduzir um limite do número de montanhistas e cobrar ingresso pode dissuadir alguns de virem aqui, o que pode prejudicar a economia local. Mas, por outro lado, há uma série de problemas que precisam ser resolvidos antes que se tornem muito piores."

"Um grande problema é o lixo que as pessoas deixam para trás. Temos placas pedindo que cada um leve seus resíduos quando forem embora, mas nem todos o fazem. Em consequência, organizações como a nossa passem algum tempo recolhendo o lixo."

"Há também um número muito limitado de banheiros públicos na montanha. E os depósitos de dejetos humanos também vão se acumulando." Nanai também acredita que as autoridades têm razão em se preocupar com a possibilidade de os andarilhos se ferirem.

Temores de segurança

"O Monte Fuji pode ser muito perigoso, e acho que a maioria não se dá conta quanto. Esse é o pico mais alto do Japão e, nas altitudes mais elevadas se pode sentir os efeitos da privação de oxigênio e do mal de altitude", alerta Nanai.

Da mesma forma, muitos começam a escalar numa altitude em que o calor e a umidade do verão japonês ainda são muito sentidos e não percebem as mudanças à medida que sobem mais.

Há relatos regulares sobre turistas que começam com sandálias de praia, shorts e camisetas, e se expõem a perigo quando as temperaturas caem abaixo de zero e ventos fortes sopram nas encostas áridas da montanha.

Luke Cummings, coproprietário da Fuji Mountain Guides, concorda que o Monte Fuji pode ser implacável. "Há alguns anos, houve uma queda de rocha perto do pico, e um escalador foi morto, e acho que há mortes de tantos em tantos anos, geralmente alguém mais idoso que sofre um ataque cardíaco."

Fileira de várias pessoas em trilha montanhosa
No verão pode haver congestionamento nas trilhas do Monte FujiFoto: Shuntaro Murase/Yomiuri Shimbun/AP/picture alliance

As autoridades esperam acabar com o assim chamado "bullet climbing" (escalada a bala), disse Cummings, que já guiou grupos ao topo do Monte Fuji mais de 100 vezes. Os alpinistas "bullet" geralmente partem ao cair da tarde ou anoitecer, e escalam durante toda a noite, não parando para descansar em nenhuma das cabanas que oferecem uma pausa do clima e permitem que se durma por algumas horas. "O objetivo é chegar ao pico pouco antes do nascer do sol, embora seja notoriamente difícil acertar o momento certo."

Para quem chega cedo demais, não há abrigo, e temperaturas bem abaixo de zero. Quem se aproxima do pico tarde geralmente fica preso numa multidão que tenta completar a rota antes que o sol apareça. "Ambas as situações são potencialmente perigosas", reforça, Cummings..

Um total de 221.322 montanhistas escalaram o Monte Fuji no verão de 2023, dos quais 137.236 passaram cerca de seis horas subindo a trilha Yoshida, e os demais utilizaram três trilhas menos congestionadas. "A Yoshida é a rota mais popular, por isso o governo da província está procurando limitar os números."

"Se isso resultar em melhores instalações nas rotas, acho que será bom, e é provável que as prefeituras que abrigam as outras trilhas até o topo também introduzam sistemas semelhantes no futuro", torce Cummings.