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ConflitosOriente Médio

Milhares retornam ao sul do Líbano com início do cessar-fogo

27 de novembro de 2024

Deslocados desafiam advertências das IDF para evitar áreas previamente evacuadas. Líderes mundiais saúdam pausa nas hostilidades entre Israel e Hezbollah por 60 dias, acenando com a perspectiva de paz duradoura.

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Dois homens na boleia de caminhão num comboio no Líbano
Afastados há meses de suas casas, habitantes do sul do Líbano ignoram ordens dos militares libaneses e israelensesFoto: MAHMOUD ZAYYAT/AFP

Milhares de habitantes do sul do Líbano desalojados há meses estão voltando para suas casas em meio a celebrações, desde que o cessar-fogo entre Israel e o grupo xiita Hezbollah entrou em vigor, na manhã desta quarta-feira (27/11).

Apesar da advertência das Forças de Defesa Israelenses (IDF) para que os libaneses se mantenham longe das áreas previamente evacuadas, longos engarrafamentos se formaram nas estradas que levam à região. Pedindo paciência à população, o Exército libanês apelou para que se evitem as localidades ao longo da linha de combate e perto da fronteira, até que as tropas israelenses tenham se retirado.

Em postagem em uma rede social, a instituição afirmou que está tomando as "medidas necessárias" para implementar o cessar-fogo, e que cooperará com a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) para completar a missão. Desde o início do conflito entre Israel e o Hezbollah em seu território, os militares libaneses têm procurado manter-se neutros.

Na terça-feira, disparos de Israel causaram pelo menos 42 mortes no Líbano, segundo autoridades locais. As IDF admitiram ter aberto fogo contra diversos carros que se aproximaram de uma área restrita. A milícia Hezbollah, que conta com apoio do Irã, também lançou mísseis contra Israel, fazendo disparar sirenes antiaéreas no norte do país.

Engarrafamento em estrada do Líbano
Deslocados engarrafam as estradas para o sul do Líbano. Em alguns locais, militares de Israel dispararam para afastar motoristasFoto: MAHMOUD ZAYYAT/AFP

3.800 mortos no Líbano, 78 em Israel

Seguindo-se a dias dos mais intensos ataques aéreos e choques, o anúncio de cessar-fogo trouxe alívio à nação árabe, sendo um primeiro passo importante para a resolução do conflito regional desencadeado pelos atentados do grupo fundamentalista palestino Hamas em 7 de outubro de 2023.

O cessar-fogo de 60 dias entre Israel e o Hezbollah, iniciado às 04h00 desta quarta-feira (23h00 da terça-feira em Brasília) é resultado de negociações mediadas pelos Estados Unidos e a França, e conta com ambos como fiadores. Os respectivos presidentes, Joe Biden e Emmanuel Macron, se comprometeram a "fiscalizar para que ele seja implementado como um todo e aplicado".

Desde o início das hostilidades entre Israel e o Hezbollah em 8 de outubro de 2023 – dia seguinte aos ataques mortais do Hamas contra Israel, que desencadearam a guerra na Faixa de Gaza –, o saldo no Líbano é de mais de 3.800 mortos e 15,8 mil feridos por ofensivas israelenses.

Cerca de 3.100 dessas mortes ocorreram após 23 de setembro, com o início da campanha de bombardeios em ampla escala por Israel, que atingiu sobretudo comunidades no sul e leste libaneses, bem como o subúrbio muçulmano de Dahieh, no sul de Beirute.

A violência obrigou mais de 1,2 milhão de cidadãos a abandonarem suas casas, dos quais mais da metade migrou para a Síria, segundo o governo libanês. Em Israel, por outro lado, a troca de hostilidades dos últimos 14 meses matou 78, entre os quais 47 civis, e forçou 60 mil a abandonarem seus lares.

Presidente dos EUA Joe Biden
Presidente Joe Biden saudou cessar-fogo: "novo começo" para Líbano, perspectiva de "pausa permanente das hostilidades"Foto: Saul Loeb/AFP/Getty Images

Sucesso do cessar-fogo não está assegurado

O atual plano consiste em três etapas: uma trégua inicial, seguida pela retirada das forças do Hezbollah ao norte do rio Litani; a retirada completa das tropas israelenses do sul do Líbano no prazo de 60 dias; e, por fim, negociações entre os dois países para delimitar sua fronteira, que atualmente corresponde numa linha traçada pela ONU após a guerra de 2006.

Na terça-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, informou que seu gabinete de segurança aceitara a proposta de cessar-fogo por dez votos contra um. Pouco depois, falando a partir da Casa Branca, Biden definiu esse resultado como um "novo começo" para o Líbano, "concebido para ser uma pausa permanente das hostilidades".

Macron igualmente saudou o fechamento do acordo no X, definindo-o como "a culminação de esforços empreendidos durante muitos meses com as autoridades israelenses e libanesas, em estreita colaboração com os EUA". Para o primeiro-ministro libanês, Nayib Mikati, a trégua entre Israel e o Hezbollah seria um "passo fundamental" para a estabilidade regional.

No entanto, há dúvidas se o cessar-fogo se manterá. Netanyahu ressalvou que conta com garantias de Washington para manter a "liberdade de ação", caso o Hezbollah viole as regras. Israel está mantendo seus militares no sul do Líbano, e a Força Aérea está pronta a agir, se necessário. O equipamento antiaéreo do país se encontra igualmente de prontidão, alertou o governo israelense.

av/cn (AP,EFE,DPA)