Entrevista
26 de setembro de 2008Deutsche Welle: O que mais a preocupa ao fazer um balanço sobre a situação das Metas do Milênio em setembro de 2008?
Heidemarie Wieczorek-Zeul: O que me preocupa realmente é o fato de ainda não se ter conseguido diminuir claramente a mortalidade materna. A cada ano, morrem quase 600 mil mulheres, em sua maior parte nos países em desenvolvimento, durante a gravidez ou no parto. E também a mortalidade infantil, pois ainda há 10 milhões de crianças a cada ano que não chegam a completar cinco anos de idade.
Essa será uma das prioridades de um grupo de trabalho a ser constituído junto com o governo britânico e com o Banco Mundial, para que se possa canalizar de forma mais eficiente os meios financeiros para o sistema de saúde, os tratamentos e o acesso ao atendimento médico.
A senhora já tem idéias concretas de como o governo alemão pode contribuir?
Estamos bem ativos sob dois aspectos: somos sempre requisitados para a assessoria a países em desenvolvimento, por exemplo, para montar uma ampla rede de segurança social. Pois nos países em desenvolvimento as famílias também já não vivem mais como famílias tradicionais e por isso é preciso desenvolver, por exemplo, sistemas de atendimento à saúde para evitar que se caia na pobreza quando se fica doente.
Em segundo lugar, dispomos de um instrumento inovador de financiamento, que usamos para co-financiar os fundos globais de combate à Aids, à malária e à tuberculose: perdoamos parte da dívida dos países em desenvolvimento, se eles concordarem, e em compensação eles canalizam a metade da dívida perdoada para os fundos globais. Assim três partes saem ganhando.
E uma série destas debt swaps [conversões de dívidas], como também podemos dizer, podem ser mobilizadas adicionalmente. Isto é, as dívidas são transformadas em engajamento produtivo para a saúde.
A África continua sendo um dos problemas para o cumprimento das Metas do Milênio. Por quê?
Penso que isso se deve em grande parte ao fato de o desenvolvimento econômico, isto é, o combate à pobreza não ser tão bem-sucedido, apesar dos altos índices de crescimento, porque os mercados são muito pequenos e em parte também porque as possibilidades financeiras das pessoas lá não são utilizadas o suficiente.
Enquanto estivemos na presidência do G8 [em 2007], insistimos em que, mesmo que a África precise de assistência oficial ao desenvolvimento, ela também necessita de investimentos diretos, seja do exterior seja através da mobilização das próprias forças dentro do país.
E por isso o acesso, por exemplo, a microfinanças ou mesmo a finanças, é uma questão prioritária – fazer as finanças trabalhar pela África. E também o Banco Africano de Desenvolvimento deve ser usado para isso, é importante. Outro aspecto são as deficiências no desenvolvimento de sistemas de saúde e a falta de médicos, enfermeiras que possam realmente atender às pessoas.
As oito metas já existentes devem ser concretizadas até 2015. A senhora acredita que isso seja viável?
Elas têm de ser cumpridas. São oito mandamentos para uma concepção justa da globalização. E eu especifico isso em números: se nos Estados Unidos é possível mobilizar 700 bilhões de dólares para salvar o sistema bancário, então também tem de ser possível ao mundo mobilizar os bilhões necessários para salvá-lo da fome e da pobreza.