1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Metade dos jovens alemães não sabe quando foi a era nazista

22 de fevereiro de 2023

Pesquisa da Universidade de Bielefeld com indivíduos de 16 a 25 anos de idade mostra, no entanto, que eles são, em média, mais interessados pelo tema que grupos populacionais mais velhos.

https://p.dw.com/p/4NqPg
Jovens fazem selfie deitadas em "lápides" do Monumento do Holocausto, em Berlim
Jovens fazem selfie deitadas em "lápides" do Monumento do Holocausto, em BerlimFoto: picture-alliance/Wolfram Steinberg

Menos da metade dos jovens de 16 a 25 anos na Alemanha são capazes de dizer corretamente qual foi o período exato do regime nazista no país, aponta um estudo conduzido pela Universidade de Bielefeld divulgado nesta terça-feira (21/02).

A pesquisa também mostra que, enquanto mais da metade dos jovens conhece pelo menos três grupos de vítimas do nazismo, um em cada cinco entrevistados foi capaz de citar apenas um ou nenhum grupo. 

Algumas vítimas são particularmente pouco conhecidas. Menos de metade dos entrevistados, por exemplo, citou doentes e pessoas com deficiência, e menos de um terço as etnias nômades sinti e roma (ciganos).

Quase 80 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a universidade busca conhecer as lacunas no conhecimento dos jovens sobre o regime nazista e quais seus interesses sobre o assunto, em um momento que a Alemanha enfrenta novos desafios – restam poucos sobreviventes capazes de relatar as atrocidades do nazismo, e a mídia digital vem diluindo cada vez mais as linhas entre ficção e realidade.

Forte interesse

Apesar desses resultados, o estudo deixa claro que os jovens alemães têm um forte interesse pela era nazista, por lugares históricos e por possíveis conexões entre a história alemã e o presente. 

De acordo com o estudo, intitulado Memo, o interesse dos jovens pelo assunto é, em média, maior do que em grupos populacionais mais velhos: 63% dos jovens adultos, contra apenas 53% da média em todas as faixas etárias, afirmaram já terem se ocupado intensamente com a história do nacional-socialismo.

Segundo os autores do levantamento, a própria formação educacional e a dos pais são decisivas para a discussão. Outros fatores, como idade, sexo e origens familiares, influenciam em menor escala. A grande maioria, cerca de três quartos dos jovens de 16 a 25 anos, não questiona a importância de lidar com a história do nazismo.

"Jovens adultos são frequentemente acusados ​​de serem desinteressados por história e política. No entanto, nossa pesquisa mostra uma geração amplamente comprometida e interessada”, disse um dos autores do estudo, Jonas Rees, do Instituto de Pesquisa Interdisciplinar sobre Conflito e Violência da Universidade de Bielefeld. 

Ao mesmo tempo, de acordo com Rees, foram reveladas "lacunas sistemáticas em relação ao conhecimento muito básico dos fatos históricos".

Para Rees, a importância que a memória dos crimes nazistas tem hoje mostra "não apenas o que lembramos coletivamente, mas também o que esquecemos coletivamente".

Casal de idosos em homenagem às vítimas do nazismo
Há cada vez menos sobreviventes da era nazista ainda vivos para dar seus testemunhosFoto: Omar Marques/Getty Images

O que mais interessa

Segundo o estudo, para a maioria dos adolescentes e jovens é importante conhecer novos fatos sobre o nazismo (75%) e visitar lugares históricos (51%). Além disso, 48% gostariam que fossem feitas conexões entre o passado e o presente de forma educativa. Em termos de conteúdo, o maior interesse está nas circunstâncias sociais dos crimes nazistas e no papel e responsabilidade da população alemã supostamente não envolvida (35%).

A maioria, cerca de 60% dos entrevistados, responderam que lidar com a história nazista os tornou mais conscientes de questões como exclusão e discriminação.

Um em cada três relatou sentir-se pelo menos parcialmente discriminado na vida cotidiana. Isto aplica-se em particular aos jovens de famílias migrantes e de baixa renda e aos jovens cujos pais têm um baixo nível de escolaridade. Além disso, 44% se sentem politicamente não representados.

Preocupação com coesão social 

A maioria dos jovens entrevistados está preocupada com a coesão social na Alemanha – cerca de um terço deles não percebe coesão na sociedade. Em particular, os jovens adultos que já se confrontaram intensamente com a história do nazismo relatam terem mais compromisso com questões e desafios sociais no presente. 

No geral, o nível de comprometimento dos jovens é heterogêneo: quase 40% dos entrevistados relatam que estão pouco ou nada envolvidos socialmente. Cerca de um em cada cinco (21%), por outro lado, diz ter um forte compromisso pessoal. 

Além do empenho com a proteção do clima e do meio ambiente (43%), muitos entrevistados declararam estar comprometidos com a luta contra o racismo, a discriminação e a exclusão na sociedade alemã (22%).

O estudo Memo ouviu 3.485 jovens de 16 e 25 anos, de forma online, entre setembro e outubro de 2021 e 838 participantes novamente em setembro de 2022. A pesquisa é financiada pela Fundação Memória, Responsabilidade e Futuro (EVZ, na sigla em alemão).

"Quem se informa sobre a privação de direitos, a perseguição e o extermínio provocados pelos nacional-socialistas é mais sensível à discriminação hoje em dia. Comunicar a história é uma forma de impulsionar a solidariedade e a democracia", afirma Andrea Despot, presidente do Conselho de Administração da EVZ.

"Precisamos de ofertas interativas e participativas para o ensino de história – dentro e fora da escola", acrescenta.

Movimento político nascido na Primeira Guerra Mundial, o regime nazista governou a Alemanha a partir da ascensão ao poder de Adolf Hitler, em 1933, e seguiu até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. 

O termo "nazismo" é a contração da palavra alemã "nationalsozialismus" (nacional-socialismo). A propaganda dessa ideologia, de cunho antissemita e antidemocrático, é proibida na Alemanha e em diversos outros países.

le/md (ots)