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Merkel é hostilizada no leste da Alemanha

3 de outubro de 2016

Durante celebrações do Dia da Unidade Alemã, chanceler federal ouve gritos de "traidora do povo" em Dresden, berço do movimento Pegida. Em resposta, ela pede respeito e diálogo político.

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Deutschland Protest am Tag der Deutschen Einheit
"Merkel tem que sair": protesto em Dresden terminou com ofensas à chanceler federalFoto: Reuters/F. Bensch

A chanceler federal Angela Merkel foi hostilizada nesta segunda-feira (03/10) por centenas de manifestantes em Dresden, no leste da Alemanha, durante uma cerimônia em celebração pelo 26º aniversário da Reunificação.

Uma das cidades da antiga Alemanha Oriental onde protestos pacíficos levaram à queda do Muro de Berlim em 1989, Dresden é hoje reduto do Pegida, movimento populista de direita, de viés xenófobo, que protesta semanalmente contra a política migratória de Merkel.

Das centenas de manifestantes presentes nesta segunda-feira diante da Frauenkirche – igreja símbolo da cidade, reconstruída com grande engajamento por parte dos cidadãos –, a maioria era apoiadora do Pegida, sigla em alemão para "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente".

Merkel foi vaiada e xingada durante sua chegada e saída. Acompanhada do presidente Joachim Gauck e do ministro do Interior Thomas de Maizière, ela ouviu gritos de "traidora do povo" e "vá embora". Ao final do ato ecumênico, ela pediu respeito.

"Pessoalmente, eu gostaria que nós resolvêssemos esses problemas juntos, em respeito mútuo, aceitando as diferentes opiniões políticas", afirmou Merkel. "Eu sei que muitos outros fazem isso, e a esses eu gostaria, neste dia, de agradecer em especial."

Após o ato na igreja, Merkel seguiu para Semperoper, uma das mais famosas casas de ópera do mundo, onde a cerimônia central ocorreu. Ali, novamente houve protestos, com gestos e palavras ofensivas, sobretudo quando Norbert Lammert, presidente do Parlamento alemão, discursou.

Correligionário da chanceler, ele teve seu discurso transmitido em um telão para quem estava do lado de fora da ópera. Para a ira dos presentes, ele condenou as hostilidades e afirmou que "quem grita e vaia" não se lembra das condições de Dresden antes da Reunificação.

Deutschland Feierlichkeiten zum Tag der Deutschen Einheit
Merkel e outros políticos durante a cerimônia ecumênica na igreja em DresdenFoto: Getty Images/S. Gallup

Mais de 2 mil policiais foram mobilizados para garantir a segurança em Dresden. Em torno da ampla área de festas, no centro da cidade, foram postados grandes blocos de concreto, a fim de impedir eventuais ataques com veículos – como o ocorrido em Nice, na França.

O momento é de especial tensão em Dresden. Na semana passada, duas bombas caseiras explodiram na cidade – uma em uma mesquita, e outra em um centro de conferência internacional. Ninguém ficou ferido, mas os ataques foram tratados como xenófobos pelas autoridades.

Dresden é o berço do Pegida. Suas manifestações semanais, geralmente às segundas-feiras, chegaram a atrair cerca de 20 mil pessoas no auge de sua popularidade, no início de 2015, ápice também da atual crise migratória.

A entrada de mais de um milhão de refugiados na Alemanha no ano passado inflamou as tensões sociais, especialmente no leste do país, onde está Dresden. Com discurso anti-imigração, populistas de direita vêm impondo neste ano duros reveses ao partido de Merkel em eleições estaduais. 

Por isso foi tratada como ousada a escolha de Dresden para a celebração do 3 de outubro, data em que, em 1990, a República Democrática Alemã (RDA) oficialmente aderiu à República Federal da Alemanha (RFA) – formalizando a Reunificação.

Quando o Muro de Berlim caiu, a primeira opção para o feriado nacional era o 9 de novembro de 1989 – só que ele coincide com a Noite dos Cristais de 1938, quando os nazistas cometeram atos de violência contra sinagogas, lojas e casas de judeus. Por isso a opção pelo 3 de outubro.

RPR/ots