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CulturaHong Kong

Mais universidades de Hong Kong removem estátuas de massacre

24 de dezembro de 2021

Cidade retira mais duas esculturas em memória das vítimas do massacre na Praça da Paz Celestial, que reprimiu protestos pró-democracia em Pequim em 1989. Críticos falam em sinal de erosão das liberdades em Hong Kong.

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Trabalhadores removem a estátua "Coluna da Infâmia", do escultor dinamarquês Jens Galschiot
Trabalhadores removeram a estátua "Coluna da Infâmia", do escultor dinamarquês Jens Galschiot, na quinta-feiraFoto: Alex Chan/SOPA/ZUMA/picture alliance

Mais duas universidades de Hong Kong removeram nesta sexta-feira (24/12) monumentos públicos em alusão ao massacre na Praça da Paz Celestial, que reprimiu de forma sangrenta protestos pró-democracia em Pequim em 4 de junho de 1989.

Uma das esculturas era uma réplica de seis metros de uma estátua gigante conhecida como Deusa da Democracia, criada por estudantes de arte e levada para a Praça da Paz Celestial durante os protestos de 1989. A réplica foi desenvolvida pelo artista e escultor chinês Chen Weiming e estava exposta na Universidade Chinesa de Hong Kong, de onde foi removida.

Outra escultura alusiva ao massacre em Pequim, também assinada por Chen, foi retirada da Universidade Lingnan de Hong Kong também nesta sexta-feira.

Um dia antes, a universidade mais antiga de Hong Kong já havia removido a chamada Coluna da Infâmia, de oito metros de altura, que retrata 50 corpos retorcidos e empilhados uns sobre os outros. A obra foi feita pelo escultor dinamarquês Jens Galschiot para simbolizar as vidas perdidas durante a repressão militar aos manifestantes pró-democracia em 1989.

O governo chinês afirma que 200 civis e dezenas de policiais morreram, mas outras estimativas apontam que até 10 mil pessoas teriam perdido a vida no massacre.

Para alguns membros da Universidade de Hong Kong, a retirada reflete a erosão das liberdades que os moradores da cidade tinham em comparação com a China continental.

O que dizem os artistas?

"Eles agiram como ladrões durante a noite. Foi o oposto de serem limpos e honestos. Eles estavam com medo da exposição e da reação dos estudantes e ex-alunos", afirmou Chen à agência de notícias AFP. Segundo ele, as universidades agiram "ilegalmente e sem razão".

Galschiot, por sua vez, disse à DW que as autoridades, ao removerem seu monumento da Universidade de Hong Kong na quinta-feira, possivelmente visaram exibir seu poder ao movimento pró-democracia.

"Eles estão enviando um sinal para os estudantes de que o movimento democrático e a liberdade de expressão em Hong Kong acabaram", disse o escultor dinamarquês.

Ele afirmou, porém, que sua escultura manterá sua força devido à publicidade em torno de sua remoção. "Muitas pessoas em todo o mundo estão falando sobre o que Hong Kong está fazendo, então eles tornam isso um símbolo de quão brutal é o sistema chinês agora."

Domínio chinês sobre Hong Kong

Hong Kong é uma cidade semiautônoma que deixou o domínio britânico para ser integrada ao território chinês em 1997. O acordo de transferência estabeleceu o princípio "um país, dois sistemas" e garantia até 2047 alto grau de autonomia à cidade, onde se admitia livre expressão e iniciativas para marcar o massacre de 1989. Pequim, porém, vem paulatinamente consolidando seu domínio sobre o local.

Nos últimos dois anos, as autoridades proibiram as vigílias à luz de velas sobre o massacre e fecharam um museu privado que o documentava. O grupo que organizava a vigília anual e o museu, a Aliança de Hong Kong em Apoio à Democracia Patriótica, foi forçado a encerrar suas atividades, e alguns de seus membros mais importantes foram presos.

O desmonte das esculturas ocorre dias depois de candidatos pró-Pequim terem obtido uma grande vitória nas eleições legislativas de Hong Kong, após uma reforma eleitoral ter instituído um filtro prévio para que somente candidatos "patriotas" e leais ao governo chinês pudessem concorrer.

A chefe de governo de Hong Kong, Carrie Lam, viajou para Pequim nesta semana para relatar a situação na cidade semiautônoma, onde autoridades silenciaram a dissidência após a imposição de Pequim de uma lei de segurança nacional que mirava o movimento pró-democracia após grandes protestos em 2019.

ek (AP, Reuters, AFP)