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Mais forte que em 2008, Hamas mira Jerusalém e Tel Aviv

16 de novembro de 2012

Movimento radical palestino desafia Israel e dispara foguetes contra as principais cidades do país. Com mais armas que na guerra de quatro anos atrás, o grupo testa seu apoio no Oriente Médio.

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Foguetes disparados de Gaza em direção a IsraelFoto: JACK GUEZ/AFP/Getty Images

Depois de ter a capital econômica e social Tel Aviv atingida pela primeira vez desde a Guerra do Golfo (1990-91), Israel viu nesta sexta-feira (16/11) Jerusalém entrar na rota dos foguetes lançados pelo Hamas, o que jamais havia acontecido. Os projéteis caíram em áreas não povoadas nos arredores da cidade, mas foram suficientes para evidenciar como o movimento radical islâmico está mais forte não só politica, como militarmente.

Diferentemente da guerra de 2008 – quando matou mais de 1.400 palestinos com ataques aéreos e terrestres em apenas três semanas – Israel encontra hoje na Faixa de Gaza um inimigo com mais armas e, amparado por potências regionais como Tunísia, Egito e Irã, mais disposto a usá-las.

Armamento de Líbia e Irã

Desde a quarta-feira, mais de 550 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza em direção a Israel. Cerca de 100 deles foram interceptados pelo sistema de defesa antiaéreo israelense, aperfeiçoado após a guerra de 2008, mas 26 caíram em áreas povoadas, deixando três mortos. Grande parte das armas, acredita-se, é proveniente do Irã e de saques ocorridos na Líbia pós-Muammar Kadafi.

“Após quatro anos, nós nos tornamos mais fortes. Temos estratégia e estamos mais unidos a todas as alas militares de Gaza”, disse Fawzi Barhoum, porta-voz do Hamas.

De Teerã, o Hamas recebeu os chamados Fajr-5, foguetes capazes de atingir alvos a até 75 quilômetros de distância – Tel Aviv, por exemplo, fica a cerca de 70 quilômetros de Gaza. Um deles caiu nesta sexta-feira perto de um assentamento judaico ao sul de Jerusalém, sem deixar feridos, mas foi suficiente para acionar as sirenes de emergência na cidade, que não é atingida por um foguete desde 1970, ano do fim da chamada Guerra de Desgaste com o Egito.

Tel Aviv - Flucht vor Raketen
Moradores de Tel Aviv fogem após o acionamento das sirenes de emergênciaFoto: picture-alliance/dpa

Sagrada para cristãos, muçulmanos e judeus, a cidade fica a aproximadamente 75 quilômetros dos limites de Gaza e nem o ditador iraquiano Saddam Hussein, durante a Guerra do Golfo, teve a audácia de direcionar suas baterias de mísseis para ela. Segundo o Hamas, o alvo do foguete lançado nesta sexta-feira seria o prédio do Knesset, a sede do Parlamento israelense.

Nos últimos quatro anos, o Hamas conduziu uma trégua quase informal com Israel, quebrada por ações esporádicas de ambas as partes. E, agora, enfrentar o inimigo não significa necessariamente buscar uma vitória militar – improvável diante de um dos exércitos mais bem armados do mundo –, mas testar as alianças numa região politicamente redesenhada pela Primavera Árabe.

Respaldo regional renovado

Nesta sexta-feira, a troca de fogo parou algumas horas para a visita do primeiro-ministro do Egito, Hisham Qandil, à Faixa de Gaza. No sábado, será a vez de uma delegação liderada pelo ministro das Relações Exteriores da Tunísia, Rafik Abdessalem. O Egito é hoje governado por islamistas simpáticos à ideologia do Hamas, e a Tunísia, berço da Primavera Árabe, tem um histórico de boas relações com a causa palestina.

“Eu não quero dar passos incomuns, mas se eu perceber que a pátria está em perigo, não vou hesitar”, disse o presidente egípcio, Mohamed Morsi, no Twitter. “Gaza não ficará sozinha, e [Israel] pagará caro se continuar com essa agressão.”

O Hamas também recebeu o apoio da Turquia, antes o único aliado muçulmano de Israel. Os países se distanciaram desde uma operação israelense em 2010, na qual nove turcos morreram ao tentar levar ajuda humanitária de barco a Gaza. Os Estados Unidos pediram ao Egito e à Turquia que atuem como mediadores na crise, mas, em entrevista em Istambul, o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, deixou claro de que lado está.

Israel Angriffe auf Gaza
Destruição em Gaza, atingida por disparos de IsraelFoto: Mahmud Hams/AFP/Getty Images)

“Estão atirando nessas pessoas inocentes, antes das eleições, por razões que eles mesmos fabricaram”, afirmou Ergodan. “As potencias globais estão fazendo agora o povo e os combatentes palestinos pagarem, mas a Turquia está com nossos irmãos em Gaza e sua causa justa.”

Israel chama reservistas

Enquanto os palestinos estão mais fortalecidos que há quatros, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tem hoje, a cerca de dois meses das eleições legislativas, menos margem de manobra externa e internamente que seu antecessor, Ehud Olmert. O governo anterior, centrista, teve largo apoio ocidental na ofensiva de 2008, sobretudo entre as potências árabes alinhadas com os EUA. Já o atual, além de enfrentar um Oriente Médio mais hostil, gerou desconfiança no Ocidente com tentativas fracassadas de paz com os palestinos.

Em todo caso, o país está pronto para uma invasão terrestre se for necessário. Depois de disparar contra mais de 500 alvos e matar 19 palestinos na Faixa de Gaza em três dias, o governo israelense obteve a aprovação de seus ministros para convocar 75 mil reservistas. Em 2008, cerca de 20 mil militares participaram na ofensiva em Gaza.

RPR/ap/afp/rtr
Revisão: Francis França