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PolíticaFrança

Macron corre risco de enfrentar paralisia no Parlamento

Barbara Wesel
18 de junho de 2022

Franceses vão às urnas no domingo no segundo turno das eleições parlamentares. Não é certo que partido do presidente conquistará maioria. Sem isso, Macron dependeria dos votos da direita ou da aliança de esquerda.

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Macron deposita seu voto na urna no primeiro turno das eleições parlamentares
Macron deposita seu voto na urna no primeiro turno das eleições parlamentaresFoto: Ludovic Marin/AP Photo/picture alliance

Para o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro turno das eleições parlamentares na França, no domingo passado, foi um choque. Os candidatos de seu partido perderam apoio e acabaram empatados com seus adversários da aliança de esquerda. O segundo turno, neste domingo (19/06), será emocionante, pois não se sabe se Macron conseguirá obter uma maioria na Assembleia Nacional.

Nas eleições presidenciais de abril, parecia que a França teria que decidir entre o centro e a extrema direita. Marine Le Pen ficou em segundo lugar no primeiro turno e declarou guerra ao presidente. Após a reeleição de Macron, no entanto, esse quadro mudou. Os apoiadores da extrema direita do Reagrupamento Nacional estão em terceiro lugar. Eles estão menos ancorados regionalmente que outros partidos, mas já celebram seus resultados, pois terão significativamente mais deputados em Paris do que antes.  

Mas a nova aliança de esquerda, forjada pelos socialistas, comunistas, verdes e o partido de protesto de esquerda A França Insubmissa, colocou pressão no governo. A campanha eleitoral, que durante semanas parecia um treino de boxe solitário da oposição, ganhou dinamismo inesperadamente. Jean-Luc Mélenchon, o líder da aliança de esquerda, batizada de Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), conseguiu inspirar e mobilizar os jovens eleitores com uma retórica flamejante.

Mélenchon discursa e gesticula
Mélenchon é especialista em usar retórica flamejante e fazer grandes promessas aos eleitoresFoto: Michel Spingler/AP Photo/picture alliance

De repente, os partidários de Macron viram que tinham que lutar. Embora as pesquisas indiquem que eles serão novamente a maior bancada da Assembleia Nacional, não é certo que terão uma maioria governamental de mais de 289 votos. E o campo do presidente está enfraquecido por assuntos como uma desastrosa operação policial em um jogo da Copa Europeia no Stade de France ou as acusações de abuso contra um dos seus ministros.

Por que o partido de Macron foi mal?

Em abril, Macron foi reeleito com respeitáveis 58% dos votos. Por que seu partido agora só tem um quarto dos votos? "Não houve entusiasmo nesta eleição presidencial", diz Olivier Rozenzweig, cientista político da Sciences Po em Paris, à DW. "Macron foi eleito por falta de uma alternativa porque Marine Le Pen, da extrema direita, era a sua adversária." A preferência de muitas pessoas teria sido evitar uma presidente ultradireitista, em vez do que propriamente votar em Macron.

Além disso, seus apoiadores quase não fizeram campanha nas semanas que antecederam as eleições, o novo governo foi formado tarde, os candidatos foram nomeados tarde. A esquerda, normalmente fragmentada, no entanto, havia se unido com antecedência em torno de um candidato por distrito eleitoral, o que explica seu sucesso.

Pessoa cola cartaz de Mélenchon em parede
"Um outro mundo é possível" é o slogan da aliança de esquerdaFoto: Bob Edme/AP Photo/picture alliance

Mas Macron pode seguir governando qualquer seja o desfecho, diz Rozenzweig, mesmo que o partido do presidente não consiga uma maioria absoluta. "O Parlamento não nomeia o governo na França", razão pela qual governos de minoria também são possíveis. Porém, ele teria que fazer concessões aos partidos da oposição em cada caso se quiser aprovar uma lei. "Essa é a ironia da situação política na França", diz o cientista político, acrescentando que o novo tamanho da esquerda poderia levar Macron a buscar mais consenso com a direita, inclinando suas reformas à direita.

Veneno e bílis na reta final

Macron, em algumas aparições rápidas nesta semana, apelou mais uma vez aos eleitores que deem ao país uma "maioria sólida" e advertiu contra a "desordem" política dos planos da esquerda. Sua nova primeira-ministra, Elisabeth Borne, chamou Mélenchon de "grande mentiroso", e a ministra do Meio Ambiente, Amélie de Montchalin, vê na esquerda um "perigo" para a França e uma ameaça de subjugação à Rússia. O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, declarou que a aliança de esquerda estava propondo um projeto econômico que levaria o país "diretamente à falência".

Mélenchon respondeu que Macron é "caos" e está transformando a França em um país no qual "não se pode mais viver". Ele defendeu o programa da esquerda e acusou seus oponentes de jogar com "a carta do medo". Alguns economistas, por exemplo do think tank Institut Montaigne, duvidam da viabilidade financeira dos planos de Mélenchon. Seus planos são muito caros, apenas a redução da idade mínima de aposentadoria para 60 anos está estimada em 85 bilhões de euros. Outros bilhões teriam que ser transferidos para o sistema de saúde, o aumento do salário mínimo e outros benefícios sociais. Em resumo, as promessas de Mélenchon aumentariam perigosamente a dívida pública na França.

O que poderia acontecer?

Se, ao contrário das expectativas, a aliança de esquerda conquistar uma maioria, Macron pode dizer adeus aos seus planos de reforma, especialmente à controversa reforma previdenciária. O presidente só teria poder para ditar a política externa e de defesa e teria que negociar com a aliança de esquerda. Mélenchon ameaça reivindicar para si o cargo de primeiro-ministro, ou pelo menos alguns cargos ministeriais importantes para a esquerda. Tal coabitação ocorreu pela última vez em 2002, entre o presidente conservador Jaques Chirac e seu primeiro-ministro socialista, Lionel Jospin, e geralmente leva a impasse político.

Emmauel Macron
Sem ter maioria no Parlamento, será mais difícil para Macron governar a FrançaFoto: Johan Ben Azzouz/MAXPPP/dpa/picture alliance

Se nenhum dos principais grupos, nem o partido centrista de Macron nem a aliança de esquerda, conseguir a maioria, isso também tornará a governabilidade difícil. O sistema político francês não possui mecanismos para formar uma coalizão e o presidente teria que obter uma maioria para cada votação ou persuadir parlamentares individuais a mudar de lado.

Se, por outro lado, o partido do presidente alcançar a maioria novamente, Macron pode prosseguir com seus planos políticos. Entretanto, o ambiente calmo na Assembleia Nacional chegaria ao fim. Um grande bloco de esquerda pode sempre ameaçá-lo com protestos de rua, e a extrema direita fortalecida o colocaria sob pressão em temas como imigração e crime. Não importa o resultado no domingo à noite, o segundo mandato será mais difícil para Macron do que o primeiro.