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Lviv sofre fortes ataques no 31º dia da guerra na Ucrânia

26 de março de 2022

Dia também foi marcado pela visita de Biden a um centro de refugiados em Varsóvia, por discurso de Zelenski no Fórum de Doha e por intensos ataques a Mariupol, Kherson e Chernigiv. Confira um resumo dos principais fatos.

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Grande coluna de fumaça sobre a cidade
Lviv fica próxima à fronteira com a PolôniaFoto: REUTERS

No dia em que o presidente americano, Joe Biden, visita a Polônia, um ataque com mísseis russos contra a cidade de Lviv, a cerca de 90 quilômetros da fronteira polonesa, deixou pelo menos cinco feridos, segundo confirmaram autoridades regionais neste sábado (26/03). O chefe da administração militar da província de Lviv, Maksym Kozytsky, confirmou o ataque com pelo menos dois mísseis, embora três explosões tenham sido ouvidas na cidade. Moradores foram orientados a permanecer em abrigos até que o alerta de ataques aéreos fosse suspenso.

As autoridades de Lviv também solicitaram à população que não compartilhe vídeos ou fotos na internet, junto com a mensagem: "Lembre-se que a inteligência russa recebe 90% de suas informações das redes sociais".

O 31º dia da guerra na Ucrânia também foi marcado pela visita de Biden a um centro de refugiados em Varsóvia,por um forte discurso do presidente americano contra Vladimir Putin, por fala de Volodimir Zelenski ao Fórum de Doha, no Catar, e por intensos ataques a Mariupol, Kherson e Chernigiv.

Lviv é um dos pontos de partida dos refugiados ucranianos que se dirigem à Polônia. Serviços diplomáticos de vários países foram transferidos para a cidade, considerada mais segura que outras regiões.

Em pouco mais de um mês de guerra, Lviv permanece relativamente poupada da guerra, embora tenha recebido outros dois ataques: um contra uma base militar usada para treinamento de combatentes estrangeiros, que causou 35 mortes; e outro dias depois, contra o aeroporto da cidade, sem deixar vítimas.

Pessoas em um porão, com pouca iluminação
Moradores de Lviv foram orientados a permanecer em abrigosFoto: Nariman El-Mofty/AP/picture alliance

Impossibilidade de retirar feridos

Também neste sábado, autoridades de Chernigiv, a cerca de 120 quilômetros a nordeste de Kiev, informaram que a cidade está cercada pelas forças russas e que é impossível retirar civis e feridos.

Uma ponte que ligava a cidade a Kiev foi destruída pelos russos e outra, sob constante tiroteio, ameaça ruir, impedindo que sejam criados corredores humanitários para retirar civis.

"A cidade está reduzida a cinzas", indicou o presidente da câmara, Vladislav Atrochenko. Segundo ele, 44 pessoas precisam de tratamento médico, entre militares e civis, incluindo três crianças.

Ele informou que mais de 200 civis morreram e que 120 mil pessoas ainda estão na cidade, cuja população era de 280 mil antes da invasão russa.

Combates também foram relatados neste sábado em outras partes do país. De acordo com informações ucranianas, tropas russas ocuparam a cidade de Slavutych, perto da antiga usina nuclear de Chernobyl. Os soldados entraram na cidade e ocuparam o hospital, escreveu o chefe da administração militar, Oleksandr Pavlyuk, no Telegram. A informação não pôde ser verificada de forma independente pela DW. 

Os moradores protestaram contra a ocupação russa e desfraldaram uma grande bandeira ucraniana. Soldados russos responderam atirando para o ar, tentando dispersar as pessoas. 

Foto aérea mostra um grande foco de fogo e muita fumaça, em uma área com muitas casas no entorno.
Três explosões foram ouvidas em Lviv neste sábadoFoto: RONALDO SCHEMIDT/AFP

Luta por retomada de Kherson

De acordo com um funcionário do Departamento de Defesa dos EUA, as forças ucranianas estão lutando para retomar dos russos a importante cidade de Kherson, no sul. Segundo a fonte, os militares russos não teriam mais controle sobre a cidade como antes, que é, por isso, agora considerada novamente uma "área contestada". 

Kherson é uma cidade portuária estrategicamente importante, por estar no início do delta do estuário do Dnipro. Segundo o membro da Defesa americana, se os ucranianos conseguirem recapturar a cidade, isso complicaria o ataque russo à cidade vizinha de Mykolaiv. Também tornaria uma possível ofensiva terrestre na direção da cidade portuária de Odessa significativamente mais difícil. 

Campanha de retirada de Mariupol

O governo francês planeja, em cooperação com as lideranças de Turquia e Grécia, uma campanha humanitária de retirada de cidadãos de Mariupol. 

O anúncio foi feito pelo presidente francês, Emmanuel Macron, após a cúpula da UE em Bruxelas. Ele afirmou que já existem conversas concretas com o prefeito da cidade e com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Segundo Macron, também é necessário obter um acordo com a Rússia, cujas tropas estão sitiando a cidade há semanas. 

A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, afirmou que neste sábado foi alcançado um acordo sobre o estabelecimento de 10 corredores humanitários para a retirada de civis dos pontos críticos da linha de frente nas cidades ucranianas. 

Falando na televisão estatal, ela disse que os civis que quisessem deixar Mariupol teriam que fazê-lo em veículos particulares, já que as forças russas não permitiriam que ônibus passassem por seus postos de controle ao redor da cidade portuária. 

Segundo Zelenski, a situação na cidade continua "absolutamente trágica". Em uma mensagem de vídeo divulgada na madrugada deste sábado, ele acusou a Rússia de bloquear a ajuda a civis em Mariupol.

Esta semana, autoridades locais de Mariupol relataram que moradores estavam sendo levados à força para a Rússia, tendo os documentos confiscados.  

De acordo com informações ucranianas, um total de 5.208 pessoas conseguiram deixar cidades em zonas de risco através de corredores de fuga neste sábado. Um alto funcionário do governo disse que 4.331 pessoas escaparam de Mariupol.

Zelenski discursa em Fórum de Doha

A invasão russa na Ucrânia monopolizou as atenções neste sábado no Fórum de Doha, com o inesperado discurso do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, a participação do alto representante de Relações Exteriores da União Europeia (UE), Josep Borrell, e o apoio transmitido a Kiev pelo anfitrião do encontro, o emir do Catar, Tamim bin Hamad al Thani.

"Enfatizo a postura firme do Catar em renunciar à violência contra civis e outros países, bem como tudo o que envolve a violação dos direitos humanos e do direito internacional", disse o emir do Catar na abertura do evento após mencionar a guerra na Ucrânia, lembrando ainda "os milhões de palestinos que estão sofrendo com a ocupação de Israel e negligência internacional por décadas".

O discurso virtual de Zelenski foi recebido com aplausos pelos participantes, um grande grupo de líderes e estrategistas políticos de todo o mundo reunidos na capital do Catar para abordar as principais questões de preocupação global.

"Precisamos de uma verdadeira reforma das instituições internacionais para que um país não possa fazer o que quer", disse Zelenski.

O líder ucraniano pediu a criação de "uma coalizão contra a guerra" e garantiu que, com a agressão da Rússia, a comunidade internacional aprendeu que "todos os países precisam de armas nucleares para poder defender-se de uma invasão".

"Precisamos garantir que as capacidades nucleares de um país não sejam usadas para cometer injustiças contra outras nações", insistiu o líder ucraniano que, apesar das sanções impostas pela comunidade internacional, assegurou que "a Rússia ainda não foi punida pelo que fez na Ucrânia".

Foto mostra duas grandes telas com a imagem de Zelenski. Muitas pessoas assistem ao vídeo.
Discurso virtual de Zelenski foi aplaudido pelos participantesFoto: Mohammed Dabbous/AA/picture alliance

Zelenski também pediu em Doha que se "aumente a produção de energia" diante da chantagem da Rússia e listou o Catar entre os países "responsáveis, confiáveis e firmes" na exportação de seus recursos que, dessa forma, "podem contribuir para a estabilidade na Europa". "Nenhum país pode usar a energia como arma para chantagear o mundo", declarou.

O presidente ucraniano também lembrou da grande comunidade muçulmana que vive na Ucrânia, especialmente em Mariupol, e comparou-a a Aleppo, cidade síria que foi dizimada na guerra daquele país.

Em sua fala, Borrell também comparou a destruição da Ucrânia com a devastação sofrida na nação árabe e declarou que a Rússia está transformando aquele país em uma "segunda Síria".

O diplomata afirmou ainda que, apesar de o conflito ocorrer nas fronteiras europeias, "não é um problema europeu", mas de todo o mundo, o que exige "o reforço da legislação em nível internacional e um melhor equilíbrio de poder".

Biden diz que Putin não pode permanecer no poder

Em visita à Polônia, Biden, fez duras críticas a Vladimir Putin e afirmou que o presidente russo "não pode permanecer no poder". 

"Pelo amor de Deus, este homem [Putin] não pode permanecer no poder", disse Biden ao terminar um discurso em Varsóvia.

Mais tarde, a Casa Branca se pronunciou e disse que Biden não pediu no discurso a mudança de regime na Rússia. Segundo um porta-voz do Gabinete Presidencial dos EUA, Biden quis dizer que Putin não deveria exercer poder sobre países vizinhos ou a região, e não se referiu sobre o poder de Putin na Rússia.

Após a fala, o Kremlin afirmou que os insultos de Biden reduzem a possibilidade de melhorar as relações entre Washington e Moscou. "Um líder deve permanecer calmo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à agência oficial "TASS".

Durante o discurso em Varsóvia, Biden também afirmou que a guerra na Ucrânia já se tornou um "fracasso estratégico para a Rússia" e que o rublo, a moeda russa, "foi reduzido a escombros".

Mais uma vez, o democrata advertiu Putin de que haverá consequências se as tropas russas entrarem no território da Otan. "Nem pense em mover-se um centímetro dentro do território da Otan", alertou.

O presidente americano também reconheceu que a guerra na Ucrânia não durará dias nem meses e pediu ao Ocidente que se arme de "coragem" para um longo conflito.

"Nesta batalha, devemos manter os olhos abertos: esta batalha não será vencida em dias e meses. Precisamos nos armar de coragem para a longa luta pela frente", declarou.

Biden também acusou Putin de ter "estrangulado" a democracia dentro e fora das fronteiras da Rússia e considerou que a "batalha pela democracia" não terminou com o fim da Guerra Fria. "Todas as democracias do mundo têm a responsabilidade de ajudar, todas elas", enfatizou.

Biden visita centro de refugiados

Antes do discurso, ao conversar com repórteres, Biden chamou Putin de "carniceiro", ao ser questionado pela imprensa sobre sua reação ao ver o sofrimento dos refugiados.

Biden visitou o Estádio Nacional de Varsóvia, convertido em um centro de refugiados para acolher algumas das mais de 2,17 milhões de pessoas que fugiram da Ucrânia para a Polônia desde o início da guerra.

Durante a visita, Biden conversou com vários refugiados ucranianos, abraçou uma mulher e pegou uma menina no colo.

Biden, de máscara, cercado por muitas pessoas, entre elas, crianças
Biden visitou centro de refugiados ucranianos em VarsóviaFoto: Evan Vucci/AP/picture alliance

Encontro com o presidente polonês

Também neste sábado, Biden se reuniu com o presidente polonês, Andrzej Duda, e procurou tranquilizar o governo da Polônia sobre o compromisso de Washington com a defesa da Europa Oriental. Ele reiterou que o pacto de defesa mútua da Otan é um "compromisso sagrado" para os Estados Unidos.

"Sua liberdade é nossa", disse Biden. "Estou confiante de que Vladimir Putin estava contando com uma divisão da Otan", acrescentou Biden sobre o presidente russo. "Mas ele não foi capaz de fazer isso. Nós todos ficamos juntos." 

Mais cedo, Biden participou de conversas entre integrantes dos governos dos EUA, Polônia e Ucrânia sobre a resposta global ao conflito. 

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, participaram da reunião junto com o ministro do Exterior da Ucrânia, Dmytro Kuleba, e o ministro da Defesa do país, Oleksii Reznikov.

As autoridades discutiram "o compromisso inabalável dos EUA com a soberania e a integridade territorial da Ucrânia", disse a repórteres o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price. 

le (Lusa, EFE, ARD)