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Lula chega à COP27 com missão de retomar luta climática

Stuart Braun
15 de novembro de 2022

Após retrocessos sob Bolsonaro, presidente eleito busca apoio internacional para concretizar promessas de desmatamento zero na Amazônia e proteção de povos indígenas. Ativistas esperam que acordos sejam alcançados.

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Lula, presidente eleito, discursa em São Paulo
Ao ser eleito, Lula prometeu "desmatamento zero" na AmazôniaFoto: Carla Carniel/REUTERS

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva era um dos visitantes mais aguardados na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP27), em Sharm el-Sheikh, no Egito. Após Lula prometer zerar o desmatamento na Amazônia, governos de diversos países esperam uma mudança de rumo do Brasil quanto à proteção da floresta tropical.

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e ajuda a regular o clima e, especialmente, as chuvas nas Américas. Desde 1970, ela perdeu quase 20% de sua extensão devido a desmatamento e queimadas. 

Em 2007, com base em modelos matemáticos rodados em computador, o climatologista brasileiro Carlos Nobre apontou que, caso 40% da Floresta Amazônica desaparecessem, a densa mata alcançaria um ponto crítico de desequilíbrio ou inflexão (tipping point), e perderia a capacidade de se manter como vegetação densa. Em 2017, essa projeção foi corrigida: em vez de 40%, 20% de destruição seriam suficientes para a morte da floresta. As consequências climáticas seriam devastadoras.

Quando assumiu seu primeiro mandato, em 2003, Lula herdou uma série crescente de desmatamento da Amazônia. No ano seguinte, com Marina Silva à frente do Ministério de Meio Ambiente, a criação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (Ppcdam) freou o ritmo de destruição da floresta. De 2004, quando o plano foi criado, até o fim do segundo mandato de Lula, em 2010, a redução da devastação foi de 73%.

Muito desse trabalho, porém, foi desmontado nos últimos quatro anos sob a presidência de Jair Bolsonaro. Entre 2019 e 2021, o desmatamento na Amazônia aumentou 73% – seu nível mais alto desde meados dos anos 2000 –, em parte para dar lugar à criação de gado e ao cultivo da soja. O desmatamento da floresta – 60% da qual está localizada no Brasil – também impulsionou um aumento das emissões brasileiras de de gases de efeito estufa: de 2020 para 2021, o salto foi de 12,2%.

Além da luta pelo desmatamento zero da Amazônia, Lula prometeu combater a extração ilegal de madeira e proteger os direitos territoriais dos povos indígenas da região, cujas terras puderam ser exploradas com mais facilidade= por madeireiros ilegais, garimpeiros e grileiros sob o governo Bolsonaro. "O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva", afirmou Lula após vencer as eleições.

Transformando a retórica climática de Lula em ação

Após chegar à COP27, Lula pretende ter mais reuniões com lideranças mundiais sobre soluções climáticas do que Bolsonaro teve durante seus quatro anos de mandato, como afirmou na sexta-feira (11/11) o presidente eleito, em Brasília. E encontrar maneiras de combater a destruição ilegal da Amazônia deve ser uma parte central dessas conversações, dizem ativistas.

"Lula deveria especificar como pretende garantir o Estado de Direito na Amazônia e proteger tanto a floresta quanto seus defensores", afirmou Maria Laura Canineu, diretora da ONG Human Rights Watch no Brasil. "Ele deveria se comprometer com o fortalecimento das agências ambientais e indigenista."

Lula, que é um veterano das negociações climáticas, se encontrou com o enviado climático dos EUA, John Kerry, nesta terça-feira (15/11) para fortalecer a cooperação global para salvar a Amazônia – bem como anunciar a disposição do Brasil de sediar a COP30 em 2025, segundo informações do jornal O Globo.

Além de Kerry, Lula também se reuniu como o negociador-chefe da China para o Clima, Xie Zhenhua. Os encontros foram a portas fechadas.

A ex e provável futura ministra do Meio Ambiente de Lula, Marina Silva, já vem participando de diversas reuniões na cúpula da ONU. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela lembrou que o Brasil foi responsável, de 2003 a 2008, por 80% das áreas florestais protegidas criadas no mundo e que o mundo quer ver o Brasil exercendo novamente um papel de liderança.

Após reuniões na quinta-feira passada com John Kerry e diretores do Banco Mundial, Marina afirmou que "há toda uma disposição de voltar a investir no Brasil".

Isso inclui retomar o Fundo Amazônia com a Alemanha e a Noruega para proteger a floresta tropical e as negociações do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. O tratado entre os dois blocos inclui compromissos climáticos robustos.

Alemanha e Noruega querem reativar Fundo Amazônia

Na COP27, Lula buscará reativar uma coalizão que já se comprometeu a acabar com o corte ilegal de madeira no Brasil, mas que desmoronou sob a gestão de Bolsonaro.

Marina Silva já deu início ao processo, tendo solicitado aos EUA a adesão também ao Fundo Amazônia – criado em parceria com a Alemanha e a Noruega em 2008 para ajudar a financiar a proteção da biodiversidade da região.

No final de outubro e início de novembro, Alemanha e Noruega afirmaram que estão dispostas a retomar o financiamento do Fundo Amazônia. Os dois países deixaram de fazer pagamentos em 2019, após Bolsonaro assumir a presidência e enfraquecer as medidas de proteção ambiental da região.

"Com o peso e a influência de Lula, e devido às preocupações de todo o mundo com a Amazônia, é possível que alguns acordos bilaterais sejam alcançados [na COP27]", afirmou Daniela Costa, do Greenpeace Brasil, à agência de notícias AFP.