Klein e o seqüestro artístico de Madonna
8 de dezembro de 2004O que se esconde por trás das imagens expostas na galeria Camera Work de Berlim não é simplesmente Madonna. É Madonna como a quer Steven Klein: autêntica e espontânea. É o renomado fotógrafo americano – que percorreu os caminhos tradicionais da pintura clássica, mas preferiu enveredar por becos escuros e sujos da fotografia – que faz o que quer com a diva pop.
O reconhecido fotógrafo de moda traz na bagagem campanhas para grifes como Calvin Klein, Alexander McQueen e Valentino, bem como editoriais nas revistas de moda Vogue, The Face e Dutch. Em meados dos anos 90, ele partiu para um trabalho mais provocativo, com um gritante contraste de cores e exigindo do modelo mais intensidade ao lidar com o corpo.
Mas que não pareça estranho o fato de Madonna ter lhe acompanhado por essa travessia. Ninguém nem cogitaria estranhar o gosto que Madonna desenvolveu por mostrar-se a cada álbum ou videoclipe como uma outra. A surpresa é que a "outra" de Steven Klein exala uma loucura íntima quase intolerável ao raso universo pop. A busca da originalidade na beleza, não da perfeição simulada – como a tomada que fez de Justin Timberlake com o rosto manchado de sangue.
Nem a estrela nem o fotógrafo
Klein e Madonna se juntaram para desenvolver o projeto X-STaTIC PRO=CeSS em agosto de 2002 em Los Angeles. Nas fotos, publicadas em um editorial de 44 páginas na revista W, Madonna aparece como uma performer, que reage diretamente à câmera e evidencia paixões dissimuladas. Nem a estrela nem o fotógrafo ocupam o epicentro, mas o indivíduo.
A sessão fotográfica em um estúdio com a pobreza estética de uma velha garagem durou mais de dez horas. Mas as fotos, vídeos e animações criadas com esparsos acessórios perdidos em uma atmosfera fria romperam, de certa forma, o invólucro glamouroso que envolve Madonna e expuseram vulnerabilidade e insegurança, agressão e loucura.
A outra dos videoclipes
Madonna aparece adornada em figurinos enigmáticos, ora como confusa paciente psiquiátrica, ora executando posições de ioga, contorcida sobre uma mesa escolar. Na parede ao lado, pendurada a foto de um rim.
Em uma videoinstalação composta de quatro projeções sobre duas telas, Madonna surge sufocada sob um vestido de Gaultier que lembra uma rainha bizantina, enquanto um vestido de noiva queima a seu lado, deitando em cinzas o passado de Like a Virgin (1984).
A começar pelo título sob o qual estão reunidos, a coleção de imagens, seqüências de vídeo e animações confundem o espectador. Eles dão testemunho de uma Madonna que só com muito esforço condiz com aquela dos videoclipes. Como se Madonna Louise Veronica Ciccone tivesse sido vítima de um seqüestro e forçada a representar para seu raptor. Um seqüestro artístico.