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Josephine Baker será a primeira negra no Panteão de Paris

23 de agosto de 2021

A artista franco-americana fez parte da resistência francesa ao nazismo na Segunda Guerra e lutou contra o racismo. Ela será a sexta mulher a entrar no seleto mausoléu que reverencia personalidades da história da França.

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Josephine Baker
Nascida nos EUA, Josephine Baker fez carreira na França e defendeu o país, quando este estava ocupado pelos nazistasFoto: AFP

A França concederá uma de suas maiores honrarias à renomada artista franco-americana Josephine Baker. A dançarina, cantora e atriz que lutou na resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, foi voz ativa contra o racismo se tornará no final deste ano a primeira mulher negra homenageada no exclusivo mausoléu do Panteão de Paris.

"É uma grande dama, apaixonada pela França, que entrará no Panteão. Obrigada ao [presidente] Emmanuel Macron por esta homenagem", escreveu a ministra francesa da Economia, Agnès Pannier-Runacher, no Twitter.

O presidente da França é a única autoridade com poder de decidir quem será introduzido ao Panteão, um mausoléu localizado no quinto distrito de Paris e que foi inspirado no Panteão de Roma.

A família de Baker vinha solicitando sua inclusão desde 2013, e uma petição reuniu cerca de 38 mil assinaturas. Alguns membros do grupo que fez campanha por Baker se encontraram com Macron em 21 de julho e receberam uma resposta positiva. Um assessor do presidente confirmou que a cerimônia será realizada em 30 de novembro.

O corpo de Baker permanecerá enterrado em Mônaco. Apenas um memorial com uma placa será erguido no Panteão, conforme relatou Jean-Claude Bouillon-Baker, um dos 12 filhos adotivos da artista.

Ela será apenas a sexta mulher – e a primeira negra – entre as 80 personalidades da história francesa no Panteão. Os homenageados incluem os filósofos Voltaire e Jean-Jacques Rousseau, os escritores Victor Hugo, Alexandre Dumas e Antoine de Saint-Exupéry, e o casal de físicos Pierre Curie e Marie Curie.

Quem foi Josephine Baker?

Freda Josephine McDonald nasceu no Missouri, Estados Unidos, em 1906. De origem pobre, aos 15 anos já estava em seu segundo casamento. Pouco depois fugiu de casa e se juntou a um grupo de vaudeville, um gênero de entretenimento de variedades bastante popular nos EUA naquela época.

Baker – sobrenome do segundo marido, que ela manteve por estar começando a fazer sucesso no meio artístico – chamou a atenção de um produtor, que a mandou para Paris em meados da década de 1920. Aos 19 anos, ela se tornou a estrela do popular espetáculo musical La Revue Negre, que ajudou a popularizar o jazz e a cultura afro-americana na França. Ela se tornou uma das artistas mais populares de sua época.

Em 30 de novembro de 1937, Baker se casou com Jean Lion, garantindo assim a nacionalidade francesa. Eles se divorciaram três anos depois, e ela voltaria a se casar outras duas vezes. Ao longo de sua vida, Baker adotou 12 crianças e formou a família que ela chamava de "A tribo arco-íris" – uma espécie de experimento para provar que crianças de diferentes etnias e religiões podem ser irmãs.

Josephine Baker recebe a Cruz de Guerra e o grau de Cavaleiro da Legião de Honra em 1961
Josephine Baker recebe em 19 de agosto de 1961 a Cruz de Guerra e a condecoração da Ordem Nacional da Legião de HonraFoto: AFP

Quando estourou a Segunda Guerra, Baker serviu com a Cruz Vermelha e era membro da França Livre, um movimento de resistência que – contra todas as probabilidades – continuou lutando contra os nazistas na França ocupada.

Ela chegou a ser nomeada tenente do órgão auxiliar feminino da Força Aérea Francesa, foi premiada com a Cruz de Guerra das Forças Armadas e a Medalha da Resistência, e condecorada pelo presidente Charles de Gaulle com a Ordem Nacional da Legião de Honra.

"Eu só tinha uma coisa em mente: ajudar a França", afirmara ela.

Outro membro do grupo de resistência, Pascal Bruckner disse que Baker "é um símbolo de uma França que não é racista, ao contrário do que dizem alguns grupos de mídia". "Josephine Baker é uma verdadeira antirracista, uma verdadeira antifascista", afirmou Bruckner. 

Posteriormente, Baker se dedicou menos ao entretenimento e realizou repetidas viagens aos EUA para participar de protestos pelos direitos civis. Em 1963, ela foi a única mulher a discursar na famosa Marcha de Washington ao lado do pastor e ativista Martin Luther King Jr., que naquele dia deu seu famoso discurso "Eu tenho um sonho!" ("I have a dream!").

Baker morreu em 1975 e foi enterrada em Mônaco, com o uniforme militar e as medalhas que ela recebeu ao longo da vida.

pv/ek (AFP, AP, Efe, Reuters)