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Janeiro de 2025 bate recorde de calor para o mês

6 de fevereiro de 2025

Contrariando expectativas de especialistas do Copernicus, janeiro deste ano seguiu sequência de aquecimento apesar de fim do El Niño, que aumentou temperaturas globais.

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Praia lotada no Rio de Janeiro
Janeiro foi o 18º mês dos últimos 19 a registrar temperaturas 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriaisFoto: TERCIO TEIXEIRA/AFP via Getty Images

O mês de janeiro deste ano foi o janeiro mais quente já registrado, informou o serviço climático europeu Copernicus nesta quinta-feira (06/02). A medição contrariou as expectativas de que as condições mais frias do fenômeno La Niña pudessem conter a sequência de temperaturas recordes no mundo.

Segundo o Copernicus, janeiro registrou temperaturas globais médias 1,75 °C mais quentes do que os níveis pré-industriais, prolongando uma série persistente de recordes históricos em 2023 e 2024.

Os cientistas do órgão esperavam que esse período excepcional de calor diminuísse após a transição entre o El Niño, fenômeno que aquece o Oceano Pacífico e que teve pico em janeiro de 2024, e sua fase oposta, capaz de resfriar as temperaturas, o La Niña.

No entanto, o calor permaneceu em níveis recordes ou próximos disso desde então, gerando debates entre cientistas sobre quais outros fatores poderiam estar impulsionando o aquecimento além do esperado.

"Janeiro de 2025 é outro mês surpreendente, dando continuidade às temperaturas recordes observadas nos últimos dois anos, apesar do desenvolvimento das condições do La Niña no Pacífico tropical e seu efeito de resfriamento temporário nas temperaturas globais", afirmou Samantha Burgess, líder estratégica para o clima no Centro Europeu para Previsões Meteorológicas de Médio Prazo, que abastece os dados do Copernicus. 

A região sul e leste da Europa ajudaram a puxar as temperaturas para cima, superando os índices registrados entre 1991 e 2020. Norte do Canadá, Alasca, Sibéria, África, Austrália e a porção sul da América do Sul também foram mais quentes em janeiro. Em contraste, as temperaturas ficaram abaixo da média na Islândia, Reino Unido e Irlanda. 

Segundo o Copernicus, os dados sugerem "uma desaceleração ou interrupção na transição" para o La Niña, que pode desaparecer completamente até março.

"É isso que torna a situação um pouco surpreendente... Não estamos vendo esse efeito de resfriamento, ou pelo menos uma pausa temporária na temperatura global, que esperávamos observar", disse Julien Nicolas, cientista climático do Copernicus.

Aquecimento supera meta do Acordo de Paris

O aquecimento de janeiro é simbólico pois ultrapassa a meta inicial do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais e mantém o ritmo de aquecimento observado em 2024, quando o mundo rompeu esta marca pela primeira vez.

Este é o 18º dos últimos 19 meses em que as temperaturas médias globais da superfície do ar ficaram acima desta meta. Isso não representa uma violação permanente do índice estabelecida no tratado, mas é um sinal de que esse limite está sendo testado.

Cientistas alertam que cada fração de grau acima de 1,5 °C aumenta a intensidade e a frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, chuvas intensas e secas. Limitar até o ano 2100 o aumento da temperatura global a, no máximo, 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais ajudaria a evitar um colapso dos ecossistemas e manteria o clima num patamar habitável.

O Copernicus também informou que o gelo marinho do Ártico atingiu sua menor extensão na série histórica para o mês de janeiro, 6% abaixo da média. Uma análise dos EUA nesta semana apontou que esta foi a segunda menor extensão já registrada nesse conjunto de dados.

Os oceanos são reguladores climáticos essenciais e atuam como absorvedores de carbono. Águas mais frias podem absorver maiores quantidades de calor da atmosfera, ajudando a reduzir as temperaturas do ar. Eles também armazenam 90% do excesso de calor retido pela liberação de gases de efeito estufa pela humanidade.

O observatório europeu também identificou umidade acima da média no Canadá, Rússia e sul do Brasil, com regiões registrando inundações.

De modo geral, os cientistas esperam que 2025 termine com temperaturas menores do que 2023 e 2024, como o terceiro ano mais quente já registrado. "Esse calor inevitavelmente ressurgirá periodicamente", disse Julien Nicolas, do Copernicus.

O que provoca o aquecimento global?

Os cientistas são unânimes em afirmar que a queima de combustíveis fósseis é o principal fator que impulsiona o aquecimento global a longo prazo, enquanto as mudanças naturais do clima também podem influenciar as temperaturas de um ano para outro.

No entanto, ciclos naturais de aquecimento, como o El Niño, por si só, não explicam o que está acontecendo na atmosfera e nos oceanos, e os cientistas estão buscando respostas em outros fatores. "Ainda é um assunto em debate", afirmou Nicolas.

O monitor da União Europeia usa bilhões de medições de satélites, navios, aviões e estações meteorológicas para suas análises climáticas. Seus registros remontam a 1940, mas outras fontes de dados climáticos – como núcleos de gelo, anéis de crescimento de árvores e esqueletos de corais – permitem que os cientistas ampliem suas conclusões com base em evidências de períodos muito mais antigos.

Os cientistas afirmam que o período atual provavelmente é o mais quente que a Terra já viveu nos últimos 125 mil anos.

gq/cn (AFP, DPA, ots)