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IRA pede desculpas pela primeira vez

Tobias Jungblut17 de julho de 2002

O grupo radical irlandês lamentou a morte de não-combatentes em seus atentados. O mais conhecido deles ocorreu em 1972, com 9 mortos, entre eles 7 civis.

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Depois de 30 anos, o grupo pede desculpas às famílias dos civis mortos em atentadosFoto: AP

O Exército Republicano Irlandês (IRA), católico, expressou suas "sinceras desculpas e condolências" pela morte de mais de 1.800 pessoas durante seus mais de trinta anos de atividades. A declaração, assinada por P. O´Neill, chefe supremo do grupo, foi publicada pelo jornal republicano An Phoblacht, nesta terça-feira (16). Das quase 2 mil pessoas mortas pelo grupo, aproximadamente 650 eram civis.

30 anos de discordâncias

A principal razão para a declaração do IRA é que neste domingo (21) será lembrado o 30º aniversário de um dos mais tristes capítulos da história da Irlanda. No dia 21 de julho de 1972, conhecido como "sexta-feira sangrenta", o Exército Republicano detonou, em Belfast, mais de 20 bombas em menos de uma hora, matando 9 e ferindo mais de 120 pessoas.

O ato foi consequência de uma discordância entre o grupo e o governo britânico que havia, duas semanas antes, matado 13 civis, em Derry. Este dia ficou conhecido como "domingo sangrento".

Em abril de 1998, foi firmado um acordo entre católicos e protestantes, fazendo com que o grupo radical depusesse suas armas como forma de cessar-fogo. Esta foi a medida que abriu caminho para a assinatura do pacto, conhecido também por "acordo da sexta-feira santa", que determinava a entrega das armas dos radicais a uma comissão internacional de desarmamento.

Reconhecimento do governo

O ministro britânico para a Irlanda do Norte, John Reid, saudou as declarações do grupo afirmando que as desculpas do IRA têm uma "força sem precedentes". "O importante agora é transpor esses sentimentos para a realidade. As pessoas querem acreditar que nunca mais serão submetidas a tais sofrimentos", declarou Reid. O primeiro ministro irlandês, Bertie Ahern, afirmou que "essa é uma grande contribuição para consolidar a paz".

Desculpas

A declaração dos radicais afirma que "não foi intenção do IRA ferir ou matar não-combatentes, apesar de muitas vezes essa ter sido a consequência de suas ações", referindo-se, entre outros, ao massacre da "sexta-feira sangrenta". A nota também informa que o grupo "continua engajado no processo de paz" e finaliza afirmando sua "aceitação de erros passados e dos danos causados aos outros".

Alguns analistas políticos acreditam, entretanto, que a iniciativa do IRA seja mais uma tentativa de evitar que o premier britânico, Tony Blair, elimine o braço político do grupo, o partido Sinn Fein, liderado por Garry Adams. O premier da Irlanda do Norte, o líder protestante David Trimble, por sua vez, vem acusando o IRA de estar envolvido nas recentes explosões em Belfast.