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Interpol prende suspeito de ataque ao Porta dos Fundos

5 de setembro de 2020

Nome de Eduardo Fauzi estava na Difusão Vermelha da entidade. Ele foi detido na Rússia, para onde fugiu dias após o atentado à sede da produtora, em dezembro. Brasil iniciou procedimentos para o pedido de extradição.

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Cena do especial de Natal do Porta dos Fundos na Netflix
À época do ataque, o grupo de humor vinha sendo alvo de críticas de religiosos por conta de um especial de NatalFoto: Netflix

Agentes da Interpol prenderam nesta sexta-feira (04/09) em Moscou, na Rússia, o empresário brasileiro Eduardo Fauzi Richard Cerquise, de 41 anos, suspeito de ser um dos autores do ataque à sede da produtora do Porta dos Fundos no fim do ano passado.

Segundo a imprensa brasileira, o Ministério das Relações Exteriores já iniciou os trâmites para o pedido de extradição do suspeito para o Brasil.

O crime ocorreu em 24 de dezembro no Rio de Janeiro, e Fauzi fugiu do país alguns dias depois. Seu envolvimento no crime foi apontado pela Polícia Civil do Rio no dia 30 daquele mês, e um mandado de prisão foi expedido contra o empresário.

Mas naquela altura, ele já estava longe: agentes descobriram que o suspeito havia embarcado para a Rússia em 29 de dezembro. Segundo o jornal O Globo, Fauzi tem mulher e filho em Moscou e viajava com frequência para a capital russa.

Autoridades brasileiras entraram então com um pedido internacional de captura, e o nome dele foi incluído na chamada Difusão Vermelha – lista de procurados – da Interpol em janeiro.

Em nota nesta sexta-feira, a defesa de Fauzi afirmou que acompanha o procedimento de extradição, mas negou que ele tenha sido preso em Moscou, conforme comunicado pelas autoridades brasileiras. "Ressaltamos que não trata-se de prisão, e sim de uma apreensão realizada pela autoridades russas, visando a averiguação da situação dele", disseram os advogados.

Na madrugada da véspera de Natal, dois coquetéis molotov foram lançados contra a sede da produtora do grupo de humor no Rio de Janeiro. O fogo foi contido graças à ação rápida de um segurança do edifício, que conseguiu controlar o incêndio. Ninguém ficou ferido.

A polícia identificou Fauzi como um dos autores após analisar mais de 50 câmeras de segurança do bairro. Ele era o único dos cinco suspeitos que não usava capuz no momento do ataque.

Logo após o atentado, integrantes de um grupo que se autointitula "Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira" divulgou um vídeo reivindicando o ataque.

O vídeo mostra três homens com rostos cobertos, à frente de uma bandeira com o símbolo do integralismo – um antigo movimento extremista brasileiro dos anos 1930 inspirado no fascismo italiano. Um deles, sentado atrás de uma mesa onde está estendida uma antiga bandeira do Império brasileiro, lê uma espécie de manifesto. A leitura é acompanhada de imagens de homens lançando coquetéis molotov contra a fachada da produtora do Porta dos Fundos.

Há várias menções a Fauzi em sites de grupos que dizem seguir o integralismo. Em 2018, uma nota no site "Notícias do Sigma - A ação do Integralismo no Brasil e no Mundo" apontou o empresário como presidente nacional da "Frente Integralista Brasileira". Em outros comunicados, ele aparece como presidente do núcleo fluminense do grupo.

Segundo registros da Justiça Eleitoral, Fauzi também é filiado ao PSL, partido que elegeu o presidente Jair Bolsonaro em 2018.

O suspeito possui ainda 20 anotações em sua ficha criminal, segundo a polícia. Em 2013, ele já havia aparecido no noticiário por agredir o então secretário de Ordem Pública do Rio Alex Costa, após uma operação de fechamento de estacionamento irregular. Fauzi é presidente de uma entidade chamada "Associação de Guardadores de Veículos", que foi fundada por ele mesmo.

À época do ataque, o Porta dos Fundos vinha sendo alvo de críticas de religiosos após a produção de um especial de Natal exibido pelo serviço de streaming Netflix. No programa, os humoristas satirizam Jesus e Maria. Enquanto Jesus é retratado como homossexual – o que despertou a ira de vários grupos religiosos –, Maria aparece como adúltera e usuária de drogas.

Após a divulgação do especial, surgiram petições para retirar o programa do ar. Vários líderes religiosos entraram com ações pedindo a suspensão. Um pedido chegou a ser endossado pela Justiça do Rio de Janeiro, mas a censura acabou sendo derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) mais tarde.

Em uma entrevista dias após embarcar para a Rússia, Fauzi chegou a expressar insatisfação com o especial de Natal do Porta dos Fundos. Na ocasião, ele assumiu a autoria do crime e afirmou que agiu por motivação política.

EK/ots