Apesar das divergências
28 de junho de 2009
Após meses de tensão, a Rússia e a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) retomaram sua cooperação militar e política. Após o encontro bilateral na ilha grega de Korfu, no sábado (27/06), o secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop Scheffer, declarou ter atingido a meta de deixar para seu sucessor um Conselho Otan-Rússia em plena atividade. Esse foi o encontro mais significativo do conselho desde a guerra na Geórgia, em meados do ano passado.
Divergência é o que não falta
Demorou quase um ano até a Otan e a Rússia voltarem a dialogar em nível ministerial. Após a guerra entre a Geórgia e a Rússia, em agosto de 2008, a Otan protestou suspendendo as atividades do conselho bilateral.
Em maio, ambos os lados tentaram retomar as conversações, mas após a Otan ter iniciado uma manobra militar junto com a Geórgia, a Rússia se fechou ao diálogo. Ambas as partes se acusaram reciprocamente de espionagem e o clima das relações bilaterais chegou a lembrar a época da Guerra Fria.
Tensões ainda existem. Enquanto grande parte dos países-membros da Otan reconhece o Kosovo como Estado independente, a Rússia é contra a separação da antiga província sérvia.
Por outro lado, a Rússia reconheceu a autonomia da Ossétia do Sul e da Abkházia, territórios que, para a comunidade internacional, continuam pertencendo à Geórgia. E não é de hoje que os políticos russos consideram seu país ameaçado pela expansão da Otan para o Leste Europeu.
Para o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, essas divergências são justamente a principal razão para manter o diálogo e o debate no Conselho Otan-Rússia.
"Acredito que temos que travar uma discussão bem mais aberta. Nos últimos anos, vi muito mais as posições sendo recitadas do que discutidas. Vou me empenhar para que aproveitemos esse grêmio onde ele é necessário, a fim de trocarmos opiniões, por mais contraditórias que elas sejam, e de discutir o resultado também", declarou Steinmeier.
Unidos apenas contra ameaças comuns
O fato de ambas as partes terem acabado de retomar as negociações não significa que a atmosfera tenha se tornado especialmente amistosa. O que move o diálogo bilateral são sobretudo os interesses comuns.
Na opinião do ministro britânico do Exterior, David Milliband, a Europa enfrenta riscos de segurança clássicos, mas também há novas ameaças. "Esses perigos – como a proliferação de armas nucleares, o terrorismo ou até a mudança do clima – ameaçam os países europeus e a Rússia em conjunto e não isoladamente", comentou Milliband.
A Rússia já está contribuindo com a Otan no âmbito de uma ajuda logística no Afeganistão. E essa contribuição poderia ser ampliada. Além disso, a Otan espera obter o apoio russo nas operações de combate à pirataria no litoral leste da África.
Ao mencionar a proliferação de armas nucleares, Milliband está se referindo sobretudo ao Irã. Nessa questão, Otan e Rússia ainda não têm projetos concretos de cooperação. O primeiro passo no encontro de Korfu foi retomar o diálogo no ponto em que ele havia sido interrompido em agosto.
Autor: Christoph Hasselbach
Revisão: Alexandre Schossler