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Iniciativa confusa

Neusa Soliz10 de fevereiro de 2003

A eventual guerra contra o Iraque gerou uma crise entre o chanceler Gerhard Schröder e o ministro Joschka Fischer, do Exterior. A causa teriam sido declarações sobre uma "iniciativa teuto-francesa" para impedir a guerra.

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Ministro Joschka FischerFoto: AP

A Alemanha e a França não lançaram uma iniciativa comum para desarmar o Iraque por meios pacíficos, afirmou o porta-voz do governo de Berlim, Bela Anda, nesta segunda-feira (10), tentando desfazer a confusão em torno das declarações do ministro alemão da Defesa, Peter Struck, no fim de semana.

O que os dois países estão fazendo seria "afinar idéias comuns", baseadas na proposta que o ministro francês do Exterior, Dominique de Villepin, apresentou, no último dia 5, ao Conselho de Segurança. Tais idéias não fariam parte de nenhuma iniciativa do eixo Berlim-Paris, estando abertas à discussão de todos os membros do conselho. Na capital francesa, tanto a ministra para assuntos europeus, Noëlle Lenoir, como a ministra da Defesa, Michèle Alliot-Marie desmentiram a existência de qualquer iniciativa ou plano secreto dos dois países para evitar a guerra do Iraque.

O próprio ministro Struck relativou hoje as declarações que fez domingo (09), à margem da Conferência Internacional sobre Política de Segurança, em Munique, indicando que não há planos de desarmamento do Iraque através de tropas de paz da ONU. Struck havia se referido, em Munique, a uma iniciativa teuto-francesa para evitar uma guerra contra o Iraque. A iniciativa teria partido da França, sendo apoiada pelo governo alemão.

Seu objetivo seria permitir que os inspetores de armas da ONU possam examinar a fundo o programa armamentista de Bagdá. Perante as câmaras de TV, Struck não excluiu a participação de soldados alemães nas eventuais tropas de paz que iriam reforçar o trabalho dos inspetores.

Schröder desacreditou Fischer

Segundo o jornal Bild, quem ficou em maus lençóis com tudo isso foi o ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, que em Munique tratou de explicar a posição de Berlim contrária à guerra ao secretário norte-americano da Defesa, Donald Rumsfeld. Com base em fontes do governo alemão, o diário de maior circulação no país afirma que há grandes divergências entre Fischer e o chanceler federal Gerhard Schröder, na questão da "iniciativa teuto-francesa". Nem Fischer nem Schöder querem a guerra, mas o ministro do Exterior também estaria preocupado com a imagem da Alemanha no mundo, tentando não agravar a crise nas relações com os EUA.

Após o encontro com Rumsfeld, teria havido uma forte discussão entre Fischer e Schröder por telefone, segundo o jornal. O ministro do Exterior teria acusado o chefe de governo de estar por trás das declarações de Peter Struck e de desacreditá-lo ao apresentar o plano à opinião pública sem que ele tivesse sido informado previamente. Que o momento não poderia ter sido mais inoportuno demonstram as fortes reações, não apenas dos EUA como também do governo francês, negando a existência de qualquer plano secreto. O Partido Verde desmentiu que houvesse desavenças entre Schröder e Fischer por causa da política quanto ao Iraque.

Esforços fadados ao fracasso?

Oficialmente, portanto, não há um "plano" ou uma "iniciativa", mas são inegáveis os esforços dos governos francês e alemão em prol de um desarmamento pacífico do Iraque, tentando evitar uma guerra. Tais esforços estão fadados ao fracasso, pois o governo americano não vai aceitar isso, segundo o consultor do Pentágono, Richard Perle, que participou de um programa da tevê alemã na noite de domingo. O ministro britânico do exterior, Geoff Hoon, vê a Alemanha isolada na Europa, na questão do Iraque. "A única divisão existente na Europa, no momento, é entre a Alemanha de um lado e o resto, de outro", disse Hoon ao Guardian.

A presidência grega da União Européia vai convocar uma cúpula extraordinária sobre o Iraque, anunciou o ministro grego do Exterior, Giorgios Papandreou nesta segunda-feira, em Atenas. Na ocasião, serão examinadas todas as propostas com vistas a evitar uma guerra, indicou, frisando a necessidade de a UE chegar a um acordo na questão. A cúpula deve ser realizada, segundo fontes de seu ministério, na próxima segunda-feira (17), em Bruxelas.