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Inflação incentiva furtos em supermercados?

Mischa Ehrhardt
7 de outubro de 2023

Estatísticas indicam incremento de roubos no comércio em diversos países, em 2022. Há quem culpe a inflação em nível global. Varejistas reagem com mais vigilância – arriscando preços ainda mais altos.

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Mulher colocando pacote de morango dentro de bolsa no supermercado
Na Alemanha, furtos denunciados cresceram 30% entre 2021 e 2022, discrepância em inventários foi 12% maiorFoto: Robert Kneschke/Zoonar/picture alliance

Associações e empresas varejistas do Reino Unido e Estados Unidos acusam um aumento considerável dos furtos em lojas. Em alguns supermercados já se encontram queijos e carnes munidos de dispositivos de segurança, ou pacotes de café substituídos por imitações vazias.

Uma explicação possível para essa classe de roubos é o custo de vida galopante, que atualmente sobrecarrega numerosos cidadãos. O diretor financeiro da empresa varejista Associated British Foods declarou ao tabloide The Sun que inflação e alta dos preços estariam sendo para muitos um pretexto para roubar o que quiserem. Por sua vez, a diretora da cadeia de lojas de departamentos John Lewis mencionou à emissora BBC uma "epidemia de furtos".

Frank Horst, do centro alemão de pesquisas do varejo EHI Retail Institute, confirma que as cifras de roubos aumentaram enormemente em 2022, em comparação com o ano anterior. Além de um incremento de 30% dos delitos denunciados, comparando o estado teórico com o estado real dos inventários dos estabelecimentos, a instituição constatou uma discrepância em torno de 12%.

Mais segurança = preços mais altos = mais furtos?

No entanto, Horst não aceita isso como uma prova de que a inflação esteja impulsionando os delitos: devido às medidas de contenção impostas pela pandemia de covid-19, produziu-se uma espécie de queda artificial dos furtos em 2020 e 2021, explica. Assim, o aumento em 2022 não passaria de "uma volta à normalidade".

De fato, é imaginável que a alta de preços persistente impulsione mais gente a furtar, admite Horst. Porém esse efeito se notaria antes na análise do ano seguinte: portanto só ao fim de 2023 se poderá determinar se a frequência dos delitos no comércio alemão cresceu consistentemente.

No entanto ele está cético: com base em 20 anos de estudos de estatísticas de pequenos furtos comerciais, não crê que que tempos economicamente difíceis resultem automaticamente num acréscimo dos casos.

Por outro lado, notam-se na Alemanha primeiros indícios de que a inflação tenha modificado o comportamento dos ladrões, ressalva Horst: "Atualmente se subtraem mais produtos que antes não estavam na mira", como queijo, carne, embutidos ou manteiga, e "pode-se supor que isso também tenha algo a ver com a inflação e a alta dos preços".

Mas a situação alemã não se compara à de países como os EUA, por exemplo, onde a delinquência relacionada às drogas é um problema agudo e quadrilhas organizadas assaltam farmácias inteiras para obter medicamentos.

Varejistas americanos, e também britânicos reagem modernizando seus supermercados e lojas, com mais videovigilância, câmeras corporais, controles de segurança e café grátis para policiais e agentes da ordem.

Sem dúvida, tudo isso custa muito dinheiro para as empresas e, no fim das contas, poderá encarecer alguns produtos ainda mais para o consumidor empobrecido.