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Indústria da carne sofre com mudança na dieta alemã

Dirk Kaufmann
20 de junho de 2024

Consumo de carne no país europeu vem caindo constantemente nos últimos anos. Empresas do setor frigorífico enfrentam queda nos lucros e diminuição da demanda.

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Carcaças de porco penduradas em abatedouro na Alemanha
Seguindo tendência, consumo de carne no país per capita caiu 430 gramas em 2023Foto: Ingo Wagner/dpa/picture alliance

Uma das grandes empresas do setor frigorífico na Alemanha anunciou recentemente a redução de suas atividades no país. A holandesa Vion, que tem 16 abatedouros na Alemanha, pretende concentrar sua produção na Bélgica, na Holanda e em Luxemburgo. Segundo o jornal alemão Handelsblatt, especialistas avaliam que a retirada é emergencial.

E os números parecem confirmar isso. No ano fiscal anterior de 2022, o prejuízo da empresa passou dos 29 milhões de euros (cerca de R$ 168 milhões) para 108 milhões (R$ 628 milhões). Fundada há 90 anos, com foco no processamento de resíduos sólidos de abatedouros, a Vion hoje é uma das maiores empresas da indústria da carne do mundo e o terceiro maior abatedouro da Alemanha, atrás apenas da Westfleisch e do Grupo Tönnies. Nos últimos anos, a empresa atraiu muitas manchetes negativas, com acusações que vão desde falta de higiene até crueldade com os animais.

Mas não é só a Vion que sofre com a queda nas vendas na Alemanha, o problema atinge todo o setor. E um dos motivos é uma mudança no comportamento alimentar dos alemães. O consumo de carne no país europeu vem caindo nos últimos anos.

Essa mudança também foi observada pela Sociedade Alemã de Nutrição (DGE), uma organização científica e independente que realiza estudos sobre o tema alimentação e presta consultoria.

"A tendência de longa prazo de diminuição do consumo de carne na Alemanha continua. De acordo com dados preliminares do Centro Alemão de Informação para Agricultura (BZL), o consumo de carne no país per capita caiu 430 gramas em 2023, ficando em 51,6 quilos", afirma a nutricionista Silke Restemeyer, da DGE.

O Departamento Federal para Agricultura e Alimentação da Alemanha (BLE) também reconheceu essa tendência. "O volume do consumo calculado vem diminuindo ligeiramente há anos. A mudança na dieta seria um dos motivos para a queda no consumo de carne, entre outros", destacou o órgão em nota.

Menos carne e mais alternativas

Essa mudança também se reflete no mercado de produtos substitutos da carne. Almôndegas de legumes, salsicha de tofu, pato assado de glúten – a demanda por produtos alternativos à carne vem aumentando, segundo o Departamento Federal de Estatística da Alemanha (Destatis). Em 2023, o país produziu 16,6% de substitutos de carne a mais do que no ano anterior. Nos últimos cinco anos, a produção deste setor mais do que dobrou.

"É provável que uma maior conscientização sobre as consequências de um alto consumo de carne para a saúde, meio ambiente e clima desempenhe um papel importante", avalia Susanne Abe, do BLE, ao explicar a mudança na dieta alemã.

Mas não é só o comportamento alimentar alemão que está pressionando o mercado. Desenvolvimentos em outras partes do mundo também se refletem nos lucros do setor na Alemanha. Um deles é a proibição de importação imposta por alguns países asiáticos devido à peste suína africana. Muitas partes dos animais pouco consumidas na Europa eram exportadas para a Ásia, como as orelhas de porco – uma iguaria na China.

Os desafios da produção da carne de laboratório

As disputas comerciais também impactam nos frigoríficos. Nesta segunda-feira (17/06), o Ministério do Comércio da China anunciou que está analisando importações de carne suína de países europeus em uma investigação antidumping (medida unilateral, aplicada pelo país importador, ao cobrar um imposto extra sobre um determinado produto e/ou sobre uma empresa de um determinado país exportador com o intuito de tornar o seu preço mais próximo do "valor normal" ou de remover o dano aos produtos similares da indústria doméstica no país importador). Especialistas acreditam que essa seria a resposta chinesa à ameaça da União Europeia de impor tarifas punitivas a carros elétricos chineses.

Novas regulamentações

Mudanças nas regulamentações também têm um peso nesse cenário. O ministro da Agricultura da Alemanha, Cem Özdemir, já disse várias vezes que gostaria de mudar a forma da criação de animais, diminuindo o número de animais e aumentando o espaço que eles têm em criadouros. No entanto, menos animais significa menos negócios para os abatedouros.

Os números atuais do Destatis sobre produção de carne na Alemanha mostram que o ministro está no caminho certo em seu ponto de vista. Em 2023, a produção de carne no país caiu 4% em relação ao ano anterior – cerca de 280 mil toneladas a menos, ficando em 6,8 milhões de toneladas. Em 2016, a produção anual chegou a 8,25 milhões de toneladas.

Açougueiros alemães temem que outros países com regulamentações menos rigorosas do que as da Alemanha, da Espanha ou da Polônia, possam entrar como fornecedores e empurrar as empresas alemães ainda mais para fora do mercado.

Especialistas ouvidos pelo Handelsblatt não preveem um bom cenário para o setor. Outro concorrente de peso, o dinamarquês Danish Crown também poderia deixar a Alemanha em breve. A empresa, no entanto, nega ter essa intenção.

Em 2023, a Danish Crown reduziu em cerca de um terço seu volume de abate na Alemanha. "Isso foi anunciado", afirmou a empresa, destacando que o motivo para essa decisão foi a diminuição no número de animais disponíveis para o abate no país. A Danish Crown destacou ainda que passa por um processo de reestruturação. 

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