Imperador, soldado e artista
26 de setembro de 2003O último imperador alemão tinha fascinação pelos navios de guerra. Sua imagem predileta era a de belonaves fumegantes ao vento, sobre as ondas do alto mar. Este era também o motivo preferido nos seus desenhos e pinturas. "O imperador vê o mar com os olhos de um pintor e tem afinidade com ele, como um marinheiro", afirmou certa vez Hans Bohrdt, pintor oficial da corte alemã e amigo pessoal do imperador.
Também Daniel Spanke, diretor da Kunstgalerie de Wilhelmshaven, classifica o imperador como um "bom diletante". Mas explica: "A palavra 'diletante' deve ser entendida aqui no seu significado tradicional que corresponde hoje ao conceito de amador."
A própria mãe do imperador, Viktoria, que também possuía pendores artísticos, fez com que o então príncipe herdeiro do trono alemão tomasse aulas com pintores profissionais. O treinamento da habilidade com a mão direita deveria, de certa forma, compensar sua impossibilidade de utilizar o braço esquerdo aleijado.
A arte do imperador
Mas durante o seu reinado, Guilherme II praticamente não teve oportunidade de praticar o seu passatempo e de desenvolver ainda mais suas habilidades. De qualquer maneira, a sua compreensão artística não ia além da antigüidade clássica e do Renascimento. No planejamento de obras públicas, o monarca valeu-se da força política para impor suas concepções, presenteando o país com prédios pomposos. Ainda hoje, esta época da história alemã é denominada a "era guilhermina".
"Artisticamente, Guilherme II tendia para concepções conservadoras, mas possuía o dom da compreensão rápida e era capaz de desenhar navios com detalhes e perfeição técnica", afirma Daniel Spanke. Como variação, o imperador também decorou pratos de porcelana com desenhos a bico de pena, mostrando heróis gregos em combate. "O estilo quase militarista, mostrando uma espécie de estética da guerra, era uma tendência da época e não apenas uma característica de Guilherme II", esclarece Spanke.
A terrível Primeira Guerra Mundial e o fim do império alemão, com a derrubada do imperador, não mudou em nada o entusiasmo de Guilherme II pelo militarismo. "Ele continuou pintando, porém menos navios – o que decorreu provavelmente da localização do seu exílio holandês, a cidade de Doorn, no interior do país", diz o diretor da Kunstgalerie de Wilhelmshaven. Uma ou outra vez, o imperador destronado também experimentou pintar motivos menos marciais. Sua segunda esposa Hermine, por exemplo, serviu-lhe de modelo.
Despojos da história
As obras apresentadas na exposição "Imperador Guilherme II como desenhista e pintor" fazem parte do acervo de duas fundações – a Stiftung Haus Doorn e a Otto-von-Bismarck-Stiftung –, assim como de coleções privadas. "A apreciação do pintor Guilherme II sempre foi influenciada pela avaliação política da sua pessoa", diz Spanke.
Até dez anos atrás, teria sido impossível pensar numa exposição com as suas pinturas. Agora, a nova geração já não tem mais tantas reservas ideológicas contra a pessoa do ex-imperador, segundo o diretor da Kunstgalerie. Com freqüência, ele é descrito novamente como um monarca moderno. "Mas não queremos criar uma nova imagem de Guilherme II", diz o diretor do museu. "Tratamos seus trabalhos como despojos da história e os mostramos como fontes históricas, mas sempre com a necessária visão crítica do seu governo", ressalta.