Hidrelétricas são importantes para inclusão social, defende ministério
15 de junho de 2012As hidrelétricas promovem inclusão social, e a energia nuclear será a estratégia do Brasil para manter sua matriz energética limpa e renovável, explicou Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia. Ele falou à DW Brasil, durante a Conferência de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que acontece no Rio de Janeiro.
DW Brasil: O Brasil carrega a bandeira de ser o maior produtor de energia renovável, com suas hidrelétricas. Por outro lado, os projetos de construção de novas centrais na Região Amazônica são bastante criticados. O quão sustentável eles são?
Márcio Zimmermann: O Brasil seguiu o caminho que os países desenvolvidos seguiram. A Alemanha, por exemplo, desenvolveu 100% o seu potencial de hidroeletricidade. O Brasil começou a trabalhar essa matriz sob três enfoques importantes. Consideramos que a hidroeletricidade tem fator estruturante: promove inclusão social e, com uma legislação ambiental rigorosa, como a do Brasil, o país conseguiu desenvolver formas de implantar as usinas minimizando os impactos ambientais.
Somos reconhecidos, inclusive pelo Banco Mundial, por conseguirmos tornar [as usinas] ambientalmente compatíveis com as necessidades de desenvolvimento econômico-social do país. Não se pode achar que os painéis solares irão desenvolver a África. Eles podem ser uma solução para o mundo desenvolvido reduzir a queima de combustíveis fósseis: quase metade da sua produção de energia elétrica ainda provém de usinas termelétricas de carvão.
Sob qual aspecto os projetos no Brasil de hidrelétricas promovem a inclusão social? Sabemos que, na hora da construção, há pico de contratação de trabalhadores, mas depois que o projeto acaba os relatos conhecidos são sobre problemas sociais.
Temos um trabalho que foi feito há alguns anos pela Eletrobrás, em que foi feito uma comparação entre os municípios que tiveram uma hidrelétrica ao longo da história do Brasil e aqueles que não tiveram. Nessas áreas, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e todos os índices econômicos e sociais são bem acima daqueles municípios que não tiveram.
Existe o pico [de contratação] da obra. Nas regiões subdesenvolvidas, as pessoas não têm profissão. O efeito que um projeto hidrelétrico teve em Rondônia, por exemplo: só em Santo Antonio, nos últimos três anos foram capacitadas de 38 mil a 40 mil pessoas que não tinham profissão. Elas ganharam a profissão de pedreiro, marceneiro, ferreiro, técnico de informática. Você imagina que isso é um bem que ficou na região. Você ajuda a formar essa mão de obra e faz a contratação local. Em países de baixo desenvolvimento econômico, isso tem um efeito muito grande.
Estive com a presidente Dilma em Moçambique, e o Brasil levou essa experiência de projetos estruturantes. Uma companhia do Brasil, que tem um projeto de mineração, pegou essa experiência e contratou mão de obra local nesse projeto de 9 bilhões de dólares que ela estava implantando. Esse efeito da hidroeletricidade que estou falando é permanente, é um ganho.
Nesse contexto de discussão de desenvolvimento sustentável aqui da Rio+20, como o senhor comenta o fato de o Brasil planejar outras quatro centrais nucleares? Angra 3 pode sair até com garantia de financiamento do governo alemão, o que é motivo de polêmica naquele país.
A Alemanha deu um apoio muito forte para Angra 2 entrar em operação. O Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo. Em Copenhague, o país assumiu um compromisso que nem outro assumiu e transformou isso em lei: que nós iremos continuar com essa matriz limpa e renovável.
Temos hoje um nível de emissões da área de energia da ordem de 18%. Queremos manter esse patamar. No mundo, esse índice é bem maior – na União Europeia, por exemplo, chega a 74%.
Na próxima década, à medida que vamos nos aproximando do esgotamento do potencial hidrelétrico, cria-se um desafio. Vamos continuar tendo uma matriz limpa e renovável, e quando falo em matriz limpa, a nuclear é uma alternativa.
Entrevista: Nádia Pontes, Rio de Janeiro
Revisão: Carlos Albuquerque