Fundação Kadafi indeniza vítimas de atentado
11 de agosto de 2004A Fundação Internacional Kadafi resolveu pagar 35 milhões às vítimas do atentado cometido contra a discoteca La Belle, em Berlim, há 18 anos: não como reconhecimento de culpa, mas como gesto humanitário. Imediatamente após o anúncio, a fundação dirigida pelo filho de Kadafi exigiu reparação pelos ataques aéreos norte-americanos contra Trípoli e Benghazi, dez dias após o atentado contra a La Belle. O bombardeio causou a morte de 41 pessoas e deixou mais 222 feridas. Mas o plano do presidente norte-americano na época, Ronald Reagan, que pretendia depor Kadafi, acabou fracassando. Kadafi escapou por pouco, sua filha adotiva morreu e seus dois filhos ficaram gravemente feridos.
Reparação em etapas
Mas Kadafi não se deixou intimidar. Resistiu dez anos de isolação quase absoluta. Um embargo norte-americano de petróleo já existia desde 1982; depois veio a pressão por parte dos europeus, que queriam obrigar o governo em Trípoli a extraditar dois líbios acusados de envolvimento no atentado contra um avião da PanAm sobre Lockerbie, Escócia, em 1988. Dez anos depois, Kadafi deu o primeiro passo ao encontro do Ocidente: após demoradas negociações, ele finalmente permitiu que os suspeitos fossem julgados na Holanda segundo o direito escocês.
Há quase um ano, foi anunciada a ruptura: 2,7 bilhões de dólares para os familiares das 270 vítimas do atentado de Lockerbie. Em janeiro, seguiu a reparação do atentado contra um avião francês com 170 passageiros a bordo, derrubado em 1989 sobre Níger. Surpreendentemente, Kadafi permitiu em dezembro passado a entrada de inspetores internacionais, que acabaram constatando a existência de armas químicas e de um programa nuclear no país. Os armamentos ainda estão sendo destruídos.
O acordo líbio-alemão sobre a indenização das vítimas da discoteca La Belle foi o penúltimo passo para sair da isolação. Agora só falta a indenização dos familiares dos dois soldados norte-americanos que morreram na discoteca em Berlim e dos feridos americanos.
Motivações de Kadafi
As razões de Kadafi se abrir para o Ocidente são controversas. O governo dos EUA atribui a mudança da política líbia ao exemplo da guerra do Iraque. No entanto, as negociações sobre o atentado de Lockerbie começaram antes do ataque contra Saddam Hussein. A decadência econômica da Líbia parece ser uma razão mais plausível. A situação política interna poderia vir a colocar em jogo o poder inabalável que Kadafi conseguiu manter quase 35 anos. Sobretudo entre os estudantes e os religiosos do país já se propagou uma certa inquietude.
Além disso, Kadafi viu suas visões fracassarem uma após a outra: a idéia do socialismo islâmico se mostrou pouco realista, a União Árabe, uma meta herdada do antigo presidente egípcio Nasser, não pôde ser realizada. E também a União Africana, na qual Kadafi sempre teve sua função, não apenas como financiador, acabou não se tornando o lobby que ele planejava.
A decisão de terça-feira, por outro lado, tem chances de dar frutos: uma aceitação da Líbia no pacto de parceria mediterrâneo é tão viável como a ampliação das relações econômicas entre a Líbia e a Alemanha. O chanceler federal Gerhard Schröder já anunciou que fará uma visita a Trípoli em breve.