1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

França prende ex-integrantes de grupos de esquerda italianos

28 de abril de 2021

Membros de grupos radicais como as Brigadas Vermelhas foram condenados por sequestros e assassinatos cometidos na Itália entre os anos 70 e 80. Postura francesa marca mudança em antiga política de refúgio.

https://p.dw.com/p/3shYd
Policial aparece no meio de duas viaturas da polícia francesa. Prisão de ex-membros de grupo extremistas ocorreu após pedido do governo da Itália
Prisão de ex-membros de grupo extremista ocorreu após pedido do governo da ItáliaFoto: picture-alliance/NurPhoto/J. Mattia

Autoridades francesas prenderam nesta quarta-feira (28/04) cinco ex-membros da organização Brigadas Vermelhas e dois indivíduos que pertenceram a outras duas antigas facções de extrema esquerda. Todos foram condenados na Itália por atos de terrorismo cometidos nos anos 1970 e 1980.

O presidente francês, Emmanuel Macron, autorizou a detenção de dez ex-membros de antigos grupos radicais de esquerda, dos quais três ainda são procurados, informou o Palácio do Eliseu em nota. A ação ocorreu a pedido do governo italiano.

A França serviu durante muitos anos como refúgio para os membros da organização, devido a uma política estabelecida pelo ex-presidente François Mitterrand que era motivo de tensões entre Paris e Roma.

A chamada Doutrina Mitterrand, de 1985, garantia asilo na França aos extremistas que renunciassem a violência e que não estivessem sendo procurados na Itália por assassinato e outros crimes violentos - no entanto, isso nem sempre foi cumprido.

O governo francês afirma que ainda defende a Doutrina Mitterrand, mas ressaltou que as prisões e extradições foram necessárias e integram esforços para resolver as tensões de longa data entre os dois países. "A França, também afetada pelo terrorismo, compreende a necessidade absoluta de fazer justiça às vítimas”, diz o comunicado.

Entre os detidos estão os ex-membros das Brigadas Vermelhas Roberta Cappelli, Marina Petrella, Sergio Tornaghi, Giovanni Alimonti e Enzo Calvitti. Giorgio Pietrostefani, fundador do grupo Luta Contínua; e Narciso Manenti, ex-integrante dos Núcleos Armados do Contrapoder Territorial também foram presos.

Ainda são procurados Luigi Bergamin, Maurizio Di Marzio e Raffaele Ventura.

Bergamin é um dos ideólogos do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), do qual fazia parte o ex-terrorista Cesare Battisti, e foi condenado a 17 anos e 11 meses de cadeia pelo homicídio do açougueiro veneziano Lino Sabbadin.

Já Giorgio Pietrostefani, cofundador da organização extraparlamentar de extrema esquerda Lotta Continua, foi condenado a 22 anos de prisão por seu papel no assassinato do comissário da polícia de Milão Luigi Calabresi, em 1972.

Grupo raptou e matou ex-primeiro-ministro

Grupos ultraesquerdistas como os Brigadas Vermelhas geraram caos na Itália durante o período conhecido como "anos de chumbo”, desde o final dos anos 1960 até a metade dos anos 1980. As Brigadas Vermelhas, grupo mais conhecido entre as facções da esquerda radical, foi acusadoade centenas de assassinatos, incluindo o sequestro e morte do ex-primeiro-ministro democrata-cristão Aldo Moro, em 1978.

A presença de ex-membros dessas brigadas na França, que são procurados pela Justiça italiana por acusações de crimes violentos, se tornou um incômodo entre os dois países durante décadas.

Brigadas Vermelhas sequestraram e mataram o ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro. Imagem em preto e branco mostra Moro em frente a uma bandeira das Brigadas Vermelhas, após ser raptado
Brigadas Vermelhas sequestraram e mataram o ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro.Foto: AFP/Getty Images

Em 2019, um pedido de extradição foi feito pelo então ministro do Interior Matteo Salvini. O populista de direita disse que escreveu a Macron pedindo que pusesse fim à liberdade dos ex-terroristas de "beber champanhe livremente”.

Aquele era um momento turbulento nas relações diplomáticas, com o partido eurocético e ultradireitista de Salvini integrando a coalizão de governo. Entretanto, o atual primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, é um aliado de Macron na defesa da União Europeia (UE), o que deve ter influenciado na autorização da prisão dos ex-ativistas.

Draghi se disse satisfeito pela decisão francesa de realizar as prisões e ressaltou que essas pessoas "são responsáveis por crimes muito graves de terrorismo que deixaram uma ferida ainda aberta”. "A recordação desses atos de barbárie continua viva na consciência dos italianos”, declarou.

O ministro italiano do Exterior, Luigi Di Maio, disse que as detenções resultaram da cooperação entre as autoridades de ambos os países.

Entre os detidos está Marina Petrella, de 67 anos, cuja extradição foi impedida em 2008 pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy depois da intervenção de sua esposa, a italiana Carla Bruni. Petrella, que naquele ano sofria problemas de saúde, foi condenada na Itália à prisão perpétua por assassinato. A decisão de Sarkozy gerou indignação em Roma.

Sua advogada condenou a prisão. "Desde os anos 1980 essas pessoas estão sob a proteção da França. Refizeram sua vida aqui durante 30 anos á vista e com o conhecimento de todos, com filhos e netos. E agora vieram buscá-los no meio da madrugada, 40 anos depois dos ocorridos”, criticou.

Entre os demais membros das Brigadas presos na França estão Roberta Cappelli, de 66 anos, Narciso Manenti, de 64, e Sergio Tornaghi, de 63, todos condenados à prisão perpétua por crimes associados ao terrorismo.

Caso Battisti

No início de 2019, o italiano Cesare Battisti, ex-membro da guerrilha de esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), foi extraditado da Bolívia para a Itália depois de viver no Brasil por vários anos. Antes disso, ele também havia vivido na França.

O ex-militante foi detido em Santa Cruz de la Sierra por uma equipe de agentes italianos e brasileiros. Battisti escapou da prisão na Itália em 1981, enquanto aguardava julgamento por quatro homicídios supostamente cometidos entre 1977 e 1979.

Na década de 1990, foi condenado à prisão perpétua à revelia. Depois de finalmente ser preso, ele confessou envolvimento  nos quatro assassinatos