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CriminalidadeFrança

França lança operação contra islamistas

19 de outubro de 2020

Ação que visa desestabilizar redes radicais é resposta a assassinato de docente de História, morto por mostrar caricatura de Maomé em classe. Quinze suspeitos ligados ao crime já foram detidos.

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Manifestante segura cartaz com a frase "Eu sou Samuel"
Milhares saíram às ruas da França em homenagem a professor que foi decapitadoFoto: Michel Euler/AP Photo/picture-alliance

A polícia francesa realizou nesta segunda-feira (19/10) várias operações policiais contra redes islamistas em reação à morte de um professor que foi decapitado num subúrbio de Paris na última sexta-feira, após mostrar uma caricatura do profeta islâmico Maomé em sala de aula.

Segundo o ministro francês do Interior, Gerald Darmanin, as operações tiveram como alvo "dezenas de indivíduos" ligados ao movimento islamista. Ele acrescentou que mais ações policiais serão realizadas nos próximos dias. Darmanin afirmou ainda que não haverá "um minuto de trégua para os inimigos da República".

O ministro ressaltou que as operações não visam "necessariamente indivíduos ligados à investigação" do assassinato do professor. Ele acrescentou também que mais de 80 investigações foram abertas por discurso de ódio na internet após o crime.

Darmanin afirmou que pretende ainda proibir associações que tenham ligações com o movimento islamista, como o Coletivo contra a Islamofobia na França (CCIF), que alega monitorar ataques contra muçulmanos.

Já no âmbito da investigação do assassinato do professor, 15 suspeitos foram detidos, incluindo quatro estudantes que teriam ajudado o agressor a identificar a vítima em troca de pagamento.

O professor de História Samuel Paty, de 47 anos, foi decapitado na tarde de sexta-feira próximo à escola em que lecionava, no subúrbio de Conflans-Sainte-Honorine, no oeste de Paris.

O autor do ataque, um refugiado de nacionalidade tchetchena de 18 anos, foi morto a tiros pela polícia. Segundo testemunhas, o assassino teria gritado "Allahu Akbar" ("Deus é grande" em árabe), ao ser abatido a 200 metros do local.

Paty vinha sendo alvo de ameaças na internet por ter mostrado uma das caricaturas de Maomé, originalmente publicada no Charlie Hebdo, durante uma aula sobre liberdade de expressão. O representante de uma associação de pais de alunos relatou que o docente teria "convidado os alunos muçulmanos a deixarem a classe", pois iria mostrar a imagem.

Entre os detidos estão o pai de uma estudante que chegou a lançar apelos online por uma "mobilização" contra o professor, diversos integrantes da família do assassino e um conhecido radical islamista.

De acordo com Darmanin, o pai da aluna e o radical lançaram uma fatwa (sentença religiosa) contra o professor.

O presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu nesta segunda-feira com a família de Paty, que será homenageado na quarta-feira durante uma cerimônia na Universidade Sorbonne. "O medo está prestes a mudar de lado", afirmou Macron no domingo após uma reunião com os ministros para discutir a resposta ao ataque.

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, anunciou ainda medidas para combater a propagação de mensagens de ódio na internet e fortalecer a vigilância dos serviços de inteligência nas redes sociais, assim como aumentar a segurança de funcionários e de estabelecimentos escolares.

O assassinato ocorreu três semanas depois de um ataque à antiga redação do Charlie Hebdo, em Paris. Em 26 de setembro, um muçulmano de origem paquistanesa feriu duas pessoas nas proximidades do local onde ficava a redação. À polícia, ele disse que estava furioso com as caricaturas de Maomé que o jornal publicou, algo considerado uma blasfêmia por islâmicos radicais.

O ataque em 2015 perpetrado no mesmo local também fora motivado pelas caricaturas publicadas pelo veículo. A chacina deixou 12 mortos.

CN/dpa/afp/efe/lusa