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Filme sobre a Copa mostra bastidores da seleção alemã

Geraldo Hoffmann5 de outubro de 2006

Documentário "Alemanha – um conto de verão", do ex-jogador Sönke Wortmann, apresenta o Mundial 2006 na perspectiva da seleção anfitriã, mas poupa cenas da festa internacional da torcida.

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Diretor Sönke Wortmann centrou o foco na equipe alemãFoto: AP

O filme Deutschland – Ein Sommermärchen (Alemanha – um conto de verão), em cartaz nos cinemas alemães a partir desta quinta-feira (05/10), focaliza a magia do momento na seleção alemã de futebol e reaviva na memória a transformação do país anfitrião durante a Copa 2006.

O diretor Sönke Wortmann realizou o projeto, cujo nome é uma alusão à poesia Deutschland – Ein Wintermärchen (Alemanha – um conto de inverno) de Heinrich Heine (1797-1856), com boas credenciais. Ex-jogador de futebol, ele já havia dirigido O Milagre de Berna (2003), sobre a conquista do primeiro título mundial pelos alemães em 1954, um fato que marcou o renascimento da nação no pós-guerra.

O próprio diretor admitiu que, sem esta "carta de apresentação", não teria obtido a confiança dos jogadores para filmar onde as câmeras de TV normalmente não chegam: nos vestiários.

O resultado é um documentário sobre o estado de espírito da seleção alemã, que chegou desacreditada ao torneio, mas, "incendiada" pelo técnico, conseguiu superar todas as expectativas e levar 80 milhões de torcedores à euforia.

Fim do sonho, início do filme

WM Fußball Deutschland Italien Reaktionen Michael Ballack
Capitão Michael Ballack chora após a derrota para a ItáliaFoto: AP

A primeira cena do filme mostra o time no fundo do poço, após a derrota por 2 a 0 para Itália nas semifinais. Esgotados, tristes, calados, os jogadores – alguns chorando – reconhecem que o sonho acabou. Nem o presidente alemão Horst Köhler ou a chanceler Angela Merkel, que passam pelo vestiário, conseguem consolar os derrotados.

Nos 108 minutos seguintes, vê-se uma retrospectiva, desde os preparativos da equipe na Sardenha (Itália), cenas do "nacionalismo positivo" que inundou o país até a conquista do terceiro lugar, com a vitória de 3 a 1 sobre Portugal. Uma conquista que revela a essência do sistema de treinamento do técnico Jürgen Klinsmann: motivar a equipe, mesmo após uma derrota.

A polêmica rivalidade entre os goleiros Oliver Kahn e Jens Lehmann também é abordada. Há ainda cenas cômicas, como por exemplo, a inibição sentida pelo atacante Neuville na coleta de urina para o teste antidoping sob olhar dos fiscais da Fifa, ou as brincadeiras dos "moleques" Schweinsteiger e Podolski.

Discurso agressivo com sotaque

Trainer Klinsmann feuert an Stadion WM 2006 Eröffnungsspiel Deutschland - Costa Rica 09.06.06 München
Klinsmann 'empurrou' a seleção com vocabulário agressivoFoto: AP

Já as preleções de Klinsmann, com forte sotaque suábio, mostram que ele entendia pouco de tática, o que ficava a cargo de seu auxiliar e sucessor Joachim Löw. O discurso usado pelo técnico para motivar a equipe antes de pisar no gramado beira à agressão ao adversário.

Possesso pela meta de conquistar o título, Klinsmann usou um vocabulário agressivo, que quase chegou a contradizer o slogan da Copa – "O mundo entre amigos". Derrotar o adversário a "soco" ou "varrê-lo" do gramado foram expressões que usou – em sentido figurado. "Eles estão com as costas contra a parede. E nós vamos empurrá-los através da parede", disse antes do jogo contra a Polônia.

Ode à equipe

Wortmann mostra os lances dos gols da Alemanha na Copa em câmara lenta, dando tempo para o torcedor revivê-los com toda emoção. À exceção de uma discussão sobre a festa final no Portão de Brandemburgo, não se vê cenas de desentendimento no time.

No filme, todos parecem trabalhar em função do espírito de equipe, inclusive o diretor. Ele vestiu a camisa da seleção para, como disse, "circular discretamente entre os jogadores". A festa internacional promovida pelos alemães durante o Mundial aparece relativamente pouco na tela. O torcedor – ator principal da Copa tecnicamente fraca – é visto quase exclusivamente pelo olhar dos jogadores.

Críticas

Premiere des Films Deutschland - Ein Sommermärchen von Soenke Wortmann
Jogadores Podolski e Odonkor (d) na pré-estréia do filmeFoto: AP

Este é um ponto que já foi criticado na aplaudida pré-estréia, no feriado da reunificação alemã (03/10), que contou com a presença de quase toda a seleção da Copa. Só Klinsmann, Kahn e Asamoah faltaram à apresentação do filme em Berlim.

Uma outra crítica é mais de ordem técnica. Em O Milagre de Berna, na falta de material de arquivo, Wortmann recorreu à reconstrução e à imitação para produzir um sucesso de bilheteria. Talvez, alguns espectadores tenham esperado algo semelhante de Alemanha – um conto de verão. Mas o que se vê na tela não é poesia nem ficção. Só a incrível harmonia parece ter algo de encenação.

Wortmann mostra quase tudo dos bastidores da seleção alemã. Não teve o objetivo de narrar a história da Copa 2006, sequer mostra a disputa da final. Também não oferece um palco para lavar roupa suja. Isso não caberia num conto. Mesmo assim, quem gosta de futebol, vai gostar do filme.