Explosões matam dezenas na chegada de novo governo ao Iêmen
30 de dezembro de 2020Pelo menos 22 pessoas morreram e 50 ficaram feridas nesta quarta-feira (30/12), segundo cifras oficiais, durante um ataque no aeroporto de Aden, no Iêmen, pouco depois da chegada de um avião da Arábia Saudita, trazendo ministros do recém-formado governo de união nacional, que tem participação de integrantes separatistas do sul do país.
Foram ouvidos barulhos de explosões e disparos de armas de fogo no aeroporto no momento do desembarque das autoridades na atual capital temporária do Iêmen.
O governo iemenita internacionalmente reconhecido, cujos membros escaparam ilesos do ataque, atribuiu a autoria do ataque a insurgentes houthis.
Testemunhas disseram que duas explosões aconteceram no terminal principal, e uma terceira detonação ocorreu na entrada do aeroporto, no momento do desembarque dos passageiros do voo que trazia de Riad, na Arábia Saudita, os ministros do novo governo formado em 18 de dezembro.
As imagens mostram que as explosões ocorreram quando os ministros estavam desembarcando do avião. Após o barulho de detonação, são vistas colunas de fumaça do terminal do aeroporto, um grande buraco no asfalto causado por uma das explosões e várias pessoas deitadas no chão na entrada do terminal.
Segundo incidente
Várias horas depois, houve uma outra explosão perto do palácio presidencial de Mashiq, para onde o primeiro-ministro Maeen Abdulmalik, novos membros do gabinete e o embaixador saudita haviam sido levados às pressas após o primeiro ataque. Não houve informação imediata sobre vítimas e feridos neste segundo incidente.
O Ministério do Interior do Iêmen disse em comunicado que está trabalhando com a coalizão internacional de países árabes que apoiam o governo em sua luta contra os houthis "para determinar o tipo desses projéteis e para saber a extensão dos danos causados pelo impacto".
Na nota, a pasta indicou que "o número de fatalidades do ataque ao aeroporto de Aden foi de 22, e outras 50 pessoas foram feridas, incluindo civis, trabalhadores do aeroporto e pessoas que vieram ao encontro do governo legítimo".
O primeiro-ministro Maeen Abdelmalik Saeed condenou no Twitter "o covarde ato terrorista" e o considerou "parte da guerra travada contra o Estado iemenita e seu grande povo".
O ministro da Informação do Iêmen, Muammar al-Eryani, acusou diretamente os rebeldes houthis e disse que o que aconteceu não impediria os membros do governo de cumprir seu "dever nacional", pois seu "sangue e alma não são mais preciosos do que o dos iemenitas".
Ninguém se responsabilizou imediatamente pelo ataque. O governo liderado pelos houthis, que controla parte do oeste e norte do país – incluindo a capital, Sana, de onde expulsou o presidente Abdo Rabbo Mansour Hadi em 2014 –, nevou envolvimento no incidente.
O enviado especial da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths, condenou o ataque e lamentou as mortes e ferimentos sofridos por "muitos civis inocentes".
"Este ato inaceitável de violência é uma lembrança trágica da importância do rápido retorno do Iêmen ao caminho da paz", declarou.
O governo dos Emirados Árabes Unidos, que apoia os separatistas do sul do Iêmen, também condenou o ataque.
Guerra no Iêmen
A guerra do Iêmen coloca os houthis, movimento xiita apoiado pelo Irã, contra o governo internacionalmente reconhecido de Mansour Hadi, que é apoiado por uma coalizão de países árabes liderada pela Arábia Saudita, mas que também teve que enfrentar separatistas do chamado Conselho de Transição do Sul (CTS), grupo de milícias que buscam restaurar a independência do sul do Iêmen – que existia de 1967 até a unificação, em 1990. O CTS é apoiado pelos Emirados Árabes Unidos e havia declarado um governo autônomo em Aden no início deste ano.
O governo legítimo e o CTS assinaram em novembro de 2019 um acordo de cessar-fogo e de formação de um governo conjunto. O cumprimento do pacto foi adiado até 18 de agosto, quando o presidente, exilado na Arábia Saudita, anunciou a formação de um governo cujo gabinete de 24 membros inclui cinco ministros dos separatistas.
O novo gabinete foi empossado na Arábia Saudita no sábado pelo presidente Mansour Hadi, representando uma frente conjunta contra os insurgentes houthis apoiados pelo Irã.
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