Exigência de máscara no comércio provoca debate na Alemanha
7 de julho de 2020Uma bela camiseta, um par de sandálias ou um calção de banho? Se você ainda precisa de roupas de verão, fica a dica: as ruas comerciais da Alemanha são um destino a se considerar atualmente. Nas vitrines, cartazes grandes, vermelhos em sua maioria, tentam atrair clientes com a palavra "sale" (liquidação). Nada atípico para um mês de julho. Todos os anos, nesta época, há uma batalha de descontos no comércio de roupas para limpar as prateleiras e abrir espaço para as coleções de outono. Mas 2020 não é um ano qualquer.
Onde, via de regra, apenas itens residuais costumam ser vendidos nesta época, os estoques estão cheios no momento. Durante o lockdown, os consumidores não eram autorizados a entrar nos estabelecimentos – agora muitos não querem. As pessoas aprenderam que o risco de infecção é maior em ambientes fechados e, embora as regras de higiene das mãos e uso de máscara ofereçam proteção, quase ninguém quer ficar em uma loja mais tempo do que o necessário.
Muitos perderam a vontade de ir às compras
Roupa, em particular, é algo que raras vezes se compra de maneira firme e decidida. Por trás da própria expressão "ir às compras", há toda uma ideia de descontração e lazer, sendo um passeio pelas lojas normalmente encarado como um evento e não uma obrigação. As lojas vivem desse aliciamento ao consumo. No momento, porém, queixas feitas à Associação de Varejistas Alemães (HDE) indicam que a pandemia da covid-19 fez com que, infelizmente, flanar pelas lojas e boutiques ficasse menos atraente.
Enquanto o comércio de alimentos e de remessas online vêm fazendo bons negócios, as vendas do setor têxtil e de confecções caíram de uma forma tão abrupta nos últimos dois meses que um terço dos varejistas vê agora sua existência ameaçada.
Para a HDE, a culpa está, acima de tudo, na exigência de proteção nasal e bucal dentro das lojas. "A obrigação de usar uma máscara é um obstáculo ao desejo de fazer compras", disse um porta-voz da HDE à DW.
Coceira no rosto
De fato, não é nada agradável passear pelas lojas alemãs no verão com uma máscara. Ar condicionado é uma raridade nas lojas do país. Sob a máscara, o rosto sua rapidamente e a pele começa a coçar. O que poderia ser mais natural do que querer voltar depressa para a rua, onde se pode enfim tirar a máscara?
A HDE, portanto, aplaude o fato de alguns políticos estarem discutindo a abolição do requisito de máscara dentro das lojas em regiões com baixo número de infecções. É isso que defendem os ministros da economia de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e da Baixa Saxônia, com apoio do FDP (Partido Liberal Democrata).
O governo federal deve "trabalhar em conjunto com os varejistas a fim de desenvolver critérios universais para um cenário de cessão do uso compulsório de máscara de forma regionalmente diferenciada", disse Michael Theurer, vice-líder do FDP em Berlim, acrescentando que a exigência da proteção facial não pode cair da noite para o dia. "Mas ela também não pode ser mantida indefinidamente e sem diferenciação regional".
A chanceler permanece firme
Tal opinião não parece ser compartilhada pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, que é totalmente contra a abolição do requisito da máscara. "Em todos os lugares onde não se pode garantir o distanciamento mínimo na vida pública, as máscaras são um meio importante e, conforme os conhecimentos atuais, ainda indispensável", disse o porta-voz do governo, Steffen Seibert. Segundo ele, isso é necessário "para manter baixos os números de infecções e proteger ao próximo e a nós mesmos".
Tal medida é particularmente importante nas férias de verão que estão em andamento, diz Seibert. "Até mesmo regiões que vinham registrando um número relativamente baixo de casos recebem agora um afluxo de outras partes do país". A nova mobilidade, porém, é bem-vinda para Seibert. "Mas isso tem que andar de mãos dadas com a observância das regras que tanto nos ajudaram nos últimos meses na luta contra essa pandemia, tais como distanciamento, higiene e, quando necessário, exigência de máscara".
Para a chefe da União Democrata-Cristã (CDU) – o partido de Merkel –, Annegret Kramp-Karrenbauer, a discussão sobre a abolição ocorre em momento inoportuno. Ela aponta que mais e mais pessoas têm andado sem máscaras, e, por isso, uma suspensão passaria a "mensagem errada".
Essa também é a opinião de seu secretário-geral, Paul Ziemiak, que novamente acusou o governo do estado de Berlim de não se empenhar na observância do requisito no transporte público local. Em defesa da proteção facial, Ziemiak garante: "Usar máscara é sexy".
Decisão final cabe aos estados
De acordo com a Lei de Proteção contra Infecções, a última palavra, na Alemanha, não é do governo federal, e sim das administrações estaduais. Mas atualmente a maioria rejeita a abolição. O governador da Baviera, Markus Söder (CSU), por exemplo, enfatizou que a máscara é "um dos poucos instrumentos existentes no que diz respeito à proteção contra o coronavírus" e a obrigação de usá-la se consolidou na vida cotidiana.
A governadora da Renânia-Palatinado, Malu Dreyer (SPD), concorda. "As máscaras representam um pequeno esforço com um grande impacto e, aliadas a restrições de contato e altos padrões de higiene, são uma ferramenta importante e também cientificamente comprovada na luta contra o vírus". Declarações semelhantes ecoaram de Baden-Württemberg, Brandenburgo, Hamburgo e Schleswig-Holstein.
Uma imposição razoável
O copresidente do Partido Social-Democrata (SPD), Norbert Walter-Borjans, que faz parte da coalização de Merkel, disse concordar com a chanceler federal sobre o uso de máscaras nas lojas ser "uma imposição", ressaltando, porém, que se trata de "uma imposição razoável". O ministro federal da Saúde, Jens Spahn, também pede cautela. "Entendo a impaciência e o desejo de volta à normalidade. Mas o vírus ainda está lá."
Esse também é o alerta dos epidemiologistas, que repetidamente insistem que não apenas as máscaras cirúrgicas, mas também as comuns reduzem o risco de infectar outras pessoas. Ao tossir, espirrar ou falar, menos vírus são emitidos pelas gotículas ou pelas nuvens mais finas de aerossol.
Proteção da saúde ou interesses econômicos?
A discussão sobre a abolição da cobertura nasal e bucal nas lojas, no entanto, ainda não acabou. Muito irá depender se a disposição dos alemães em ir às compras de máscara vai ou não se recuperar.
O ministro da Economia da Baixa Saxônia, Bernd Althusmann, já avisou que seu governo continuará a recomendá-la após as férias de verão, e o mesmo foi anunciado na Saxônia. No final das contas, será uma questão de equilíbrio: algo entre a proteção da saúde e a situação econômica.
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