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SociedadeReino Unido

Ex-diretor da BBC deixa presidência de museu por caso Diana

22 de maio de 2021

Nova investigação sobre programa gravado em 1995 concluiu que a revisão interna da emissora, então liderada por Tony Hall, falhou ao não identificar "conduta desonesta" de repórter.

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Princesa Diana durante entrevista à BBC
Na entrevista, Diana fez pela primeira vez comentários públicos e francos sobre seu casamento fracassadoFoto: empics/picture alliance

Um ex-diretor da BBC criticado por ter liderado uma investigação "falha" e "ineficiente" sobre a conduta do jornalista Martin Bashir para obter uma entrevista com a princesa Diana em 1995 renunciou neste sábado (22/05) ao seu atual cargo de presidente do conselho do museu National Gallery, em Londres.

Tony Hall, que era diretor de notícias da BBC quando a famosa entrevista foi ao ar e foi diretor-geral da emissora de abril de 2013 a agosto de 2020, havia conduzido uma investigação interna sobre a conduta de Bashir, criticada por um novo inquérito independente cujo relatório final foi divulgado nesta quinta.

No comunicado sobre a decisão, Hall disse que sua permanência no museu seria "um distúrbio para uma instituição pela qual tenho imenso carinho". "Como disse há dois dias, peço sinceras desculpas pelos fatos ocorridos 25 anos atrás, e acredito que liderança significa assumir responsabilidade", afirmou.

A entrevista, na qual Diana fez pela primeira vez comentários públicos e francos sobre seu casamento fracassado, foi vista por milhões de telespectadores em todo o mundo e abalou a monarquia. Foi nela que a então princesa declarou que "éramos três neste casamento" – referindo-se ao relacionamento do príncipe Charles com Camilla Parker-Bowles.

Extrato falsificado

Chefiada pelo juiz aposentado John Dyson, a investigação independente foi aberta em novembro, a pedido da emissora, após o irmão de Diana, Charles Spencer, afirmar que Bashir usou documentos falsos e outras manobras para persuadir a princesa a aceitar dar a entrevista. Spencer alegou que Bashir mostrou extratos bancários falsos relacionados ao ex-secretário particular da irmã e a outro ex-membro da família real com o objetivo de obter acesso à princesa.

O jornalista teria pedido para um designer gráfico da BBC falsificar extratos bancários para dar a impressão que pessoas próximas à família da princesa estariam vendendo informações sobre ela a jornais. Spencer também disse que Bashir chegou a convencer Diana de que ela havia sido grampeada pelos serviços de segurança.

O relatório de Dyson concluiu que Bashir "agiu de forma inadequada e violou gravemente" as diretrizes internas da BBC, e que a investigação interna da emissora feita em 1996 havia acobertado o "comportamento desonesto" do seu jornalista. A BBC também foi questionada por que recontratou Bashir em 2016, como editor para assuntos religiosos.

Dyson apontou falhas na investigação feita por Hall, como não ter solicitado a Spencer que ele relatasse a sua versão dos fatos. Hall reconheceu que a investigação "ficou muito aquém do que era necessário" e disse que "errou ao dar a Martin Bashir o benefício da dúvida".

Pedidos de desculpas

Após a divulgação do relatório, o presidente da BBC, Richard Sharp, disse que a emissora aceita as conclusões da investigação, acrescentando que "houve falhas inaceitáveis".

Já John Birt, diretor-geral da emissora na época da entrevista, que foi transmitida no âmbito do programa de reportagens "Panorama", pediu desculpas a Spencer num comunicado. "Agora sabemos que a BBC abrigou um repórter desonesto no 'Panorama' que inventou um testemunho elaborado e detalhado, mas totalmente falso, das suas relações com o conde Spencer e a princesa Diana", disse. 

Bashir, de 58 anos, deixou a emissora na semana passada por motivos de saúde, na sequência de complicações da covid-19. O anúncio de sua saída da rede foi feito horas depois de Dyson ter entregue o relatório final à chefia da BBC. O jornalista pediu desculpas, mas disse não acreditar que as declarações falsas levaram Diana a dar a entrevista.

Críticas dos filhos de Diana

Em declaração após o anúncio das conclusões da investigação, o príncipe William, segundo na linha de sucessão do trono britânico, acusou a BBC de ter contribuído "significativamente para o medo, isolamento e paranoia" sofridos por sua mãe nos últimos anos da sua vida.

Numa declaração divulgada nas redes sociais, o primogênito do príncipe herdeiro, Charles, disse também que a entrevista foi um fator importante no afastamento dos seus pais, que estavam separados, mas não divorciados. Ele criticou ainda a emissora por sua "terrível incompetência" ao investigar a forma como Bashir obteve a entrevista, e subsequentemente encobriu as suas conclusões.

Sem citar diretamente à BBC, o seu irmão mais novo, o príncipe Harry, divulgou uma declaração na qual denuncia que os "efeitos cascata de uma cultura de exploração e práticas antiéticas acabaram por levar a vida" da sua mãe, Diana.

Henry considerou que o relatório "é o primeiro passo para a justiça e a verdade", mas mostrou-se preocupado por "estas práticas, e ainda piores, estarem hoje generalizadas" na imprensa britânica em geral. 

bl (AP, AFP, DW)