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Ex-chefe do Banco Central Europeu vê economia da UE em risco

9 de setembro de 2024

"Pela primeira vez desde a Guerra Fria, devemos realmente temer por nossa sobrevivência", diz Draghi. Ele defende nova estratégia, investimentos para aumentar competitividade e emissão de dívida conjunta.

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Mario Draghi fala ao apresentar relatório em Bruxelas
Mario Draghi: "Pela primeira vez desde a Guerra Fria, devemos realmente temer por nossa sobrevivência"Foto: Yves Herman/REUTERS

A economia europeia precisa de grandes investimentos e deve se tornar muito mais inovadora se quiser acompanhar os Estados Unidos e a China, afirma um relatório apresentado pelo ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) e ex-primeiro-ministro da Itália Mario Draghi nesta segunda-feira (09/09) em Bruxelas.

"Chegamos ao ponto onde, se não agirmos, teremos que sacrificar nosso Estado de bem-estar social, nosso meio ambiente ou nossa liberdade", alertou Draghi durante coletiva de imprensa nesta segunda. 

A União Europeia (UE) está presa numa estrutura industrial estática, escreveu Draghi no documento estratégico sobre a competitividade do bloco europeu, encomendado há um ano pela Comissão Europeia.

Para enfrentar o que ele considera um "desafio existencial", Draghi propõe uma "nova estratégia industrial" que permita agir em três frentes para melhorar a competitividade e a produtividade europeias: acelerar a inovação, reduzir os preços da energia e aproveitar as oportunidades industriais da descarbonização, além de reduzir as dependências estratégicas de terceiros e fortalecer a segurança.

No documento, Draghi afirma que são necessários investimentos adicionais mínimos anuais de 750 bilhões a 800 bilhões de euros (R$ 4,6 trilhões a R$ 4,9 trilhões), o que equivale a quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) da UE. Isso seria mais do que o dobro da ajuda do Plano Marshall após a Segunda Guerra Mundial.

Empréstimos conjuntos

Para esse fim, Draghi recomenda à UE assumir uma nova dívida conjunta, como aconteceu recentemente para ajudar as economias dos países-membros mais afetados pela pandemia de covid-19, com um pacote de ajuda financiado por empréstimos de 750 bilhões de euros.

Trata-se de uma proposta polêmica. A França e a Itália, por exemplo, a apoiam, mas outros países, como a Alemanha e a Holanda, a rejeitam por temerem serem forçadas a contribuir de forma desproporcional.

Ciente da oposição à sua proposta, Draghi ressalta que os empréstimos conjuntos só seriam possíveis se "as condições políticas e institucionais fossem atendidas".

Mesmo assim, o ex-presidente do BCE afirmou que a recomendação é justificada pelo "desafio existencial" que o bloco de 27 países enfrenta. "Pela primeira vez desde a Guerra Fria, devemos realmente temer por nossa sobrevivência, e a necessidade de uma resposta unificada nunca foi tão grande", afirmou Draghi ao apresentar o relatório.

Fraqueza em tecnologias emergentes

Seu plano de "mudança radical" contém 170 propostas, que abordam desde o setor de defesa até as metas de descarbonização.

Draghi também destaca a fraqueza da UE em tecnologias emergentes que impulsionarão o crescimento futuro: apenas quatro empresas europeias estão entre as 50 maiores de tecnologia do mundo.

Ele ressalta que a Europa já está ficando para trás em áreas como serviços em nuvem ou inteligência artificial e, portanto, considera essencial aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento e nas universidades de vanguarda, além de facilitar o crescimento de empresas inovadoras e o gerenciamento dos direitos de propriedade intelectual.

Descarbonização e energia 

O economista italiano argumenta que o processo de descarbonização deve ser uma "fonte de crescimento" e, para isso, será vital "reduzir o custo da energia para os usuários finais" – por exemplo, implementando políticas que dissociem ainda mais o preço do gás natural do preço da energia limpa.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reeleita para o cargo em julho, espera usar o relatório de 400 páginas para definir as prioridades de seu gabinete, que ela apresentará esta semana.

A UE está atolada numa estagnação econômica há um ano e meio e sofreu mais com a crise causada pela pandemia de 2020 do que os Estados Unidos.

as/ra (AFP, Efe, DPA, Reuters)