EUA e Cuba ainda estão longe da normalidade econômica
13 de agosto de 2015Nesta sexta-feira (14/08), John Kerry vai se tornar o primeiro secretário de Estado dos EUA a pisar em Cuba em 70 anos. Em Havana, ele participará da cerimônia de reabertura da embaixada dos Estados Unidos.
Depois de mais de meio século, a bandeira americana voltará a tremular na capital cubana, como símbolo da retomada das relações diplomáticas entre os dois países.
A reaproximação promete trazer benefícios à economia cubana, especialmente à indústria do turismo. O aumento no número de turistas foi visível nos primeiros quatro meses de 2015: 15% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A economia como um todo apresentou crescimento de 4,7% nos primeiros seis meses do ano, bem mais que os tímidos 1,3% registrados em 2014.
Por outro lado, a agricultura vem enfrentando problemas. As permissões para pequenos agricultores independentes e cooperativas tiveram pouco efeito, e grande parte dos produtos agrícolas continua sendo importada.
Além disso, Cuba precisa urgentemente de capital estrangeiro. A nova lei para investimentos estrangeiros está há um ano em vigor. O catálogo do governo cubano prevê investimentos de 8,7 bilhões de dólares em 246 projetos, desde a criação de galinhas até a construção de parques eólicos. Na zona franca de Mariel, a 40 quilômetros de Havana, as primeiras empresas já estão se instalando.
Outro obstáculo para o crescimento é o sistema monetário dual. A planejada união das duas moedas cubanas segue a passos lentos, pois o temor de uma inflação descontrolada é muito grande.
Concorrência por mercados
No momento, os empresários europeus e chineses são os que mais têm lucrado com a retomada das relações diplomáticas entre Washington e Havana. Contatos já existentes têm sido reforçados e novos projetos, desenvolvidos.
Empresas de turismo espanholas, como Melía Globalia, Barceló e Iberostar – que já estão presentes em Cuba – anunciaram planos de expansão na ilha. Chineses e britânicos venceram a concorrência para a construção de campos de golfe. Em maio, o presidente francês, François Hollande, visitou a ilha, acompanhado de um grupo de empresários.
Diante desse cenário, empreendedores americanos estão inquietos. Para o chefe da rede de hotéis Marriott, Arne Sorensen, com os estrangeiros investindo em peso no mercado cubano devido ao fim das restrições, "não sobrará nada para as empresas dos Estados Unidos quando as sanções forem completamente eliminadas". Neste ano, Sorensen esteve pela primeira vez na ilha cubana.
A demanda pelo fim das sanções está mais forte nos Estados Unidos. Os jornais The New York Times e Boston Globe publicaram artigos exigindo o fim do bloqueio econômico instituído em 1962. A candidata democrata à presidência, Hillary Clinton, também é a favor. Já potenciais candidatos do Partido Republicano, como Marco Rubio, Jeb Bush ou Ted Cruz, são contra.
Contudo, vários deputados republicanos, em grande parte de estados agrícolas do meio-oeste, apresentaram projetos de lei para o fim das sanções. Para eles, Cuba é um mercado interessante para os produtos agrícolas produzidos nas suas regiões.
Mas analistas acreditam ser pouco provável que as restrições a negócios entre os dois países sejam eliminadas em curto prazo. Certo é que o presidente Barack Obama continuará usando seus poderes presidenciais para afrouxar restrições a viagens e negócios, como ele, aliás, já fez.
Barreiras pendentes
Desde alguns meses, turistas americanos podem alugar habitações privadas de cubanos pelo site Airbnb. "Nunca imaginei que teríamos um mercado que crescesse tão rápido como Cuba", disse o presidente da empresa, Brian Chesky.
Outros setores, porém, continuam tendo dificuldades para se expandir. Apesar de Washington ter concedido licenças para operadoras americanas de balsas fazerem o trajeto até Cuba, Havana ainda não autorizou as viagens. No futuro, bancos americanos poderão abrir contas em Cuba, mas o governo cubano ainda não forneceu detalhes sobre o processo.
Cartões de crédito dos Estados Unidos são válidos na ilha – o problema é que ninguém pode utilizá-los, pois não foram autorizados pelo governo cubano. Além disso, Cuba não pode fazer transações em dólar justamente por causa do bloqueio americano.
Ainda há, portanto, muitos obstáculos a serem transpostos para que as empresas americanas possam conduzir seus negócios na ilha de Fidel Castro. Em junho, a consultoria Jones Lang LaSalle (JLL) aconselhou os investidores americanos a terem cautela no seus negócios cubanos.
"Constatamos que ainda há risco nessas operações", disse Steve Medwin, diretor-executivo da JLL. "Não há um sistema bancário sólido, a infraestrutura do país é reduzida e, com o embargo, os empresários americanos estão proibidos de fechar acordos com o governo cubano."
Por sua vez, o governo cubano não tem nenhum interesse em uma "terapia de choque" e está empenhado em minimizar eventuais problemas sociais oriundos da abertura econômica.
Nesta sexta-feira, a bandeira americana vai tremular sobre a embaixada dos Estados Unidos em Cuba, mas os cubanos ainda terão que esperar algum tempo para que as relações econômicas se normalizem. Sem o fim do embargo e a devolução da base militar em Guantánamo, essa normalização não acontecerá, afirmou o próprio governo cubano.