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SaúdeChina

Estudos apontam que pandemia começou no mercado de Wuhan

2 de março de 2022

Novas pesquisas sugerem que a covid-19 tenha mesmo começado no mercado de animais selvagens de Wuhan, na China. Hipótese de acidente de laboratório fica ainda mais remota.

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Close no focinho de animal em gaiola
O animal hospedeiro intermediário, por meio do qual o vírus teria infectado humanos, não foi definidoFoto: Paul Hilton/dpa/picture-alliance

O mercado de vida selvagem de Huanan, na metrópole chinesa de Wuhan, é considerado o epicentro da pandemia de covid-19. O Sars-Cov-2 provavelmente foi transmitido lá de animais para pessoas, segundo dois estudos recentes, ainda não revisados por pares.

Para alguns cientistas, a teoria mais plausível já era que a covid-19 fosse uma zoonose, uma infecção transmitida de um morcego para humanos, através de um hospedeiro intermediário nesse mercado.

No entanto, apesar da falta de evidências sólidas, persistiu a discussão de que o vírus teria escapado de um laboratório onde teria sido produzido artificialmente. 

Venda de animais vivos no mercado

Muitos dos primeiros infectados pelo vírus Sars-Cov-2 em dezembro de 2019 foram relacionados ao mercado de animais selvagens. Entretanto, permaneceu em aberto se o vírus havia saltado ali de um animal para um humano ou se já estava circulando e foi transmitido de humano para humano de forma facilitada nas multidões entre as bancas.

Os pesquisadores da primeira publicação estão bastante certos de que isso foi esclarecido. Usando todas as informações possíveis sobre residências e dados epidemiológicos, eles afirmam que as "análises fornecem evidências inequívocas para o surgimento da Sars-Cov-2 por meio do comércio de animais selvagens vivos e identificam o mercado Huanan como o epicentro claro da pandemia da Covid-19".

Grande parte das primeiras pessoas infectadas pode ser ligada à parte oeste do mercado, de acordo com o estudo. Na época do surto das infecções, animais selvagens vivos também eram comercializados lá, como mostram fotos dos visitantes do mercado publicadas na rede online chinesa Weibo, que os pesquisadores analisaram.

Entre elas estão fotos do cão-guaxinim, que o virologista Christian Drosten já desde cedo apontou como potencial hospedeiro intermediário. "Nossos próprios estudos experimentais mostram que os cães-guaxinins são suscetíveis ao Sars-Cov-2 sem ficarem gravemente doentes, mas podem passar o patógeno para os animais de contato", diz Thomas Mettenleitner, presidente do Instituto Friedrich Loeffler, o instituto federal de pesquisa em saúde animal de Greifswald, na Alemanha.

Dois cães-guaxinins
Cão-guaxinim é uma das possibilidades de hospedeiro intermediário do vírusFoto: Christina Krutz/imageBROKER/picture-alliance

As linhagens A e B

Outra pista para o mercado como ponto de partida para a pandemia é fornecida pelo genoma do vírus. Em um segundo estudo, os pesquisadores, incluindo alguns dos autores do primeiro estudo, investigaram a origem genética e a evolução do Sars-Cov-2.

Já nos estágios iniciais da pandemia, os cientistas haviam encontrado duas linhagens do vírus, linhagem A e linhagem B, nas amostras coletadas. Inicialmente, ambas se diferenciavam apenas por duas mutações, sendo que a linhagem A estava mais intimamente relacionada ao vírus encontrado nos morcegos. Enquanto isso, a linhagem B ganhou a corrida global e produziu diversas variantes.

A linhagem B foi identificada pela primeira vez em 24 de dezembro de 2019. A pessoa infectada havia visitado o mercado Huanan e todas as amostras coletadas no próprio mercado pertenciam à linhagem B.

A linhagem A foi descoberta mais tarde. Embora as amostras tenham sido coletadas nas imediações do mercado, elas não pareciam ter nenhuma conexão direta com o local.

Duas transmissões por zoonose

Os pesquisadores queriam saber por que a linhagem B foi detectada mais cedo e posteriormente determinou a pandemia, mesmo que a linhagem B esteja geneticamente mais distante do vírus no morcego do que a linhagem A.

Suas pesquisas descobriram que "os dados genômicos empíricos [são] melhor explicados por pelo menos duas transmissões zoonóticas distintas, com vírus de linhagem A e B circulando em um hospedeiro não humano", disseram os pesquisadores.

No entanto, o fato de que essa transmissão realmente tenha acontecido no mercado de animais selvagens em Wuhan não foi confirmado pelo lado chinês.

Questão do hospedeiro intermediário permanece em aberta

Em um terceiro estudo do Centro Chinês de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), também ainda não revisado, os pesquisadores examinaram o mercado de vida selvagem logo após seu fechamento em 1º de janeiro de 2020. Eles encontraram o vírus causador da covid-19 em numerosas amostras de pisos, paredes, gaiolas e lixeiras, especialmente na parte oeste do mercado, ou seja, onde animais selvagens vivos, hospedeiros intermediários em potencial, teriam sido vendidos.

Segundo o estudo do CDC, isso "indica a prevalência do Sars-Cov-2 no mercado". Assim, o local pode ter atuado como um amplificador, devido ao alto número de visitantes diários, levando a muitos clusters de infecção inicialmente identificados na primeira fase do surto". Desta forma, o mercado de vida selvagem poderia não ter sido um ponto de origem, mas uma espécie de acelerador da pandemia.

Os cientistas não detectaram quaisquer vestígios do vírus nos próprios animais examinados. As amostras vieram de gatos, cães e ratos vadios, assim como de animais mortos oferecidos para venda, diz o estudo. Os animais selvagens vivos não foram testados − nem poderiam ter sido. Eles já haviam sido removidos no momento dos testes.

No entanto, a vigilância dos animais selvagens deve ser intensificada, escrevem os cientistas chineses, "a fim de estudar os hospedeiros naturais e os hospedeiros intermediários da Sars-Cov-2".

Thomas Mettenleitner, entretanto, é cético quanto ao fato de que o hospedeiro intermediário ainda possa ser identificado. "Infelizmente, como há poucos dados concretos disponíveis desde os primeiros momentos, isso está se tornando cada vez mais difícil. Amostras muito precoces, mesmo as a partir de 2019, seriam importantes para provar a infecção em possíveis espécies transmissoras, como animais de pele, ou seja, martas ou cães-guaxinins".

Entretanto, segundo Mettenleitner, os estudos são "peças do quebra-cabeça que tornam mais provável uma transição zoonótica, do hospedeiro original, o morcego, por meio de um hospedeiro intermediário para humanos, como no caso do Sars-Cov-1".