Essebsi é eleito presidente da Tunísia
22 de dezembro de 2014O político Beji Caid Essebsi, de 88 anos, venceu a eleição presidencial da Tunísia com 55,68% dos votos, confirmou a comissão eleitoral do país nesta segunda-feira (22/12), em Túnis. Ele superou o atual presidente interino, Moncef Marzouki, no que foi a primeira eleição presidencial desde a independência do país, em 1956.
O segundo turno da eleição, no domingo, é considerado o desfecho da transição democrática da Tunísia. Em dezembro de 2010, um comerciante tunisiano ateou fogo ao próprio corpo, iniciando o que viria a ser chamado de Primavera Árabe – uma série de protestos e manifestações contra governos autoritários, principalmente na Tunísia, na Líbia, na Síria e no Egito.
Quatro anos depois, a Tunísia é considerada um exemplo e um foco de esperança para o mundo árabe: recentemente o país homologou uma constituição moderna, realizou eleições livres para o Parlamento e agora também para o cargo de presidente.
Essebsi, um veterano no cenário político da Tunísia, é o primeiro presidente eleito pelo povo tunisiano desde a independência da França, em 1956. Na época, o líder nacionalista Habib Bourguiba assumiu a presidência, posteriormente transformada em cargo vitalício. Este foi substituído, em 1987, por Zine el-Abidine Ben Ali, o ditador derrubado durante a revolta da Primavera Árabe.
Essebsi foi primeiro-ministro por um ano, após a revolução. Ele havia sido ministro do Interior, da Defesa e do Exterior Bourguiba, e depois presidente do Parlamento entre 1990 e 1991, sob Ben Ali.
Campanha teve acusações
No segundo turno, Essebsi recebeu 1,7 milhão de votos, contra aproximadamente 1,3 milhão para o concorrente Marzouki. O comparecimento às urnas foi de 60,1%. No primeiro turno, em 23 de novembro, Essebsi havia vencido com seis pontos percentuais à frente de Marzouki.
A vitória de Essebsi consolida o bom resultado obtido nas eleições legislativas por sua coligação partidária, formada por militantes de esquerda, sindicalistas, empresários e antigos membros do regime, unidos pela oposição aos islamitas do partido Ennahda. Essebsi pertence ao partido laico Nidaa Tounès.
A campanha política foi marcada por acusações e calúnias de ambos os lados. Essebsi se recusou a debater com Marzouki, chamando-o de extremista. Essebsi insistia que seu oponente representava os islamistas, argumentando que eles tinham "arruinado" o país desde as manifestações de 2011. Marzouki, por sua vez, acusou Essebsi de querer restaurar o governo deposto na revolução.
Desemprego, pobreza e violência
O novo presidente terá que enfrentar duros desafios: reestabelecer a segurança e lidar com problemas econômicos e sociais. Em comparação com dezembro de 2010, a situação da camada mais pobre da sociedade tunisiana piorou. Estima-se que 15% dos cerca de 11 milhões de tunisianos vivam em condição de pobreza.
O desemprego, especialmente entre os jovens, é elevado. Segundo a imprensa local, muitos deles boicotaram a eleição. Profissionais bem remunerados, como advogados ou médicos, muitas vezes não pagam impostos. Os cofres do Estado estão vazios – até o pagamento dos salários dos funcionários públicos esteve temporariamente ameaçado.
PV/dpa/afp/rtr/lusa