O aumento da ansiedade e da depressão nos dias atuais não é novidade. Outro dia, meu pai comentava que, quando ele era jovem, não se ouvia falar em tais transtornos – o que é interessante de analisar. Esse aumento pode ser atribuído a fatores como mudanças socioeconômicas, avanços tecnológicos e pressões da sociedade moderna.
O avanço da tecnologia e das redes sociais trouxe novas formas de interação, mas também aumentou a pressão para se encaixar em padrões irreais de sucesso e felicidade, contribuindo para o aumento do estresse e da ansiedade. Não que a depressão e a ansiedade antes fossem inexistentes; elas já existiam no passado, mas eram subnotificadas. Muitos não percebiam sua presença.
Eu, estudante de Biologia, penso sobre como a educação atual aborda esse assunto e busco entender como a educação futura pode mudar esse cenário e auxiliar mais os alunos que possuem tais transtornos. Como futuro profissional da área educacional, reconheço a importância de abordar essas questões desde cedo e fornecer apoio holístico aos alunos para que possam prosperar acadêmica e emocionalmente.
Participei de uma palestra na universidade sobre ansiedade, coordenada pela professora Michele, intitulada "Ansiedade: entender para controlar", e foi muito interessante. É enriquecedor ter esses momentos na universidade, pois ajudam a disseminar conhecimento e promover a compreensão sobre esses transtornos. Inclusive, tenho um grupo de amigos na universidade com quem me reúno regularmente. Esse tipo de iniciativa ajuda os estudantes a entender que não estão sozinhos; estamos juntos. Esses encontros são fundamentais para criar um ambiente de apoio e acolhimento.
Outra experiência marcante foi quando uma amiga teve um transtorno de ansiedade durante uma aula de embriologia. Eu notei que ela estava muito mal e perguntei se ela queria sair da sala, mas ela acabou ficando. Porém, depois daquela aula e pouco antes de uma prova prática de zoologia dos vertebrados, ela resolveu ir para casa. Isso mostra o quanto essa questão é séria e como pode impactar diretamente a vida acadêmica dos alunos.
Falta de apoio institucional
As instituições de ensino pecam muito nesse quesito e no apoio psicológico dentro das universidades. Além disso, as separações em grupos que deixam pessoas isoladas não é novidade no mundo atual. Embora algumas universidades ofereçam serviços de aconselhamento e apoio psicológico, muitas vezes esses recursos são subutilizados ou inadequadamente divulgados aos alunos. Isso pode resultar em alunos que sofrem em silêncio, sem saber onde buscar ajuda ou como lidar com seus problemas de saúde psicológica.
As instituições falham no apoio psicológico e na integração dos alunos. Recursos são subutilizados e alunos sofrem em silêncio. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o isolamento um problema de saúde pública. Eu defendo que as instituições de ensino reconhecem essa gravidade e adotem medidas para promover inclusão e apoio emocional nos campi.
A pressão para cumprir prazos e objetivos, combinada com a incerteza sobre o futuro e a solidão, contribui para o aumento da ansiedade e depressão entre os estudantes universitários. A competição acadêmica e a expectativa de sucesso intensificam esses sentimentos, adicionando uma camada extra de ansiedade à vida dos alunos.
Além disso, a transição para a vida universitária pode deixar os estudantes vulneráveis à solidão e ao isolamento social, especialmente quando se afastam do apoio familiar e das amizades estabelecidas. A falta de conexões significativas e de um sistema de apoio forte pode agravar os sintomas de ansiedade e depressão, tornando ainda mais difícil lidar com os desafios emocionais e acadêmicos.
Esses fatores não apenas afetam o bem-estar mental dos estudantes, mas também têm um impacto significativo em suas relações interpessoais. Dificuldades em fazer novas amizades, em manter relacionamentos próximos e em se comunicar eficazmente com colegas e professores podem surgir como consequências da ansiedade e depressão.
Não tem como não falar sobre o abandono universitário. A ansiedade, depressão e isolamento podem levar estudantes a largar a vida acadêmica. O peso das expectativas acadêmicas e sociais pode ser esmagador, causando declínio na saúde mental e afastamento da vida universitária.
A ansiedade constante em relação ao desempenho acadêmico, combinada com a incerteza sobre o futuro, desencadeia sintomas debilitantes de depressão. O isolamento social e a falta de suporte emocional podem exacerbar esses problemas, levando alguns estudantes a deixar a universidade em busca de cuidados externos.
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto, escrito pelo estudante de Biologia da UFV Mateus Silvestre de Freitas, de 24 anos, e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.